quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA

No dia 09/02, faleceu Eluana Englaro, mulher que estava há 17 anos em estado vegetativo. O pai dela lutou na justiça para suspender tratamento que a mantinha viva. Ele queria o que chamamos de eutanásia – palavra que significa literalmente – "boa morte".

Eutanásia é um assunto que produz diferentes reflexões sobre a vida e sobre a morte. Por isso esse assunto comove e assusta. Casos como a da italiana Eluana Englaro produzem novas reflexões e debates. Segundo as informações, a situação dela era alarmante. Seu corpo estaria tão atrofiado que conseguia apenas ficar deitada de lado. Uma cena que calaria muitos oposicionistas, disse o pai dela.

Existem dois posicionamentos de risco no que diz respeito a esse assunto. Um dos posicionamentos de risco é aquele em que não se aceita a morte. O outro é aquele em que não se aceita a vida.

Em muitos casos a morte precisa ser aceita e encarada. Afinal, apesar da vida ser o maior dom, ela não é um deus, mas sim um dom de Deus. Nesta perspectiva o apóstolo Paulo diz: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro (Fp 1.21)".

A medicina possui recursos e tecnologias para manter alguns sinais de vida por tempo indeterminado. Ou seja, é possível ficar ventilando um morto, fazendo com que o mesmo pareça estar vivo. Seria isso justo e ético? Penso que por vezes, o correto e necessário é aceitar a morte!
Outro lado extremo é não aceitar a vida! Esse posicionamento parece estranho, mas é bem compreensível. Aqui se enquadram aqueles que, diante do sofrimento, preferem a morte. Esse procedimento é questionável, afinal, será que devemos acabar com o sofrimento acabando com os sofredores, ao invés de aumentarmos os cuidados para com eles?

Aceitar a vida e vivê-la, enfrentando tudo o que vier pela frente, exige fé! Aceitar a morte pode exigir mais fé ainda. O drama é saber e reconhecer a hora da vida e a hora da morte – naturalmente.

Não devemos desistir da vida, ao menos enquanto existir esperança. Contudo, não podemos confundir esperança com ilusão. A Bíblia nos diz: "Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo"( 1 Co 15.19), infelizes e iludidas. A verdadeira esperança está em Cristo, pois por sua "boa morte na cruz" ele conquistou o perdão, a Salvação e a Vida eterna (Hb 2.14-15).

Pastor Ismar Pinz
ismarpinz@yahoo.com.br
Congregação Cristo Redentor - Pelotas, RS

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

CELEBRIDADES

O astro de cinema Tom Cruise, na passagem pelo Brasil, respondeu sobre sua rotina de celebridade: “Vivo sob a lente de um microscópio. Tudo o que faço parece ter dimensão ainda maior”. Se a gente raciocinar mesmo, é muito engraçado este zoom aumentativo dos famosos. Sob as lentes insistentes dos fotógrafos, qualquer coisa que esta gente importante faz é hiper valorizada. Creio que este arrebatamento comportamental, este entusiasmo delirante pela vida trivial das celebridades, tenha explicação lógica: a fama. Ninguém escapa do fascínio de querer estar lá, no centro das atenções. No íntimo de cada um existe tal desejo, de ser um Tom Cruise, uma Gisele Bündchen, nem que seja por uns minutinhos, a fim de experimentar os deslumbramentos da fama. De alguma forma, nos projetamos neles.

Mas é aí que mora o perigo, tanto para o astro como para o fã. Porque com os pés no chão é preciso saber que todos estão no mesmo nível, nem acima nem abaixo. Afinal, do chão viemos e ao chão retornaremos (Gênesis 3.19). As próprias relações humanas seriam mais sensatas, sadias, se este tipo de comportamento não fosse tão desnivelado. Não haveria tamanha desigualdade social e econômica. O salário de um simples professor não seria tão diferente de um famoso artista. A vida seria mais real. Aliás, exemplo de equilíbrio comportamental diante da fama vem do piloto que virou herói após o espetacular pouso no Rio Hudson em Nova York. Evitando os holofotes, só agora ele deu uma entrevista, qualificando de “surreal” a experiência.

Creio que surreal mesmo é o nosso jeito de relacionar-se com o “semelhante” – os de cima e os de baixo. E o caminho para viver a realidade, longe do (ir)reality show, é olhar bem para cima. Foi o que fez o famoso Davi, através da lente imaginária de um telescópio: “Ó Senhor, quando olho para o céu que tu criaste, que é um simples ser humano para que penses nele? No entanto, fizeste o ser humano inferior somente a ti mesmo e lhe deste a glória e a honra de um rei” (Salmo 8). Perceber a grandeza do Criador é a forma de perceber a grandeza de si próprio – de alguém que recebeu poder sobre toda a criação (v.6). Na verdade, quando não se enxerga a magnitude imensurável de Deus, esquece-se a grandeza do próximo e a própria pequenez.

Se para Tom Cruise, tudo o que ele faz parece ter a dimensão ainda maior aos olhos dos fãs, para o cristão acontece algo parecido na perspectiva do Criador. E isto graças a lente de um singular e poderoso microscópio: o Filho de Deus. O apóstolo lembra que “Jesus tinha a natureza de Deus, mas ele não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, tornou-se igual aos seres humanos” (Filipenses 2.6,7). Fez isto a fim de que a nossa vida e obras tivessem a dimensão original da imagem divina. Foi pensando nisto que Davi sussurou: Ó Senhor, tu me vês quando estou trabalhando e quando estou descansando, tu sabes tudo o que eu faço (Salmo 139.3). A realidade do valor humano, sem dúvida, é o que precisa aparecer.

Marcos Schmidt
pastor luterano
marsch@terra.com.br