quarta-feira, 26 de novembro de 2008

PALAVRINHA DIFÍCIL


A palavra mais longa vem da Suécia: Sparvagsaktiebolagsskewsmutssjutareck-foreningspersonalbekladnadsmagasinsforradsforvaltaren. O que significa? “Cargo da pessoa que trabalha no depósito de fornecimento de uniformes ao pessoal do sindicato de limpadores de vias férreas”. E a palavra mais difícil vem do coração: “obrigado”. Não penso na pronuncia daqueles que soletram na frente do espelho e ali encontram a imagem de um deusinho. Refiro-me àqueles que têm a língua solta. Por isto, se o dia de Ação de Graças é para redimir-se daqueles outros quando se ficou com a língua presa, então tudo bem. Porque o perdão também existe para a ingratidão. E no lugar de dizer com o fariseu: “Senhor, eu te agradeço porque não sou igual às outras pessoas”, seguir na trilha do cobrador de impostos: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou um pecador” (Lucas 18.13). Bem lembrou Davi: “O que tu queres é um coração sincero... Então terás prazer em receber os sacrifícios certos” (Salmo 51.6,19).
Mas por que é difícil dizer “muito obrigado” àquele em quem vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28)? Da boca para fora é a coisa mais fácil. A resposta é o nariz empinado. Ou como disse Moisés ao povo de Israel: “Tomem cuidado para não ficarem orgulhosos e esquecerem o Senhor, nosso Deus. Não pensem que foi com a sua própria força e com o seu trabalho que vocês conseguiram todas essas riquezas” (Deuteronômio 8.14,17). Jesus mesmo, ao ensinar pelo “pão nosso de cada dia”, alertou contra este deus entre as orelhas, fruto de uma indesculpável amnésia que faz do pão o patrão. “Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro” (Mateus 6.24), diz o Salvador ao coração cheio de cálculos – que sempre quer negociar com Deus.
Por isto a explicação de Lutero aos que oram o Pai Nosso: “Deus, em verdade, dá o pão de cada dia, mesmo sem a nossa prece, a todas as pessoas, também aos descrentes. Mas suplicamos nesta petição que nos faça reconhecê-lo e receber com agradecimento o pão de cada dia”. Este é um lembrete que deveria ser fixado à porta da geladeira junto com a oração: “Dá-me somente o alimento que preciso para viver. Porque, se eu tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de ti” (Provérbios 30.8,9). Uma oração bem diferente destas que andam por aí: Dá-me riquezas, Senhor, para nunca se esquecerem de mim.
Quem não depende de Deus não consegue dizer “obrigado”. Por isto “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Porque se sobrar um pouco ou bastante, o pão nosso vira “meu”, fica pão dormido, e desgraçadamente não chega à boca dos que têm fome. No final, quem não agradece também não reparte. O começo de tudo, então, é aprender esta palavrinha difícil. E o único jeito é soletrando a “Palavra que se tornou um ser humano e morou entre nós (...) Porque todos nós temos sido abençoados com as riquezas do seu amor, com bênçãos e mais bênçãos” (João 1.14,16).
Marcos Schmidt
Pastor luterano

marsch@terra.com.br

terça-feira, 18 de novembro de 2008

INSTINTO CRISTÃO


Estamos nos aproximando do final do ano eclesiástico, o ano da igreja. Nesse período meditamos e nos preparamos para comemorar o Natal, a primeira vinda de Jesus ao mundo e, ao mesmo tempo, nos preparamos para sua segunda vinda no dia do Juízo Final.
O evangelista Mateus registra em seu livro, no capítulo 25, versículos 31 até 46, palavras do Senhor Jesus a respeito do “Grande Julgamento” que acontecerá no último dia. Quando lemos e meditamos sobre esse texto, dificilmente conseguimos criar outra imagem em nossa mente a não ser a de um tribunal, um juiz muito justo separando os salvos dos condenados. Pois é exatamente isso que Jesus relata nesse texto.
Porém, quero convidar o caro leitor a observar com muita atenção um detalhe interessante nesse texto: a reação dos sentenciados: “Senhor, quando foi que vimos o senhor com fome, ou com sede, ou como estrangeiro, ou sem roupa, ou doente, ou na cadeia...?
Os sentenciados, tanto salvos como condenados, tem a mesma reação, uma reação de admiração diante do critério usado para tal julgamento: as boas obras!!! Talvez nós também nos assustemos com este critério. Afinal, não repetimos a cada momento que nossa salvação é pela fé e não pelas boas obras?! Não temos estampado por todos os lados o lema da Reforma “O justo viverá por fé”?! (Rm 1.17)
Antes de continuar a leitura, peço que medite um pouco a respeito da seguinte afirmação: “Deus salva pela fé, mas julga pelas obras!
Instinto [do latim instinctu] – 1. Tendência natural; aptidão inata. 2. Força de origem biológica, própria do homem e dos animais superiores, que atua de modo inconsciente, espontâneo, automático, independente de aprendizado. 3. Espécie de inteligência rudimentar que dirige os seres vivos em suas ações, à revelia de sua vontade e no interesse de sua conservação.
Querido amigo, as boas obras, para o cristão, são instintivas, naturais, próprias dele, algo que acontece de forma tão natural que, ao ser julgado por elas, ele se espanta – “mas como assim? Tudo isso sempre foi algo tão natural em minha vida, repartir o amor que recebi de Deus com o próximo, como isso pode me tornar merecedor da vida eterna?
É claro que a nossa salvação é única e exclusivamente pela fé, pois é somente através desta fé verdadeira que o Espírito Santo nos move a praticarmos boas obras.
Por outro lado, os condenados também se espantam, pois são pessoas que vivem suas vidas preocupados com a vida eterna, mas sem confiar inteiramente em Cristo e sua obra redentora. Acham que o que Cristo conquistou por nós na cruz não é o suficiente para nos garantir a vida eterna. Dessa forma, acabam por querer “fazer por merecer”. Levam uma vida inteira tentando realizar “grandes obras” aos olhos humanos, que lhes dêem reconhecimento e status social. Essas “pequenas obras” do amor cristão não servem para eles. Por isso serão lançados no inferno com o Diabo e seus anjos.
O cristão verdadeiro não se orgulha de suas obras. Diariamente se alimenta da Palavra de Deus, nutrindo sua alma para a prática das obras próprias dos seus filhos; humildemente permite que Deus guie sua vida e suas ações e, firme na fé em Jesus Cristo, segue seu caminho rumo à vida eterna.
Que o nosso testemunho de vida possa levar muitos a conhecerem o verdadeiro amor de Deus revelado em Jesus Cristo, e que dessa forma muitos possam ouvir, no último dia o maravilhoso convite: "Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo.” (Mt 25.34). Amém.

Pastor Marcio Loose

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

UM GRANDE ZERO


Trinta e três trilhões de dólares – em algarismos, 33.000.000.000.000. São vários zeros para descrever o prejuízo das ações nas bolsas de valores pelo mundo nos últimos dias. A quantia de dinheiro é tão grande, que só mesmo comparando com alguma coisa. Por exemplo, com o Produto Interno Bruto brasileiro que no ano passado totalizou 2,558 trilhões de reais. Isto quer dizer que as perdas nas bolsas engoliram 30 anos das riquezas de um Brasil. Não entendo nada de economia, tanto que faço um esforço danado para cuidar das minhas contas. Mas entendo o que Paulinho da Viola canta: “Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval. Na vida de um sonhador, de um sonhador, quanta gente aí se engana e cai da cama com toda ilusão que sonhou. E a grandeza se desfaz quando a solidão é mais – alguém já falou.”
Por falar em dinheiro, quanto vale o corpo humano? Um bioquímico separou os "ingredientes" essenciais do corpo de uma pessoa de 70 quilos e fez o seguinte cálculo conforme os preços no mercado: 13,2 quilos de DNA placentário = 9,7 milhões de reais; 14 quilos de ácido esteárico = 400 reais; 11 quilos de albumina de soro bovino = 38 mil reais; 3,9 quilos de fosfatos de cálcio, magnésio, zinco, cloretos de sódio e potássio = 1.050 reais; 1,1 quilo de amido = 410 reais; 40 litros de água mineral = 15 reais; total = 9 milhões e 740 mil reais. É uma conta que pode ajudar pessoas que pensam que não valem nada. Mas isto também é vendaval. Ou pior, é o que se faz por aí na medicina, no comércio de órgãos humanos e na prostituição.
Mas quanto vale mesmo um ser humano? Jesus, que deu a vida para pagar o preço (1 Coríntios 7.23), e foi vendido por trinta moedas de prata – uns mil reais – responde que o ser humano vale mais do que todas as riquezas do mundo inteiro. “Não há nada que poderá pagar para ter de volta essa vida”, complementa o Senhor (Mateus 16.26). E se o assunto é dinheiro e valor, o Salvador faz uma comparação interessante: “Por acaso não é verdade que cinco passarinhos são vendidos por algumas moedinhas? No entanto Deus não esquece nenhum deles. Até os fios dos cabelos de vocês estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos!” (Lucas 12.6,7). Enquanto isto o salmista pergunta: “Ó Senhor, que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com ele? No entanto, fizestes o ser humano inferior somente a ti mesmo e lhe deste a glória e a honra de um rei” (Salmo 8).
Pois é bom às vezes deixar a calculadora de lado, as preocupações econômicas – e definitivamente a ganância, e refletir no real valor da vida, minha e dos outros. Deixar de olhar para aquilo que as pessoas têm, e ver aquilo que elas são. E assim descobrir que um “pé-de-chinelo” pode valer muito mais que um “dono do mundo” que não sabe onde meter a sua fortuna. Porque, no final das contas, tudo vai virar um grande zero.
Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

CULTO ESPECIAL

No dia 01 de novembro foi realizado um culto muito especial em nossa congregação. Comemoramos os 491 anos da Reforma Luterana e também tivemos a grande alegria de ver e ouvir nossa irmã Sílvia Grasielle da Silva Geraldo confirmar seu voto batismal.
Forma momentos de grande alegria para todos. Contamos com a presença de muitos amigos visitantes e irmãos na fé.
Agradecemos a todos pela presença e parabenizamos, de forma especial, a família Geraldo por esse momento tão importante vivido neste dia. Desejamos á Silvia que continue firme na sua intenção de continuar servindo a Deus e ao próximo com muito amor.


Sílvia com seus pais e padrinhos.

Sílvia recebendo a bênção.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

FELICIDADE


Semana passada aconteceu em São Paulo a I Conferência Nacional sobre Felicidade Interna Bruta – FIB. Vários especialistas do mundo e ONGs brasileiras debateram neste encontro sobre o que faz alguém ser feliz. Segundo a antropóloga norte-americana Susan Andrews que palestrou no encontro, pessoas felizes têm sistemas imunológicos mais fortes, vivem mais tempo, têm melhor desempenho no trabalho, são mais capazes de lidar com situações difíceis, têm melhores casamentos, se saem melhor nas entrevistas de emprego, têm maior capacidade de liderança, são mais sociáveis e despertam mais empatia nas outras pessoas. Apesar do dinheiro não tornar as pessoas mais felizes, ela explica que o conceito de felicidade não implica em negar o progresso material, mas ter uma vida equilibrada entre as coisas materiais com amorosos relacionamentos e paz interior.
A psicóloga Carla Lauffer, na palestra que assisti “Felicidade Autêntica” (baseada no livro do mesmo nome de Martin Seligman), explica que “ser feliz” tem grande relação com a maneira de se enfrentar os problemas. “Os pessimistas têm um modo pernicioso de explicar seus reveses e frustrações, enquanto os otimistas têm uma força que lhes permite interpretar os reveses como resultantes de circunstâncias temporárias”. Entendo que neste mundo onde todos indistintamente passam por situações ruins, o segredo da felicidade está na “esperança”. E aqui entra o meu campo, a religião. Porque segundo pesquisas sobre os efeitos psicológicos da fé, as pessoas religiosas são fisicamente mais saudáveis e vivem mais tempo. Isto quer dizer que pessoas religiosas são mais felizes, e se são mais felizes é porque tem esperança. No entanto, creio que dependendo da religião a pessoa pode ser extremamente infeliz.
A Bíblia fala bastante sobre a felicidade. Diz que quem confia em Deus é feliz (Provérbios 16.20). Jesus, depois de mencionar as famosas “bem-aventuranças” (ou “a verdadeira felicidade” na Bíblia da linguagem de hoje), lembra: “Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês” (Mateus 5.12). Mas será que o cristão deve enxergar tudo na expectativa do céu? E as conquistas aqui neste mundo terreno? Na verdade, não é preciso se desligar das coisas materiais para ser feliz – ter uma vida contemplativa. Como explica a antropóloga, é preciso equilíbrio. Uma harmonia que tem um segredo: confiança em Deus. É nesta direção que Jesus explica, após falar das bem-aventuranças: “Não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações” (Mateus 6.34).

Se alguém me perguntar: Marcos, tu és feliz? Responderei: Sim, eu sou feliz! Não só pela certeza daquilo que me está reservado lá do outro lado, mas por tantas coisas do lado de cá. Aliás, “contentamento” vem daquilo que disse o apóstolo: Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em qualquer situação (Filipenses 4.12).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

terça-feira, 4 de novembro de 2008

CONHECE-TE A TI MESMO


Gosto muito de ditados populares, penso que eles nos ensinam muitas coisas principalmente quando podemos chegar ao centro de suas proposições. Porém existe um ditado que me intriga todos as vezes que penso nele e, por mais que eu tente entender o que realmente está por trás, não encontro resposta satisfatória.
Um homem prevenido vale por dois.”
Ainda não descobri o que significa esse valer por dois, qual a vantagem que isso me dá? Talvez porque duas cabeças pensam melhor do que uma? Acho que não.
Creio que esse ditado tem mais a ver com o famoso lema da filosofia de Sócrates – “Conhece-te a ti mesmo” – um homem prevenido é aquele que se conhece tão bem que pode prever as mais variadas situações com as quais pode se defrontar, por isso está sempre preparado.
O conhecer-se a si mesmo é algo de grande valor e grande importância, porém não temos colocado isso em prática nas nossas vidas. Contudo creio que há uma resposta para esse desinteresse com relação ao autoconhecimento.
Conhecer-se a si mesmo é tornar-se consciente da própria ignorância. Conhecer-se a si mesmo é, acima de tudo, reconhecer erros, limitações, falhas, pontos fracos. Isso é difícil, é doloroso ao ser humano que quer sempre ser o melhor, quer estar acima dos outros, quer pisar, quer humilhar seu semelhante jogando-lhe na cara seus próprios atributos e virtudes.
Porém o conhecimento verdadeiro passa necessariamente pelas nossas mazelas; é necessário tocar nas feridas, é necessário tirar a sujeira que foi varrida para baixo do tapete. Porém isso não deve ser feito com o intuito de ridicularizar ou humilhar-se a si mesmo (mesmo porque esse exercício deve ser feito no nosso interior). Conhecer e reconhecer nossos defeitos é a melhor maneira de aprender para um crescimento verdadeiro e solidificado. Aprender com os acertos é gostoso, mas aprender com os erros é construtivo.
O autoconhecimento faz bem à alma. Jesus disse certa vez que deveríamos, e devemos, amar os outros como amamos a nós mesmos. Porém como amar alguém sem o conhecer? Como eu posso me amar se nem me conheço de verdade? Somos convidados a uma maravilhosa viagem, uma viagem ao nosso interior. Augusto Cury em seus livros nos convida a escavarmos tesouros dentre os destroços do nosso ser. Com certeza vamos encontrar coisas valiosíssimas quando nos defrontarmos com o nosso “eu” verdadeiro, escondido e trancado a sete chaves no fundo do nosso ser.
Diz uma música dos Titãs: “tem cinco minutos guardados dentro de cada cigarro”. Existem também muitos minutos guardados num choppinho com os amigos, por exemplo, batendo um papo. Que tal fazermos um bate-papo diferente – eu comigo mesmo – aproveitando cada gole de chopp ou refrigerante (algo para refrescar nosso corpo e nossa mente nesse verão que bate a porta) para rever meus conceitos, me alegrar com meus acertos e minhas virtudes, reconhecer meus erros e meus defeitos, mudar aquilo que posso, aceitar aquilo que não tenho forças nem condições de mudar mas, acima de tudo, buscar ser eu mesmo.
Não viva sua vida pela cartilha dos outros, aprende o máximo que puder para poder escrever seu próprio manual. Conhece-te a ti mesmo. Eu ainda não me conheço bem. Que a paz de Deus nos dê sabedoria e coragem para esse autoconhecimento.

Pastor Marcio Loose.