quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mão à palmatória


Meu filho de 10 anos, atento a tudo, já me disse: “Pai, qualquer coisa ligo para o 190”. A brincadeirinha dele, no entanto, virou coisa séria. Este projeto de lei contra a palmada está gerando grande discussão. Gente da área jurídica afirma que é inconstitucional, pois o Estado interfere na privacidade das famílias, impondo limites ao direito que os pais têm de educar os filhos. Também há o argumento que, se o maltrato acontece contra a criança, é porque a lei que já existe não é aplicada. “É uma questão de lógica”, escreve Reinaldo Azevedo, “se o sujeito não teme a lei que proíbe o mais, não vai temer a lei que proíbe o menos”.

Quanto ao mérito da palmada, as opiniões também se contradizem. Alguns afirmam que o castigo físico não resolve, pelo contrário, deseduca e desperta a cultura da violência. Outros já defendem que, na medida certa, tem função pedagógica. O assunto divide gente entendida. Gente entendida? Quem tem a razão? Confesso que eu mesmo estou em dúvida depois de tanta coisa que li e ouvi. Estamos no mato sem cachorro. O assunto é complicado, e penso que o grande proveito nisso tudo é a reflexão sobre o nosso jeito equivocado na educação dos filhos. Precisamos “dar a mão à palmatória” e confessar que perdemos o controle sobre as crianças (quem sabe porque perdemos o controle sobre nós mesmos) e não sabemos mais o que fazer com elas, que tomaram conta da casa, da escola, da rua.

Diz a Bíblia: “Não deixe de corrigir a criança. Umas palmadas não a matarão. Para dizer a verdade, poderão até livrá-la da morte” (Provérbios 23.13). Por outro lado, observa: “Pais, não tratem os seus filhos de um jeito que faça com que fiquem irritados. Pelo contrário, vocês devem criá-los com a disciplina e os ensinamentos cristãos” (Efésios 6.4). No livro de Hebreus (12.9) até há uma comparação com a disciplina divina: “No caso dos nossos pais humanos, eles nos corrigiam, e nós os respeitávamos. Então devemos obedecer muito mais ainda ao nosso Pai celestial e assim viveremos”.

Porque o lar terceirizou a educação dos filhos, o estado então sobrecarrega a sociedade com leis – que não consegue aplicar – e assume o papel da família. É preciso voltar a sermos pai e mãe antes que o Conselho Tutelar entre em nossa casa.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil

domingo, 18 de julho de 2010

Vida Devocional

Como anda sua vida devocional? O texto bíblico que me levou a fazer esta pergunta é o Evangelho desse domingo registrado em Lucas 10.38-41.

Jesus se hospeda na casa das irmãs Marta e Maria e enquanto a primeira está a lhe servir a outra fica aos pés do Mestre ouvindo seus ensinamentos. Então, diante da reclamação daquela que estava ocupada com todo o trabalho da casa, Jesus responde: “Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela” (Lc 10.41).

Confesso que Marta me é bem mais simpática do que Maria. Acho que é porque me identifico mais com ela. Eu ando preocupado com muitas coisas. São as atividades do calendário; são as contas; é o trânsito; são as informações do mundo todo que chegam diariamente na minha casa. É tanta agitação que não acho tempo para a única coisa que ninguém vai me tomar: as palavras da Vida!

Mas eu posso ser Maria também e arranjar tempo para o culto, a leitura da Bíblia, a vida devocional. Enfim, a base da nossa fé é Jesus. Na Palavra do Ressuscitado eu aprendo a morrer para o pecado e ressuscitar para a justiça.

Ainda há espaço e necessidade para o exercício da vida devocional no nosso dia a dia. As sugestões de Lutero nos ajudam nessa prática. Ele falou que é preciso a gente se concentrar, silenciar os pensamentos, aquecer o coração e entrar em contato com as palavras bíblicas.

A propósito, como está sua vida devocional? Você consegue arranjar um tempo para falar com Deus em oração e ler a Sua Palavra? Sozinho? Em família? Na igreja com os irmãos na fé?

Em todos os casos, eu não consigo deixar de ser Marta nesse mundo cheio de agitações. Mas posso ser Maria também e dar a devida atenção à Palavra – a melhor de todas as coisas que ninguém vai nos tomar.

Edgar Lemke
Comunidade Evangélica Luterana da Cruz
Porto Alegre - RS

terça-feira, 13 de julho de 2010

Deu no que deu

Esperar o quê de alguém que foi abandonado por uma mãe drogada e por um pai fichado na polícia 7 vezes? Criado pela avó, não teve uma família. O infortúnio deste goleiro está na mídia porque é a vida de gente famosa. Mas é uma história comum, banal – fruto de uma sociedade que não sabe mais onde enfiar tanta gente nos presídios, que se prende a si mesma em segurança atrás de muros, e que sofre a violência no próprio lar.

Foi o ministro Gilmar Mendes que declarou num encontro sobre drogas, semana passada: “Só a Justiça não conseguirá vencer a guerra. Cada família, cada cidadão – somos todos responsáveis”. Agora então a solução para salvar a sociedade está na família? E a solução para salvar a família? O psicanalista francês Charles Melman já alertou: “A instituição familiar está desaparecendo e as conseqüências são imprevisíveis”. Isto todos percebem. O que se desconhece é a causa da falência do lar, ou seja, a ausência paterna. Segundo Melman, devido o declínio do referencial masculino na família, os jovens têm dificuldades para estabelecer um ideal de vida. Situação que evoca um desabafo do especialista: “Impressiona que antropólogos e sociólogos não se interessem por isso".

O desinteresse também é abordado pelo psicanalista brasileiro Rubens de Aguiar Maciel, ao afirmar que há descaso e desconhecimento científico sobre o tema “paternidade”. Sustenta que o pai é figura fundamental na estruturação da personalidade da criança e de seu papel. "É função do pai, estabelecer limites à criança, passar a noção de ela não é o centro do Universo (...) O papel de pai é mais normativo, tem a ver com as obrigações morais que ele deve ter diante de sua família. Já a função dele é algo mais profundo, diz respeito ao mundo interno da criança, à sua personalidade, seu lado emocional."

Por isto então o único mandamento do Decálogo que contém uma promessa, este que trata da família “pai, mãe, filho”. E por isto o recado do apóstolo: “Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer ao seu pai e à sua mãe (...) Faça isso a fim de que tudo corra bem para você, e você viva muito tempo na terra” (Efésios 6.1,3). Bruno, tragicamente, não teve pai nem mãe para obedecer e se dar bem na vida. Deu no que deu.

Marcos Schmidt
pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS