quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Natal e o Co2 estão no ar


O natal está no ar. O CO2 também. E enquanto um se perde cada vez mais no imenso universo capitalista, tal qual o gelo que derrete oceano à dentro, o outro aumenta cerca de seis toneladas a cada dia. E nessa atmosfera cheia de encantos, jingles, ofertas, política e fumaça, estamos nós correndo alucinadamente pelos campos da vida, tentando sobreviver a mais um agitado final de ano sem que falte o peru na ceia. Será que alguém notaria se faltasse a ave, tal qual tiraram Jesus e seu presépio da decoração natalina do shopping e ninguém percebeu? Jesus não compra, não vende e nem dá lucro. Que diferença faz?


Não perceber, parece ser uma especialidade da miopia humana. O planeta está aquecendo tal qual o forno que vai hospedar a ave natalina, mas os líderes mundiais que se reuniram em Copenhaguen para a 15º Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, se negam a perceber algo que vá muito além do que seu próprio umbigo e bolso. E assim aproxima-se mais um natal: cada um querendo puxar a brasa para o seu assado e todos correndo o risco de, sem perceber, virar o assado da vez. Enquanto isto, por causa da miopia de mentes e corações fechados, “todo universo geme e sofre como uma mulher que está em trabalho de parto” (Romanos 8.22).

Mas as dores do parto, embora angustiantes, também parecem não sensibilizar o suficiente quem olha apenas para o bolso. O menino estava para nascer. Os hotéis estavam lotados e a renda garantida. Uma criança iria atrapalhar os hospedes, tal qual as metas de redução de gases atrapalham os planos de crescimento da economia capitalista! Com muito custo deram-lhe um lugarzinho na estrebaria. Nascia ali o Rei dos reis e quase ninguém percebeu. Não é de estranhar! Cada um olhava apenas para o seu umbigo. Estavam com os olhos e mentes no recenseamento ordenado pelo império, que buscava saber quantos eram e quanto possuíam. O governo interessado em arrecadar e o povo em sonegar. Quem se importaria com o que aconteceu na estrebaria? Ninguém senão uns pastores que, com fidelidade e paciência, guardavam suas ovelhas pelos campos de ar puro das noites de Belém; e os magos que viram a estrela brilhar no céu.

Mais de dois mil anos passaram e a poluição do pecado e do egoísmo continua a impedir os olhos e os corações de ver a estrela que brilhou no céu de Belém. Vem a noite de natal e a agenda está tão lotada que não há espaço e tempo para ir à estrebaria (igreja) adorar o menino-Deus. Correm freneticamente atrás de ganhar a vida, emitem poluentes e se esquecem daquele que é a vida por excelência. Sem tempo para o menino-Deus, são como o peru que se alimenta alegremente e não nota que o forno o espera. Esbaldam-se na ração do pecado e do prazer sem perceber que assim vão para o forno eterno, pré-aquecido para o diabo e os seus (Mateus 25.41).

"O relógio está zerado. Chegou a hora. Temos que transformar propostas em ações", afirmou o chefe da ONU em Copenhaguen. E para deixar o forno menos quente para a geração que vem, o ideal seria que cada um agisse agora, já á partir deste natal. Ainda bem que enquanto os homens pensam apenas em seus interesses e parece que não se importam com a próxima geração, Deus, muito antes de a terra aquecer, agiu: Amou o mundo (João 3.16) e fez o que prometeu; ainda que lhe custasse a vida: “hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o salvador de vocês – o messias, o Senhor” (Lucas 2.11). Quem nele Crê, ainda que morra, viverá! (João 11.25). Por isso, antes que a terra esquente mais “escutem o que Deus diz: hoje é o dia de ser salvo” (2 Coríntios 6.2). Eis o sentido de o natal estar no ar e no coração!

Ernani Kufeld
Teólogo e pastor da Igreja Luterana em Aracaju

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