terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Arrumação no roupeiro


Achei oportuna a dica de uma consultora de organização: “Seu armário anda abarrotado e, apesar disso, você tem sempre a impressão de que não há nada adequado à ocasião para vestir? Com a chegada do Natal e do fim de ano, é uma boa hora de dar uma reciclada em tudo. Doe todas as peças que não usou nenhuma vez em 2009. Junte as roupas que não servem mais, os acessórios que não vale a pena consertar, o que caiu de moda e, principalmente, os itens que comprou por impulso e que não combinam com você”.

O armário de roupas, na verdade, diz muita coisa sobre nós. Ele é nossa cara. Ou melhor, é o nosso coração. E se antigamente eram pequenos, com poucos cabides, e hoje são grandes e com múltiplos compartimentos, isto já diz tudo. Nos entulhamos com coisas e ficamos sem espaço para guardar o que interessa. Por isto, se existe vontade para organizar o roupeiro, desfazer-se daquilo que é supérfluo, e doar para alguém que precisa, interessante a dica de outro consultor: “Livrem-se de tudo isto: da raiva, da paixão e dos sentimentos de ódio (...) Vistam-se de misericórdia, de bondade, de humildade, de delicadeza e de paciência” (Colossenses 3.8,12).

Estupidamente, não é só de tralhas materiais que a gente se enche durante o ano. Existem coisas que sobrecarregam o coração, que deixam o interior mofento, lugar onde as traças corroem e estragam o perfume da vida. Por isto outro recado: “Não fiquem irritados uns com os outros e perdoem uns aos outros” (Colossenses 3.13). Este é o pior badulaque do armário, o ressentimento. Ele atrapalha o dia a dia, tira o espaço da alegria. E pior, não serve para nada.

Mas isto não é fácil. Aliás, impossível quando se busca dentro do próprio roupeiro o poder da decisão e a coragem para a arrumação. O milagre vem de fora. Ou como explica o texto sagrado: “Pensem nas coisas lá do alto e não nas que são aqui da terra. Porque vocês já morreram, e a vida de vocês está escondida com Cristo, que está unido com Deus. Cristo é a verdadeira vida de vocês” (Colossenses 3.2-4). “Pensar nas coisas lá do alto” é experimentar o conselho do verso 16: “Que a mensagem de Cristo, com toda a sua riqueza, viva no coração de vocês”.

A consultora tem razão, no armário tem muitos itens comprados por impulso e que não combinam com a nossa imagem. Isto porque já deixamos de lado a natureza velha com os seus costumes e nos vestimos com uma nova natureza – a nova pessoa que Deus está sempre renovando para que fique parecida com Ele (Colossenses 3.9,10).

Dois mil e dez não é outro ano. É o mesmo armário, apenas com 365 compartimentos limpos, higienizados. O que vamos tirar e colocar em cada um deles depende mesmo do que estamos vestindo. Uma feliz nova arrumação...

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O clima de Natal



Escutei de pessoas diferentes a queixa de que já não existe clima natalino. Fiquei surpreso, afinal, nunca houve tantas melodias tocando nas ruas. Nunca houve tantos enfeites e uma variedade tão grande de presentes. Qual seria o problema?

Ultimamente tem se falado muito das mudanças climáticas. O encontro de líderes mundiais em Copenhagen centralizava esse assunto.

Muitas regiões de nosso estado sofreram destruições por causa do excesso de chuvas e pela presença de ciclones. Quem semeia ventos, colhe tempestades.

Mas, o que afeta o clima de Natal não são ventos ou chuvas, não é o aquecimento global, é sim o esfriamento do coração, é a falta de contentamento!

No coração de muitas pessoas o brilho de Natal tem perdido a intensidade, não pela falta de pisca-pisca, mas porque toda a parafernália comercial tem construído uma camada que impede que o Sol da Palavra de Deus ilumine e aqueça nossos corações.

Em nossas mentes, adornamos a Maria com seda, o José com uma túnica de costura perfeita, a manjedoura é feita em tom dourado, tudo para deixar a vitrine mais fashion, mas esquecemos a escolha de Deus, esquecemos que ele recebe os humildes e despreza os soberbos, esquecemos que ele não quis nascer em berço de ouro. No centro da festa um homem gordo e de barba comprida e alva veste roupas de frio em um calor tropical. De fato, o clima natalino sofre alterações!

Mas não podemos nos contentar em ser apenas como termômetros que sabem medir com precisão a temperatura, precisamos procurar o dom de sermos como pessoas termostatos, que são aquelas que influenciam, que mudam o clima, que trazem alegria, que geram a Paz.

Jesus veio para causar mudanças! Ele veio promover salvação! Ainda hoje se achega, vem no inverno e no verão, vem em qualquer temperatura, seja no tempo de Natal ou na Páscoa, no ano velho ou no ano novo. Ele vem.

Que Deus conceda a cada um de nós o sublime dom de receber o Cristo. Assim seremos o próprio presépio, um presépio simples, mas que traz no coração o brilho de quem tem dentro de si não apenas o Menino de Belém, mas também o Rei e o Redentor do Mundo.

Pastor Ismar Pinz
Comunidade Luterana Cristo Redentor
Pelotas - RS

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pobre criança


Crianças vítimas de todo tipo de violência viraram rotina nas páginas policias. A última e uma das mais bárbaras histórias aconteceu no interior da Bahia, quando o padrasto querendo atingir a mãe, torturava o filho dela, um menino de dois anos, aplicando agulhas com a intenção de matá-lo. Um verdadeiro rito satânico, cheio de más intenções, falta de amor e de corações carregados de podridão e pecados. Pobre inocente criança sofrendo cheia de agulhas num hospital em Salvador, longe de casa em pleno Natal!

Fatos narrados e noticiados envolvendo crianças não são novidades. Cada vez mais o ser humano se mostra menos humano e mais animal. Na semana do Natal, também nos preocupamos tanto com os rituais do Natal: a ceia, a troca de presentes, a festa em família; que ignoramos outra criança. Desconhecido naquela noite fria em Belém, prestes a nascer, sem ter onde repousar, longe de casa, o inocente Filho de Deus vinha ao encontro de pessoas sem amor, ocupadas e carregadas de pecados, nascendo no meio dos bichos.

Uma criança pode ser vista como uma intrusa, atrapalhando planos, projetos e sonhos pessoais; mas também pode ser sinônimo de vida nova, esperança e continuidade de uma história. Aquela criança rejeitada em Belém é a mesma esquecida na noite de Natal – sua festa – por nós!

A intenção de Deus em usar seu Filho era atingir todos aqueles que teriam a oportunidade de tê-la no colo, acessível – e nós hoje temos! Ele não usou agulhas, mas pregos e espinhos em uma história marcada por maldade e luta pela vida, não dele, mas de toda uma humanidade pecadora, a quem oferecia como substituto. “Ele foi rejeitado e desprezado por todos; ele suportou dores e sofrimentos sem fim. Era como alguém que não queremos ver; nós nem mesmo olhávamos para ele e o desprezávamos. No entanto, era o nosso sofrimento que ele estava carregando, era a nossa dor que ele estava suportando... nós somos curados pelo castigo que ele sofreu, somos sarados pelos ferimentos que ele recebeu” Isaías 53.3-5.

O amor incondicional de Deus por nós parece história de gente maluca e sem coração. Mas o plano de Deus em oferecer-se a si próprio atravessa os tempos e razão, comprovando que Deus se preocupa sim com pecadores. Mesmo que esqueçamos, ignoramos e “matamos” aquela criança, a promessa fica: “Eu nunca esquecerei vocês”. Tenha um Natal, com aquela criança que tudo fez e suportou por ti – Jesus o Menino-Deus. Substituto e Salvador!

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e Pastor da Igreja Luterana
Maceió - AL

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Bugigangas de Natal


Tem uma explicação bem simples para este sentimento contraditório de frustração nesta época do ano! Somos bombardeados por votos de paz, felicidade, esperança – mas não é isto que vivemos. Natal e final de ano, apesar das festas, confraternizações, presentes, comida e bebida, carrega um sentimento de vazio, solidão, perda, fome e sede... Aliás, é zona de alto risco para o suicídio. “Eu quero paz”, suplica Leila Lopes, expondo um desejo de todos. “Estou cansada, cansada da cabeça! Não agüento mais pensar, pagar contas, resolver problemas”, reclama a estrela decadente. E pior que a gente se enche cada vez mais de compras e contas, na esperança de ser feliz com as últimas novidades. Mas logo depois descobre que tudo é velho. Por isto, não adianta salvar o clima do planeta se a gente entulha o mundo e o coração com lixo, e fica vazio daquilo que nunca estraga.

Mas Natal só tem sentido onde o clima está pesado. Afinal, o Deus que nasce humano vem resgatar os flagelados. É o socorro bem aventurado, a felicidade para os pobres de espírito – os que choram, os humildes, os que têm fome e sede (Mateus 5.3-6). É a resposta para os que emitem sinal SOS: “Ó Senhor, ouve a minha oração e escuta o meu grito pedindo socorro” (Salmo 102.1). Mas escreveu o teólogo: “O Senhor Jesus veio a uma humanidade acostumada com uma profunda miséria e desgraça, e feliz numa situação em que ninguém pode ser feliz – a menos que não esteja certo da cabeça”.

Este é o problema. Não é o aquecimento da Terra pela fumaça que vai para cima. É o esfriamento do coração que impede o amor para baixo. “Aquele que é a Palavra veio para o seu próprio país, mas o seu povo não o recebeu” (João 1.11). Como se vê, o primeiro Natal não foi diferente. Não tinha bugiganga debaixo do pinheirinho, mas já havia arrogância mesmo na desgraça. Por isto a tosca estrebaria, pois não havia lugar nos lares. Por isto os campos de Belém, pois as cidades estavam apinhadas de gente atarefada. Por isto os pastores de ovelhas, pois os sacerdotes eram lobos. Por isto os reis magos bem de longe, pois as pessoas de perto viviam distantes. Natal continua isto, é presente usado, é presente descartado. “É um menino que foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação de muita gente” (Lucas 2.34).

Mas se Natal ainda existe, é porque a estrela não apagou. É porque ainda se canta “Oh! Jesus, Deus da luz, quão afável é teu coração que quiseste nascer nosso irmão para todos salvar”. É a promessa de que “Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo” (João 3.17). E se é um tempo de gente deprimida, então é a chance. Pois “no meio delas vocês devem brilhar como as estrelas nos céus, entregando a elas a mensagem da vida” (Filipenses 2.15,16).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Senhor cuida de nós


Como é bom ter alguém para cuidar da gente, que realmente se importa e tem condições de nos proteger, especialmente naqueles momentos difíceis em que desejamos compartilhar com alguém nossa angústia, nossas dores e inquietações.

O povo de Israel estava precisando ouvir uma boa notícia, pois o castigo de Deus pesava sobre eles. Deportados para a Babilônia o povo de Deus se queixava de não haver consolo nem boa notícia da parte de Deus.

Através do profeta Isaías vem a palavra de conforto que diz: “Como um pastor cuida do seu rebanho, assim o Senhor cuidará do seu povo; ele juntará os carneirinhos, e os carregará no colo, e guiará com carinho as ovelhas que estão amamentando” (Is 40.11). Deus afirma aqui que cuidará e protegerá todo o seu povo. De fato, essas promessas se cumpriram. O Senhor cuida de nós.

No Novo Testamento Jesus se apresenta como o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Jesus também cuida de nós e este cuidado atinge inclusive a nossa vida espiritual, pois precisamos ser protegidos dos ataques do Diabo, do pecado e da nossa natureza pecaminosa.

O Senhor Jesus cuida de nós. Como é bom saber que não estamos sozinhos e que podemos recorrer a Jesus sempre que desejarmos. De uma forma simples podemos orar e compartilhar nossas alegrias e angústias. Também podemos ouvi-lo pela Bíblia e ser confortados no Batismo e na Santa Ceia.

As palavras de Jesus nos consolam neste tempo de Advento, quando ele afirma que “as minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e por isso elas nunca morrerão. Ninguém poderá arrancá-las da minha mão” (Jo 10.27-28).

Oremos: Senhor meu Deus, preciso de ti tanto para os cuidados do corpo como para os cuidados de minha alma. Sei que nada mereço. Por isso, muito obrigado por cuidares de mim pela tua misericórdia e teu amor demonstrados através de Jesus Cristo. Amém.

Pastor Leonídio Schulz Görl

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Natal e o Co2 estão no ar


O natal está no ar. O CO2 também. E enquanto um se perde cada vez mais no imenso universo capitalista, tal qual o gelo que derrete oceano à dentro, o outro aumenta cerca de seis toneladas a cada dia. E nessa atmosfera cheia de encantos, jingles, ofertas, política e fumaça, estamos nós correndo alucinadamente pelos campos da vida, tentando sobreviver a mais um agitado final de ano sem que falte o peru na ceia. Será que alguém notaria se faltasse a ave, tal qual tiraram Jesus e seu presépio da decoração natalina do shopping e ninguém percebeu? Jesus não compra, não vende e nem dá lucro. Que diferença faz?


Não perceber, parece ser uma especialidade da miopia humana. O planeta está aquecendo tal qual o forno que vai hospedar a ave natalina, mas os líderes mundiais que se reuniram em Copenhaguen para a 15º Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, se negam a perceber algo que vá muito além do que seu próprio umbigo e bolso. E assim aproxima-se mais um natal: cada um querendo puxar a brasa para o seu assado e todos correndo o risco de, sem perceber, virar o assado da vez. Enquanto isto, por causa da miopia de mentes e corações fechados, “todo universo geme e sofre como uma mulher que está em trabalho de parto” (Romanos 8.22).

Mas as dores do parto, embora angustiantes, também parecem não sensibilizar o suficiente quem olha apenas para o bolso. O menino estava para nascer. Os hotéis estavam lotados e a renda garantida. Uma criança iria atrapalhar os hospedes, tal qual as metas de redução de gases atrapalham os planos de crescimento da economia capitalista! Com muito custo deram-lhe um lugarzinho na estrebaria. Nascia ali o Rei dos reis e quase ninguém percebeu. Não é de estranhar! Cada um olhava apenas para o seu umbigo. Estavam com os olhos e mentes no recenseamento ordenado pelo império, que buscava saber quantos eram e quanto possuíam. O governo interessado em arrecadar e o povo em sonegar. Quem se importaria com o que aconteceu na estrebaria? Ninguém senão uns pastores que, com fidelidade e paciência, guardavam suas ovelhas pelos campos de ar puro das noites de Belém; e os magos que viram a estrela brilhar no céu.

Mais de dois mil anos passaram e a poluição do pecado e do egoísmo continua a impedir os olhos e os corações de ver a estrela que brilhou no céu de Belém. Vem a noite de natal e a agenda está tão lotada que não há espaço e tempo para ir à estrebaria (igreja) adorar o menino-Deus. Correm freneticamente atrás de ganhar a vida, emitem poluentes e se esquecem daquele que é a vida por excelência. Sem tempo para o menino-Deus, são como o peru que se alimenta alegremente e não nota que o forno o espera. Esbaldam-se na ração do pecado e do prazer sem perceber que assim vão para o forno eterno, pré-aquecido para o diabo e os seus (Mateus 25.41).

"O relógio está zerado. Chegou a hora. Temos que transformar propostas em ações", afirmou o chefe da ONU em Copenhaguen. E para deixar o forno menos quente para a geração que vem, o ideal seria que cada um agisse agora, já á partir deste natal. Ainda bem que enquanto os homens pensam apenas em seus interesses e parece que não se importam com a próxima geração, Deus, muito antes de a terra aquecer, agiu: Amou o mundo (João 3.16) e fez o que prometeu; ainda que lhe custasse a vida: “hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o salvador de vocês – o messias, o Senhor” (Lucas 2.11). Quem nele Crê, ainda que morra, viverá! (João 11.25). Por isso, antes que a terra esquente mais “escutem o que Deus diz: hoje é o dia de ser salvo” (2 Coríntios 6.2). Eis o sentido de o natal estar no ar e no coração!

Ernani Kufeld
Teólogo e pastor da Igreja Luterana em Aracaju

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O bolo natalino no forno do efeito estufa


"O relógio está zerado. Chegou a hora. Temos que transformar propostas em ações", afirmou o chefe da ONU para o clima, no discurso de abertura na 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Disse também que o "bolo de Natal" que espera de presente está dividido em três partes: diminuição das emissões de gases; ajuda financeira aos países pobres para adaptar a economia às novas tecnologias limpas e renováveis; e cooperação entre todos os países para combater o aquecimento global.

Não posso prever o final deste encontro, mas uma coisa afirmo com absoluta certeza: ele terminará sem as ações necessárias para resolver os graves problemas do planeta. A conclusão é lógica porque ninguém vai querer dividir o bolo de Natal. Só um exemplo: de acordo com um jornal inglês, os mais de 30 mil participantes vão produzir durante os 11 dias, cerca de 41 mil toneladas desta fumaça que provoca o efeito estufa. Estima-se que 140 jatos particulares pousarão no aeroporto da cidade e 1200 limusines vão transportar os participantes durante o período – gerando uma poluição de uma cidade de 140 mil habitantes. Se o “relógio está zerado”, se a hora é agora, o exemplo não deveria vir de cima? Mas numa economia mundial viciada na fumaça do petróleo e das chaminés industriais, o tratamento é doloroso e extremamente difícil. É que o remédio exige sacrifício próprio. E muito, muito dinheiro. E como diz a Bíblia, o amor ao dinheiro é a fonte de todos os tipos de males. É o nocivo combustível que fumega no coração e solta fumaça mortal. Parece que estamos numa chaminé cheia de fuligem e sem saída.

Mas, saída existe. Está descrita nas páginas da Bíblia: “Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois sabemos que até agora o Universo todo geme e sofre” (Romanos 8.21,22). Portanto, uma solução total e definitiva através da interferência direta do Senhor que veio, que vem e que virá. Não de mãos tecnológicas da ciência humana, mas do poder divino e criador, que resgatou o mundo das conseqüências do pecado e prometeu um novo céu e uma nova terra (Apocalipse 21.1).

No entanto, a esperança cristã, focada outra vez na Festa do Natal, não autoriza a omissão e o descaso com a preservação do meio ambiente. Muito pelo contrário. Aqueles que crêem na profecia do filho da mulher que esmagou a cabeça da serpente (Gênesis 3.15) – presenteada no Deus enrolado em panos, deitado em manjedoura – têm agora o compromisso de preservar os campos de Belém. Afinal, não foi revogado o primeiro mandamento das leis ambientais que ordena: cuidarás da terra e nela farás plantações (Gênesis 2.15).

Por isto, ó Deus-Homem, ilumina os senhores do mundo e dá-nos o amor do teu sacrifício para dividir o bolo de Natal. Amém.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Preparem-se


Que eventos nós brasileiros estamos esperando para 2014 e 2016? A Copa do mundo e as Olimpíadas. Imagina se nada fosse feito até lá: se ninguém tivesse nem aí; se itens como transporte e a segurança continuassem do mesmo jeito. Imagina se os hotéis nem se preocupassem em aumentar o número de quartos; se os restaurantes, passeios turísticos, aeroportos, farmácias... São tantas coisas que precisam ser mudadas. 
 
Agora, imagina se o filho de Deus estivesse para vir e ninguém fizesse nada. Imagina se o Salvador, anunciado desde a queda em pecado, estivesse chegando para nos salvar e todos estivessem indiferentes para este fato. 

É aí que entra um personagem bíblico importantíssimo apesar de muito humilde: João Batista. Este profeta tinha como missão preparar o caminho para a vinda do Messias. Que tarefa!

Os reis de antigamente não viajavam para terras distantes sem que antes as estradas fossem arrumadas e estivessem em perfeitas condições. João Batista foi aquele encarregado de avisar o povo de que o caminho deveria estar preparado para a vinda do filho de Deus. A profecia do Antigo Testamento fala sobre esse profeta: alguém está gritando no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele! Todos os vales serão aterrados, e todos os morros e montes serão aplanados. Os caminhos tortos serão endireitados e as estradas esburacadas serão consertadas. E todos verão a salvação que Deus dá (Lucas 3, 4-6).

Esse caminho é o nosso coração que o próprio Deus prepara. A mensagem de arrependimento dada através de João Batista, um recado até duro mas cheio de esperança, prepara nossos corações, pois revela nossa pecaminosidade e também mostra a real necessidade de um Salvador. O Espírito Santo usou o servo João para dizer aos nossos duros corações que por conta própria estaríamos naufragando em nossos muitos pecados, mas que, em Cristo, nossas esperanças são renovadas. Como um caminho esburacado que foi arrumado para a passagem de um rei, o Espírito Santo aterrou nossos corações para a chegada do Rei Jesus.   

Esta é uma mensagem de alegria! Alegres e esperançosos entramos neste tempo de Advento.
Como é que nossos corações estão sendo preparados para a chegada do menino Jesus neste Natal?

Otto Neitzel
Pastor Luterano
Porto Alegre - RS

domingo, 6 de dezembro de 2009

Não acabará nunca







Milhares de casais, todos os anos, prometem diante de altares, juízes de paz e familiares, que o seu amor não acabará nunca. Vai durar até que a morte os separe.

Infelizmente, como os números e a realidade mostram, esta é uma promessa que costuma falhar. O número de divórcios todos os anos é igualmente na casa dos milhares. A promessa de que o amor não acabaria nunca às vezes é quebrada até pela mais simples queda que acontece pelo caminho.

Fato parecido acontece com amizades, sociedades, relacionamentos diários. Promessas de fidelidade, parceria e auxilio mútuos, que parecem ser duradouros, acabam balançados e até rompidos por chacoalhões da vida, à medida em que o ser humano, imperfeito, interage com outro ser humano, igualmente não-perfeito.

À luz desta realidade humana, a promessa divina salta aos olhos. “O meu amor por você não acabará nunca”. Diante de tantas quebras e rompimentos, para alguém prometer algo assim, tem que ser muito bom. Muito seguro do que está falando.

E ele é. Não apenas seguro do que fala, mas também demonstra este discurso em ações. Quando muitos já duvidavam de sua promessa de salvação, Jesus veio ao mundo como o autor dela. Quando muitos duvidavam da eficácia da obra de Cristo na sexta-feira santa, ele cumpriu as promessas e voltou a viver na Páscoa. Quando muitos ainda hoje duvidam de sua existência, ele continua a renovar suas promessas todas as manhãs, em ações e gestos que surpreendem a razão.

Um amor que nunca vai terminar. Esta promessa é de Deus para conosco. É de Cristo, o noivo, para com sua noiva, a Igreja. Nesta nós podemos confiar: vai durar a vida a toda, até que a morte nos reúna.

Oremos: Querido Deus, teu amor nunca tem fim. Ajuda-me a crer e a permanecer nesta certeza até o fim de minha vida. Por Jesus. Amém.





Pastor Lucas André Albrecht


Capelão da Ulbra


Canoas - RS

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Jesus “Frankenstein”


Estou lendo o livro “Evangelhos perdidos” de Bart D. Ehrman, escritor norte-americano especialista sobre os primórdios do cristianismo. Ele fala sobre as várias cartas e evangelhos apócrifos – obras supostamente escritas por Pedro, Tomé, Paulo e outros apóstolos. Há umas quatro dezenas deste tipo de literatura que desapareceram ou que restam apenas fragmentos – a maioria do segundo século e que forjaram um documento usando o nome dos apóstolos. Bart explica que a razão na época para este tipo de falsificação era para “atrair mentes para uma opinião”. O que acontece ainda hoje pela internet, quando artigos e poemas são enganosamente atribuídos a Luis Fernando Verissimo, Charles Chaplin, e outros famosos, tudo para garantir atenção.

Além do mais, a maioria destas “bíblias” apócrifas, ou secretas, dizia coisas diferentes às doutrinas cristãs expostas nos 27 livros canônicos do Novo Testamento. Declaravam, por exemplo, que não havia somente um Deus, mas dois, doze, ou trinta. Outros diziam que o mundo não tinha sido criado por Deus, mas por uma divindade menor e ignorante. Todos eles com influência do gnosticismo – uma filosofia da Grécia antiga que anunciava a “salvação” através da “gnosis” (conhecimento). O resultado deste cristianismo místico foi um “Jesus Frankenstein”, isto é, um Cristo apenas humano e não divino, ou apenas divino e não humano, e assim cortava a cabeça da igreja – o próprio Salvador.

O apóstolo já alertava: “Ponham à prova essas pessoas para saber se o espírito que elas têm vem mesmo de Deus; pois muitos falsos profetas já se espalharam por toda parte. É assim que vocês poderão saber se, de fato, o espírito é de Deus: quem afirma que Jesus Cristo veio como um ser humano tem o Espírito que vem de Deus” (1 João 4.1,2). E se agora chega o Natal, nada mais oportuno para os cristãos fortalecerem a fé no Jesus “Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se encarnou pelo Espírito Santo na virgem Maria e foi feito homem” (Credo Niceno).

Ainda preciso terminar o livro “Evangelhos perdidos”. Enquanto isto, assisto perplexo os políticos perdidos, escondendo dinheiro nas meias e nos bolsos. É a política apócrifa, secreta, falsa, que usa o nome do povo e até invoca Deus em oração, para enganar e roubar. Mas então lembro o Natal, tempo da justiça, e ouço o cântico de Maria com o Salvador no ventre: “Deus derruba dos seus tronos reis poderosos”. É a primeira e a última esperança.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 24 de novembro de 2009

É tempo de não esquecer


Histórias de pais que esquecem filhos dentro do carro já viraram rotina. Agora foi na cidade de São Paulo. No último dia 18 de novembro uma menina de cinco meses morreu depois de permanecer cinco horas dentro de um veículo estacionado no sol. A mãe contou na delegacia que normalmente deixava a criança numa creche e depois seguia para a escola onde largava a outra filha de 6 anos. No dia da tragédia, ela inverteu a rotina e deixou a mais velha antes, e por isso não lembrou que a outra ainda permanecia no carro. A mãe de 40 anos, gerente financeira de uma empresa, só se deu conta quando deixou o trabalho e foi para o carro. Os vidros do veículo eram escuros e ninguém na rua movimentada enxergou o bebê que agonizava.

A Bíblia pergunta: “Será que uma mãe pode esquecer o seu bebê? (...) Mesmo que isso acontecesse, eu nunca esqueceria vocês” (Isaías 49.15). Pois este “será” não é mais uma possibilidade. Este “será” já é. Vivemos o tempo do relógio sem ponteiros, que não faz barulho e assim não avisa que os dias são iguais, com a mesma duração de antigamente. Queremos tudo em pouco tempo e não conseguimos nada. E assim – neste silêncio digital, moderno, de vida corrida e barulhenta, contraditória, de pais que esquecem filhos porque precisam trabalhar para sustentá-los – perdemos o que é mais precioso. Pois ainda há chance para acordar, sair do pesadelo, levantar. E refletir sobre as conseqüências deste jeito louco de viver.

No próximo domingo entra o Advento, dias que preparam para o Natal. Deveria ser um período mais tranqüilo, no entanto, é a época mais conturbada do ano. E quando chega o Natal, lá está o bebê na manjedoura, esquecido no meio de gente apressada nas calçadas de vitrines decoradas, escondido atrás de “vidros escuros” dos enfeites natalinos, do papai-noel, das compras e das festas. E ele morre, pois “as preocupações deste mundo sufocam a mensagem” (Mateus 13.22).

Mas a gente só esquece o que tem. Uma mulher não pode esquecer um bebê que não tem. Se hoje deixamos Deus de lado, é porque nós temos um Deus. “Eles se esqueceram de Deus, o seu Salvador” (Salmo 106.21), diz a Bíblia sobre um povo que tinha tempo e tinha salvação. E mesmo quando somos tentados a acreditar que Ele se esqueceu de nós, ou de pensar que a história do Natal é uma fábula, que a Salvação depende do esforço de cada um, mesmo assim, Ele permanece lá em cima e continua aqui em baixo. E quando esquecemos os filhos – e os “matamos” com coisas que os sufocam e que lhes negam a respiração da alma – a promessa fica: “Eu nunca esquecerei vocês”. É o Salvador do Advento. É o tempo que ainda corre. É a chance de lembrar, a hora de não esquecer.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O barulho da violência


A violência é algo que faz barulho! Os noticiários televisivos fazem questão de aumentar o áudio e deixar que o povo escute o som dos tiroteios no Rio de Janeiro.


Há cidades onde não se ouve metralhadoras, no entanto o barulho da violência também se faz presente, ainda que seja apenas na batida forte e descompassada do coração do povo. Um som igualmente forte: O ruído do medo!

Em Canoas (RS), a violência divulgada recentemente não possuía o barulho de tiros, antes o silêncio de nenês sedados para morrer. Ato silencioso, mas igualmente violento.

Na cidade de Pelotas (RS) os homicídios e assaltos ganham números sonoros em 2009. Algo realmente impressionante. Assim poderíamos continuar citando o nome de cada cidade. De quem é a culpa? De quem vende crack? De quem consome? A culpa é das famílias desestruturadas? De quem é a culpa?

A culpa é de cada um de nós. A culpa é minha e tua também. Afinal estamos deixando o mundo seguir rumos catastróficos. A violência, a poluição, o aquecimento global não são provocados por alguns, mas por todos. Quem somos nós para criticar os corruptos quando aceitamos pequenos subornos? Agredimos com palavras, violentamos com omissões.

Todos nós fazemos parte da banda que toca o som da violência. Desesperançoso é saber que um dos lugares de maior barulho são as escolas. É violência na veia dos pequenos. O que será do futuro? Como os ouvidos humanos agüentarão tantos decibéis.

Que Deus nos ajude e nos motive a tocarmos pela Paz.

Jesus ofertou seu corpo, para sofrer a “violenta” morte de cruz e clamar do alto dela pelo perdão do Pai. A Paz começa com o perdão e começa num milagre divino, lá dentro do coração, depois vai para o externo, vai para o lar, vai para a rua, vai para o bairro e para cidade. Quem quer tocar essa melodia? Quem quer cessar o som da violência?

Eu sei que é muita gente. Mas, como fazer isso? Devemos começar trocando o maestro. O barulho descompassado da violência se dá porque cada qual quer reger a vida dos outros. Jesus é o único caminho, verdade e vida. Ele deve ser o maestro. Olhemos para ele. Confiemos em seus movimentos e toquemos juntos agradáveis melodias da Paz.

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
Comunidade Cristo Redentor
Três Vendas, Pelotas, RS

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

As 95 Teses de Lutero


As 95 teses


Debate para o esclarecimento do valor das indulgênciaspelo Dr. Martin Luther, 1517

Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
 
Para ler as 95 teses, clique aqui.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tetzel está vivo!



A propósito dos 492 anos da reforma protestante, ocorrida em 31 de outubro de 1517, vale reflexão atualizada acerca daquele fato à luz do que ocorre hoje com as igrejas cristãs. O que Lutero enfrentou, considerada a contumaz obstinação do papa Leão X, foi sutil em vista do que por aí se faz com a mensagem de Cristo em razão de variados interesses.


A era das trevas agonizava, facilitando a exposição de confuso universo de problemas, às vezes tão políticos quanto religiosos, todos concorrentes para a ruptura definitiva da cômoda integridade católico-romana.

Bastou que viesse à tona o monstruoso déficit financeiro da obra da Basílica de São Pedro para que o papa Leão X decidisse fazer o que hoje é corriqueiro na grande maioria das denominações religiosas, sobretudo evangélicas, diante dos seus inomináveis custos.

Sem se advertir a respeito de erro teológico, político ou ético, Leão pôs à venda indulgências, títulos reversíveis em perdão, de excelente imagem e úteis aos que quisessem quitar “pinduras” com o Eterno. E as distribuiu no mercado europeu a troco de dinheiro, mas sem antes preparar bons vendedores.

Coube ao monge Johann Tetzel espalhar suas bancas pela Alemanha. Ele garantia que o benefício espiritual da compra delas seria instantâneo. Tão logo tilintassem moedas no fundo da bolsa, sofridas almas deixariam o Purgatório, lugar a meio caminho entre céu e inferno, fonte de água e fôlego.

Tudo ia de vento em popa, até que Lutero, monge formado em Teologia, Direito e Filosofia e professor da Universidade de Wittenberg, resolveu chutar o balde e botar areia nos negócios do papa. Redigiu 95 teses, em que condenava o comportamento da igreja e resgatava a verdadeira ética cristã, que se baseia unicamente na graça e na fé em Cristo.

Acendeu-se o estopim. A revolução protestante explodiu em vários recantos da Europa. Dela surgiram a Igreja Luterana, as demais denominações evangélicas históricas (Batista, Anglicana, Metodista, Presbiteriana) e centenas daí derivadas, pentecostais ou neopentecostais, seitas ou não, num turbilhão confuso de dogmas, de fé e de ritos que, com certeza, nem sempre estão de acordo com o que é teologicamente correto.

A liberdade religiosa que se seguiu à reforma, estimulada pelo poder temporal que se desvencilhava de Roma, deu origem à descontrolada sucessão de minirreformas baseadas em interpretações teológicas inobjetivas e que pariram o atual mosaico evangélico, triste labirinto sem saída.

Impressões históricas à parte, uma coisa é lamentável. O modelo Tetzel, que vendia títulos reversíveis em perdão, está mais vivo que nunca. Em que situações?

a) quando se exige que o ser humano promova esforços e obras e pague pela misericórdia redentora de Cristo, obtida na cruz em sacrifício, gratuitamente para todos, sem distinção;

b) no materialismo desmesurado, fortemente presente na maioria das igrejas tidas evangélicas, que falam mais em dinheiro do que em Deus, do seu amor, sua bondade, sua graça e sua misericórdia;

c) nas enganosas promessas de prosperidade, tidas às vezes imediatas, ou nas facilidades financeiras ou físicas, em resposta a ofertas rechonchudas;

d) na "magia simpática" que transita em muitas denominações evangélicas: Um sabonete, uma cruz, um lenço, um óleo ungido ou coisa qualquer que pode ser suficiente para manipular o sobrenatural;

e) no condenável silêncio das igrejas históricas que erram porque se omitem e não se pronunciam contra as heresias decorrentes do modelo Tetzel;

f) na vontade desmesurada de algumas igrejas cuja vontade seria a de tomar e controlar o poder secular. O Estado é laico e não há como “convertê-lo”, pondo-a serviço da religião.

Pena que hoje, como no tempo de Lutero, milhares a mais estejam pagando caro pelo excesso dessa heresia que, com certeza, não os contemplará jamais em seu gesto financeiro com um recibo assinado pelo próprio Jesus Cristo.

Orlando Eller


Jornalista

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A homossexualidade e a igreja


Semana passada saiu nos jornais a notícia: “Igreja Luterana da Suécia aprova casamento gay”. Em agosto a Igreja Evangélica Luterana dos Estados Unidos (ELCA) já tinha ido mais longe. Decidiu que homossexuais ativos podem ser sacerdotes desde que "vivam uma relação homossexual duradoura e monógama". No entanto, neste mesmo mês, na conferência do Conselho Luterano Internacional (ILC), 32 igrejas luteranas do mundo (incluindo a Igreja Evangélica Luterana do Brasil à qual faço parte) aproveitaram o encontro para emitir uma declaração. Que a união permanente de um homem e de uma mulher é o lugar onde Deus abençoa a sexualidade humana, e que a homossexualidade em qualquer situação é uma prática contrária a vontade de Deus.

O assunto é polêmico e racha ainda mais o cristianismo. Dias atrás os jornais destacavam o fato de clérigos anglicanos ingressarem na Igreja Católica, contrários a estas inovações em sua igreja. Penso que duas coisas aqui devem ser consideradas – e que estão neste manifesto do Conselho Luterano Internacional. Primeiro: “Declaramos nossa determinação de nos aproximarmos daqueles com inclinação homossexual, com o mais profundo amor cristão possível e cuidado pastoral, em qualquer situação em que eles estejam vivendo. Segundo: “Firmados no testemunho bíblico e mantendo o ensino cristão durante os últimos dois mil anos, continuamos crendo que a prática da homossexualidade – em toda e qualquer situação – viola a vontade do Deus Criador e deve ser reconhecida como pecado”.

Mas daí vem o pessoal da “anti-homofobia”, lei que tramita em Brasília e que tenta punir pessoa ou grupo que se manifestar contrário ao homossexualismo. Daí vêm de rolo compressor a mídia, as novelas, o Ministério da Saúde e do Ensino e toda esta conversa de “isto é preconceito”. E nestas horas igrejas e cristãos, na onda do politicamente correto e de “alianças com Judas”, são levados ao que o Senhor Jesus disse: quem comigo não ajunta espalha (Lucas 11.23). Pois este é o mal que também acontece na igreja, parecido com o que disse Lula: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”.

Longe de nós qualquer tipo de intolerância religiosa. Bem pelo contrário, pois ninguém é melhor do que ninguém. Infidelidade conjugal, desonestidade, mentira, ódio, ganância etc. são iguais em condenação à prática da homossexualidade. Infelizmente no ardor do debate surgem os santinhos da igreja com presunção, hipocrisia e até ódio, um caminho inverso daquele que disse: “Eu vim chamar os pecadores e não os bons”. Afinal, todos precisam ser chamados.

Mas nestas horas é preciso não confundir alhos com bugalhos.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um Tesouro desenterrado na Reforma


Em 31 de Outubro de 1517, um tesouro estava por ser desenterrado. O Monge Agostiniano Martinho Lutero, deu início a um movimento na Igreja de então, denominado “Reforma”. Com o intuito de resgatar a dignidade do ser humano como filho de Deus, na sociedade em que vivia e especialmente na igreja que amava, denunciou e derrubou os muros da exploração e comércio que mais afastavam as pessoas do centro da Igreja Cristã, do que lhes aliviava a consciência. Neste dia Lutero resolveu levar o assunto ao debate, por isso fixou as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, querendo com isso abrir os olhos das pessoas que ingenuamente eram ludibriadas com uma Teologia cheia de interesses e barata. Pressionou e desafiou a igreja a cumprir seu papel de apresentar o perdão como um presente de Deus, conquistado na cruz por nosso Senhor Jesus Cristo, e não baseada em obras, sacrifícios, indulgencias (Efésios 2.8,9) que cercavam a base do cristianismo (um problema que 5 séculos depois, volta a tona).


Ao traduzir a Bíblia para a língua do povo, uma revolução iniciava. Deus, que parecia aprisionado nos mosteiros e templos, passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, sendo acessível por todos, em qualquer lugar.

A Revista Veja - Edição Especial do Milênio publicou uma pesquisa da Revista americana Life, a respeito dos personagens que mercaram o milênio (1001-2000), Guttenberg e Lutero, ambos do século XVI, ficaram entre os mais influentes: Guttenberg (1º) que se destacou pela impressão da Bíblia e Lutero (3º) o principal mentor da Reforma, que revolucionaria vários conceitos no que diz respeito a Teologia, igreja, educação de boa qualidade, ênfase na família e vida em sociedade (luta por impostos justos e administração pública honesta e transparente). A base desta pesquisa se ateve a quantas pessoas um determinado acontecimento afetou, e sua influência na atualidade. Depois de montanhas de livros consultadas, especialistas em várias áreas do conhecimento elaboraram a lista dos cem nomes.

A descoberta deste homem não pertence apenas aos luteranos, mas a todos os que têm certeza do perdão dos pecados unicamente pela obra de Cristo Jesus, pois Ele é a chave para o céu. A Santa Igreja Cristã é aquela formada por pessoas que “são como um edifício e estão construídos sobre o alicerce que os apóstolos e os profetas colocaram. E a pedra fundamental desse edifício é o próprio Cristo Jesus” (Efésios 2.20).

Márlon Hüther Antunes


Teólogo e Pastor da Igreja Luterana

Maceió – AL

sábado, 24 de outubro de 2009

Fé em tempos de globalização

Parecemos tão livres e estamos tão encadeados...” (Robert Browning)

A liberdade de crença é uma das grandes conquistas da modernidade. Por longos mil anos, estivemos, no âmbito da cristandade, condenados a professar um único sistema de fé. Naquele 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses questionando alguns dogmas e práticas da Igreja de Roma. Seria o marco inicial da Reforma Protestante, graças à qual a cristandade do século 16 e seguintes se libertaria do jugo da crença única.

Desde então, têm-se multiplicado por todo o mundo as igrejas cristãs. Algo positivo. Mesmo preservados alguns dogmas fundamentais com os quais todas elas comungam, abriu-se o leque do pluralismo religioso, estimulando-se, teoricamente, a liberdade de pensamento. Mas, por históricas distorções sedimentadas na cristandade, fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem. Mesmo que, ao curso de toda a história das igrejas, espíritos de escol, fiéis à autêntica mensagem de Jesus de Nazaré, hajam combatido aquela espúria associação, o certo é que a proliferação das igrejas, notadamente nos últimos 50 anos, tem se orientado justamente por essa fórmula. É ela a própria garantia de seu êxito.

As bases a sustentar o modelo desse cristianismo de nosso século partem dos seguintes pressupostos: a fé é inquestionável, pois se funda na própria palavra de Deus; o poder emana diretamente da autoridade divina, a serviço da qual cada uma dessas igrejas afirma estar; o dinheiro empregado na “obra de Deus” retornará ao doador, multiplicado em bens de consumo, saúde, prosperidade e venturas no amor, benesses só concedidas aos crentes. Estes, por acréscimo, ainda obterão a salvação eterna.

O marketing empregado se afina com a economia de mercado, adotada por uma sociedade ainda movida por políticas excludentes, em que uns poucos são agraciados pelos bens da vida e muitos outros condenados à marginalidade. Enquanto esse modelo perdurar, as igrejas cultivadoras da teologia da prosperidade seguirão crescendo, à custa de vítimas incautas ou de espíritos atrasados, presos às malhas do egoísmo e da ignorância. A grande motivação para a adesão a esse sistema de fé é o apelo que se faz a um sonhado “upgrade” social e econômico.

Poderão se inscrever essas práticas nos modernos postulados da liberdade de crença? Com certeza não. Tampouco isso estaria nos planos do irrequieto monge que afixou suas teses na porta daquela igreja, há 492 anos. Trata-se, antes, de um verdadeiro estelionato da fé, astuciosamente engendrado, no seio da sociedade moderna e de suas garantias de liberdade de pensamento e crença. O modelo defrauda tanto os magnânimos projetos dos reformadores religiosos quanto os dos humanistas, livres-pensadores e laicos, que, no nascer da modernidade, ousaram contestar coisas como vendas de indulgências, autoritarismo e corrupção religiosa.

Milton R. Medran Moreira
Jornalista e advogado
ZERO HORA, 24 de outubro de 2009 N° 16134
Porto Alegre

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Raio-X que mostra tudo

Um aeroporto britânico testou na semana passada uma máquina que permite ver os passageiros sem roupa. É um raio-x de segurança para procurar armas ou explosivos escondidos no corpo de terroristas suicidas. O aparelho mostra qualquer material dentro ou fora do corpo, além do contorno em preto e branco das partes íntimas do passageiro. Mas os responsáveis explicam que as imagens serão vistas apenas por um funcionário, não podem ser arquivadas e serão destruídas logo após o exame.

Esta máquina, que vai deixar muita gente ruborizada, me fez lembrar um texto bíblico: “Pois a Palavra de Deus (...) vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do coração delas. Não há nada que se possa esconder de Deus.” (Hebreus 4.12,13). É a checagem da lei divina que nos deixa “pelados” não do corpo, mas da alma. E que revela as bombas explosivas que todos carregam, descritas por Jesus (Marcos 7.21-23) e pelo apóstolo Paulo (Gálatas 5.19-21).

E na hora da vistoria não sobra um. “Não há ninguém que faça o bem” (Romanos 3.12). Mas sempre aparece um esperto que tenta um jeitinho, tipo o pretensioso jovem milionário com o seu “desde criança eu tenho obedecido a todos os mandamentos” (Marcos 10.20). Jesus não engoliu a santidade do rapaz e fez o último teste: - Bom, se você é santo igual a mim, então pode seguir o meu exemplo, eu que abandonei toda a minha riqueza no reino celestial. Larga todos os seus bens e me siga.

Isto foi um balde d’água fria. O santo de pau oco não conseguia obedecer nem o primeiro mandamento. Foi embora. E Jesus então disse uma coisa que deixa muita gente rica apavorada: – É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha. O problema, na verdade, não é o dinheiro e sim esta idéia de querer subornar o guarda e tentar passar por fora, sem os olhos deste raio-x. O que é impossível.

– Então, quem é que pode se salvar? A pergunta foi feita pelos espantadíssimos discípulos a Jesus. – Para os seres humanos isso não é possível; mas para Deus é. Pois para Deus tudo é possível (Marcos 10.27), respondeu o Salvador. Pois esta é a fantástica notícia quando a Bíblia mostra o jeito de escapar: se vestir com as qualidades de Cristo (Gálatas 3.27). Jesus é a roupa que esconde as bombas explosivas da natureza humana e o meio para desativá-las. Foi ele mesmo quem disse: Eu sou o check-in do aeroporto para o céu (João 10.9).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dose letal

É possível vencer a morte? Romell Broom, acusado de estupro e assassinato nos Estados Unidos, virou notícia após vencer a morte 18 vezes. Condenado a morrer por injeção letal, ele sobreviveu após 18 tentativas.

O que se passa na cabeça de alguém como Broom, no corredor da morte? Como encarar a morte?
A morte assusta, porque não fomos criados por Deus para morrer. Mas inevitavelmente, ela está próxima de todos. Alguns têm tempo para se preparar, assim como Broom esperava, e deve ter tido suas horas mais longas, antes da tentativa de execução; outros certamente não terão nem tempo de pensar na sua hora, serão surpreendidos, seja por acidente, tiro, ataque cardíaco ou algo parecido. Por isso é assunto a ser pensado.

Mesmo alegando inocência, como Broom alegou, todos são culpados e têm uma dose letal que já corre em suas veias: o pecado. E de acordo com a palavra de Deus, uma única dose basta para matar qualquer ser humano, “Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos” - Tiago 2.10; “O salário do pecado é a morte” – Romanos 6.23. O Teólogo Martinho Lutero ilustrou da seguinte maneira: “O pecado está em nós como a barba. Barbeamo-nos hoje, parecemos apresentáveis e nosso rosto está limpo, amanhã nossa barba cresce de novo e não pára de crescer enquanto permanecermos na terra. De modo semelhante o pecado não pode ser extirpado de nós, ele brotará em nós enquanto vivermos”.
Por isso a tarefa da Igreja, é preparar as pessoas para o mais temível momento, não só para as crises da vida, pois “se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo”- 1 Coríntios 15.19.

Sim, há como escapar da morte e das conseqüências letais das doses de pecado. Há somente duas maneiras de morrer: com Cristo e sem Cristo. Jesus afirmou: — “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá.” - João 11.25,26. Você acredita nisso?

Assim como Broom recebeu “milagrosamente” uma nova oportunidade de viver, até sua nova sentença, nós a temos e precisamos nos preparar. Escutem o que Deus diz: “Quando chegou o tempo de mostrar a minha bondade, eu atendi o seu pedido e o socorri quando chegou o dia da salvação. Escutem! Este é o tempo em que Deus mostra a sua bondade. Hoje é o dia de ser salvo” – 2 Coríntios 6.2. É confortador saber que é possível vencer a morte, com um milagre: em Cristo.

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e Pastor da Igreja Luterana
Maceió – AL

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não esqueçam das crianças e dos professores

Há poucos anos quando se perguntava a uma criança o que gostaria de ser quando crescesse, a grande maioria diria: ser professora. Parece que o prestígio está cada vez mais em baixa. É cada vez mais raro encontrar quem almeje encarar os obstáculos da educação. Não é por menos, encontramos uma classe sobrecarregada, desmotivada, esquecida; isso quando não amedrontada ou coagida pelos próprios alunos ou pais. As consequências estão aí, transformamo-nos em reféns das crianças mal educadas e agora crescidas.

A pergunta “o que estamos esperando de nossas crianças” deveria ser refeita e levar a sociedade como um todo à reflexão e ação: “o que estamos deixando para as nossas crianças”.
A educação parte de um doar-se, da preocupação e necessidade de boa base na formação de pessoas cidadãs. Não é um assunto novo, no mês que se comemora a reforma protestante, que teve como o principal pensador, Martinho Lutero, segundo a Revista Escola, “o autor do conceito de educação útil” (edição 022, 2008), que vendo a realidade abusiva e de abandono do sistema educacional na Idade Média, sugere uma concepção de educação que visasse à formação de um ser humano integral.

Para o reformador a educação em primeiro plano, era tarefa dos pais, mas compromisso precípuo das autoridades em todos os níveis. Para ele, era necessário uma estrutura social que garantisse esse acesso indistintamente para todas elas, com gente especializada para essa tarefa, mantida comunitariamente, tarefa do Estado. Além do mais combateu a educação repressiva, introduziu o lúdico na aprendizagem. Amarrou o estudo das disciplinas a um aprendizado prático. Também lutou por boas bibliotecas. Dentro de sua ótica cristocêntrica, retransmitiu à sociedade de sua época a posição de Jesus: “Digno é o trabalhador do seu salário” (Lucas 10.7).

Hoje a situação é esta: da educação repressiva da época, temos uma libertinagem; aos professores recai a obrigação de preparar crianças e jovens para o vestibular, não ajudar na formação de cidadãos. E quanto à estrutura e salários, sem comentários.

A educação parte de um doar-se, da preocupação e necessidade. É neste sentido que o Mestre dos mestres vem como modelo às crianças, professores, pais, enfim a todos, na orientação do caminho à cidadania plena: “Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14.6). Por Ele, ninguém é esquecido!

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e pastor da Igreja Luterana
Maceió – AL

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Professor honrado e feliz

Um decreto federal de 1963 explica a razão para o feriado deste 15 de outubro: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino promoverão solenidades em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias". Isto é do tempo em que professor mandava no aluno e era respeitado. Havia educação na sala de aula porque ela vinha de casa. Hoje professor virou guarda de trânsito e as regras pouco resolvem. Mas então qual o jeito para enaltecer a função do professor quando a maior honra é o respeito na sala de aula?

Será que é seguindo o exemplo de um projeto de lei na Câmara de Vereadores de Porto Alegre? A lei permite que os guardas municipais fiquem escondidos com o radar móvel para multar os motoristas infratores. Mas um especialista em trânsito diz que “a função dos agentes de trânsito deve ser educativa e não punitiva”. Creio que o mesmo vale para o professor. Além do mais, “pardais” de tocaia, câmeras de vigilância resolvem apenas um problema localizado e momentâneo e deixam um rastro de desconfiança, desconforto e insatisfação.

Creio que o caminho para enaltecer o professor segue o mesmo princípio de uma recomendação bíblica que diz respeito àqueles que ensinam a Palavra de Deus. Lemos na carta aos Hebreus: “Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês porque sabem que vão prestar contas disso a Deus. Se vocês obedecerem, eles farão o trabalho com alegria; mas se vocês não obedecerem, eles trabalharão com tristeza, e isso não ajudará vocês em nada” (13.17). Não é por nada que os sacerdotes da escola estão desanimados, tristes. E quem perde é toda uma sociedade que depende de bons cidadãos. A conseqüência é esta falta de educação no trânsito e na sociedade em geral. Um problema que vem da escola, que vem de professores desanimados. Um problema que começa mesmo em casa, porque professor existe para ensinar e não para educar.

Por isto nada resolve encher as escolas com câmeras e transformar os professores em policiais se quisermos mestres que ensinem com alegria e entusiasmo, e filhos preparados para a vida profissional e social. Aliás, o próprio Mestre Jesus necessitou de discípulos que o amassem para que a lição do reino de Deus fosse aprendida. E depois de honrado, não teve receio de se rebaixar lavando os pés deles. “Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês”, então façam o mesmo, lembra o Salvador (João 13.14). No final, a melhor educação é a humildade em aprender.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Maximizar o cuidado

Após a consulta médica os familiares de João ficaram sabendo que ele estava com uma doença muito grave. A filha foi taxativa ao contar para sua vizinha. Ela disse: “A doença do pai não tem cura. Não há mais nada que possa ser feito!

Talvez o leitor já tenha ouvido ou dito essa frase em alto e bom tom. No entanto, sempre há o que fazer, talvez pouco que seja “curativo”, mas muito na área “paliativa”.
O dia 10 de outubro é o dia mundial dos Cuidados Paliativos. Os cuidadores paliativos são as pessoas que cuidam dos doentes sem possibilidades de cura. São aqueles que realizam uma série de ações, mesmo quando alguns dizem que já não há nada que possa ser feito.
Sempre é possível ouvir, tocar, cantar, apoiar, chorar, enfim cuidar de um doente terminal, dando-lhe todo calor humano possível, num momento em que a frieza da morte vem trazer seus calafrios.

O senhor João soube que estava com uma doença terminal, mas pouco a pouco, em meio a dor e as fúrias, compreendeu que de certa forma, tudo nessa vida é paliativo, tudo é passageiro, tudo é rápido, e que todas as nossas vaidades são como correr atrás do vento.
Num mundo onde a única certeza é a morte, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11.28).

Por isso, mesmo quando parece que não há nada mais a ser feito, lembremos que sempre é possível amar, pois mesmo terminando a fé, mesmo acabando a esperança, o amor ainda permanece, pois o amor é eterno (1 Coríntios 13).

Nesta vida onde tudo é paliativo e por vezes sofrido, choremos nos braços do Pai do Céu, permitindo que as lágrimas limpem os olhos da fé, para enxergarmos o que realmente vale a pena.

Que o amor de Deus seja a força de todos os doentes terminais, dos familiares que os acompanham e dos profissionais que os cuidam. Que nossas limitações físicas não limitem nossa solidariedade. Se já não podemos minimizar a dor, lembremos de maximizar o cuidado, na perspectiva de Jesus, que fez o máximo – deu sua vida por nós.

A morte já não tem poder! Ela já não pode fazer nada contra nós. Por isso, em fé, podemos dizer que o “nosso viver é Cristo e o morrer é lucro!” (Filipenses 1.21)

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
ismarpinz@yahoo.com.br
Comunidade Luterana Cristo Redentor – Pelotas, RS

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Não se esqueça do principal

Lembram daquele alpinista que cortou fora uma das mãos? Aron Ralston é o nome dele. Em 2003 ele caiu de uma montanha nos Estados Unidos e ficou com a mão direita presa entre as rochas. Depois de cinco dias agonizando, sozinho naquele deserto, precisou tomar a decisão mais radical da sua vida. "Eu consegui primeiro quebrar o rádio e minutos depois quebrei o cúbito na área do pulso", referindo-se aos dois ossos do antebraço. Para concluir o serviço, usou o seu canivete e finalmente ficou livre, livre para a vida.

Em outras situações não é a mão, mas coisas que persistem nas mãos e prendem o corpo à morte. Tais como a bebida, o cigarro, as drogas, o jogo, o volante perigoso do carro, o cartão de crédito, ou até mesmo a mão de outra pessoa. Às vezes é o próprio trabalho, a exemplo da operadora francesa France Telecom, onde nesta última segunda-feira ocorreu o 24º suicídio nos últimos 18 meses. Por isto, dependendo do caso, a decisão precisa ser tomada logo, antes que não haja mais tempo para a escolha. Foi o que fez o meu amigo Teno Luguesi, 69 anos. Devido à diabete, precisou amputar as duas pernas. Hoje ele está feliz da vida, igual ao alpinista. Afinal, quando existe chance para escolher entre a vida e a morte, a gente não pensa duas vezes.
- “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira?” (Marcos 8.36), pergunta Jesus. Por isto ele radicaliza: “Se uma das suas mãos faz com que você peque, corte-a fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna com uma só mão do que ter duas e ir para o inferno” (Marcos 9.43). O problema não é o “mundo inteiro”, mas a “vida verdadeira pela metade”. Na verdade, tudo nesta vida terrena é presente do Criador. Mas quando este “mundo” prende a mão, o único jeito é cortar fora para ficar com o que interessa. E se o alpinista mais tarde confessou que não sabia de onde veio a coragem para livrar-se da mão, o seguidor do “Caminho, da Verdade e da Vida” sabe. Vem de cima.

A história da mulher com uma criança no colo bem que poderia ser uma parábola de Jesus. Ao passar diante de uma caverna, ouviu uma voz misteriosa: - “Entre e pegue tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém que depois de sair, a porta se fechará para sempre”. A mulher entrou e encontrou muitas riquezas. Fascinada, ajuntou tudo o que podia no seu avental. E a voz misteriosa advertia: - “Não se esqueça do principal”. Carregada com ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou. Foi então que ela lembrou-se do principal: o filho que carregava no colo tinha ficado lá dentro.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Do que a terra mais garrida?

Nesta terça-feira chegou a lei junto com a Primavera obrigando a execução do Hino Nacional uma vez por semana nas escolas públicas e particulares de Ensino Fundamental. Não sei se foi esta a intenção, mas deveríamos cantar o “Ouviram do Ipiranga” sempre inspirados pelo perfume primaveril deste lugar abençoado. Ou como diz o verso: “Do que a terra mais garrida (florida), teus risonhos, lindos campos têm mais flores”. No entanto, nossos hinos por vezes têm cara de inverno, daqueles que faz a gente ficar encolhido na cama, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Omissos, coniventes. Porque se o Brasil é gigante pela própria natureza, se é belo, forte, impávido colosso – isto se deve graças ao vasto e rico território. Mas se o futuro pretende espelhar essa grandeza, o brado retumbante do grito do Ipiranga necessita de um povo heróico.

Por isso não basta cantar o hino uma vez por semana. Isso é coisa de todos os dias, começando lá por Brasília. E se os nossos governantes e políticos fogem à luta, se temem quando se ergue da justiça a clava forte – então não adianta obrigar nossos filhos cantarem “nem teme, quem te adora, a própria morte”. Uma lei pode até fazer a gente decorar, mas é somente a transformação moral, cívica e política, capaz de traduzir palavras complicadas em gestos construtores de uma pátria amada, Brasil.

Não se enganem”, admoesta a Bíblia, “não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em prática o que ela manda. Porque aquele que ouve a mensagem e não a pratica é como um homem que olha no espelho e vê como ele é. Dá uma olhada, depois vai embora e logo esquece de sua aparência” (Tiago 1.22-24). De fato, isto acontece também na igreja. A gente canta de cor e salteado os hinos, mas depois esquece o significado. E daí vem o recado: “Se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a ele” (Romanos 12.1).

Então pouco resolve enfiar na cabeça. É preciso colocar no coração. É o jeito de Deus: “Eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei” (Jeremias 31.33). Fórmula didática experimentada em Jesus (Hebreus 8.10). E assim a terra garrida é a própria vida. É o que diz a Bíblia: “Porque somos como cheiro suave do sacrifício que Cristo oferece a Deus, cheiro que se espalha” (2 Coríntios 2.15). Perfume que se renova a cada dia graças a um raio vívido de amor e de esperança que à terra desce.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A saliva de Deus

A confiança do consumidor brasileiro neste mês de agosto teve uma queda conforme resultado da pesquisa “Índice de Confiança do Consumidor”. É uma “acomodação” após período de confiança em alta, explicam os responsáveis pelo estudo. Enquanto isto, outra pesquisa no mesmo período registra igualmente uma queda de confiança no governo do presidente Lula. A explicação é devido à crise do Senado e ao embate entre a ex-secretária da Receita Federal e a ministra-chefe da Casa Civil.

Fico imaginando uma pesquisa sobre a confiança na religião. Nem penso nas outras religiões – penso na minha, mais diretamente em mim, eu que carrego o título de pastor. Penso também naqueles que são seguidores da minha denominação – gente que é a cara de uma igreja. Qual seria o grau de confiança das pessoas de fora? Bom, ruim, mais ou menos? Estaria em queda, em elevação?

Vi no Jornal Hoje uma matéria dizendo que boa parte dos consumidores entra numa loja por causa da vitrine. Durante a entrevista com uma especialista sobre a importância da boa vitrine, pensei com os meus botões: Qual a vitrine de uma igreja? Acho que é um conjunto de coisas, mas todas dependendo de meios, de instrumentos. Algo parecido com a história daquele surdo-mudo curado por Jesus (Marcos 7.31-37), onde o evangelista destaca a boa impressão das pessoas que assistiram: “Tudo o que faz ele faz bem”.

Três detalhes neste texto bíblico interessam quando o assunto é confiança. Jesus tirou o homem do meio da multidão, narra o Evangelho. O atendimento foi individual, personalizado. Um serviço indispensável. Outro detalhe: Jesus pôs os dedos nos ouvidos dele. Tocou nele, relacionou-se de maneira íntima e carinhosa, indicando o problema e a solução. Terceiro: Jesus cuspiu e colocou um pouco de sua saliva na língua do homem. Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse: “Efatá” – que significa “abra-se”. Jesus poderia simplesmente curar o homem com o seu olhar. Isto lembra que o poder de Deus para desobstruir o que está lacrado sempre acontece por meios visíveis. Para abrir o céu Deus usou o próprio Filho, o Deus de carne e osso – a única “saliva” (João 14.6). Hoje Deus continua abrindo os corações pela saliva do Evangelho – pregadores e Palavra; pela saliva do Batismo – água e Palavra; pela saliva da Santa Ceia – pão, vinho e Palavra.

Na verdade, o índice de confiança do consumidor no assunto “igreja” é o resultado destes três quesitos: tratamento personalizado, o dedo de Jesus no problema e na solução, e a saliva de Deus que realiza o “efatá”. Sem esquecer que na vitrine sempre estarão aqueles que foram “curados”.

Marcos Schmidt
Pastor Luterano
Novo Hamburgo - RS

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O fim do Caminho

A novela acabou! “O Caminho” chegou ao fim.

O que fazer? O jeito é continuar a “Viver a Vida”.

Não quero fazer propaganda da próxima novela da Tv Globo, mas sim uma exposição de fé, pois dentro das crenças cristãs a vida continua! É eterna.

Viver a vida terrena como se ela fosse um fim em si mesmo é uma grande ilusão! O apóstolo Paulo escreve assim: “Se a nossa esperança em Cristo só vale para essa vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Co 15.19). Afinal, um Caminho que leva a lugar nenhum é um Caminho sem sentido! Que coisa bem sarcástica seria se todos os sonhos, sentimentos e esperanças acabassem com o último batimento cardíaco? Diz a Bíblia: “se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, a fé que temos é uma ilusão.” (1 Co 15.16-17).

Mas, a verdade é que Cristo foi ressuscitado, e isso é a garantia de que os que estão mortos também serão ressuscitados.” (1 Co 15.20).

Viver a vida terrena, sabendo que existe algo além e mesmo assim não se importar com o caminho que estamos traçando é pior do que uma ilusão. É uma irresponsabilidade!

No livro de Atos dos Apóstolos lemos que os seguidores de Jesus eram chamados pessoas do Caminho. Jesus afirma ser ele o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6). Não o caminho para as Índias, mas o Caminho para os Céus.
Um dia a novela da nossa vida terrena vai se acabar! Importa saber que caminho estamos trilhando nos capítulos do dia-a-dia. Importa saber se estamos em Jesus ou longe dele.
Se tua vida terminasse hoje, o que te aconteceria?

Segurança nessa vida e alegria na eternidade nos é concedida somente mediante a fé em Jesus. Aquele que confia no Senhor se reveste da humildade necessária para não confiar em si mesmo ou em inúteis filosofias humanas. Afinal, somente em Jesus temos a garantia do perdão e da Salvação!

Quem tem essa garantia pode enfrentar os dramas dignos de uma novela com a certeza de que existe algo melhor e maior nos esperando, de que existe o Autor Supremo da novela da Vida. Este Autor é o nosso Deus. Ele é quem coloca o verdadeiro amor em cada capítulo do nosso Viver e espera que sigamos o conselho de Jesus, o diretor que quer nos protagonizar, encaminhando-nos a um final realmente feliz.

Nessa certeza, continuaremos a “Viver a Vida”, seguros de que não terminaremos em um beco sem saída, mas que viveremos na Paz de quem viaja no “Caminho certo” e pode viver aproveitando as paisagens.

Pastor Ismar Pinz
Comunidade Luterana Cristo Redentor
Pelotas - RS