quarta-feira, 25 de março de 2009

Bíblia com “B” minúsculo?

Estou curioso para ler o recente livro de Moacyr Scliar, Manual da Paixão Solitária, que fala da Bíblia no dia-a-dia das pessoas. Em entrevista, Scliar disse que “a cultura bíblica é decisiva na formação do Ocidente e por explorar as paixões humanas, toca as pessoas no seu cotidiano, e por isso que até hoje é um best seller” (clic RBS). No entanto, estou mais curioso do motivo que levou o redator da matéria escrever “bíblia” – com letra inicial minúscula. Está em qualquer manual de redação que os títulos de livros têm a letra inicial maiúscula. Ora, se o título do livro de Scliar está perfeitamente redigido, não entendo a razão de “Bíblia” aparecer 8 vezes no minúsculo no texto desta notícia eletrônica.
É difícil a gente não incorrer em erros, sobretudo ortográficos. Mas, têm horas que o “pré” ou o “pós” conceito faz a gente errar conscientemente. O que é uma grande tolice. Não é o caso de Scliar que disse: — “Eu não leio a Bíblia de maneira religiosa, eu leio a Bíblia de maneira literária”. Mesmo sem dar crédito divino, o escritor não esconde que a Bíblia está sempre na sua mesa e a consulta regularmente, coisa que muitos cristãos esquecem de fazer ou têm vergonha de dizer.
Outro escritor famoso que gosta de ler a Bíblia de maneira literária é Luis Fernando Verissimo. Percebe-se isto por sua inteireza nas histórias bíblicas e até em doutrinas – ele que seguidamente aborda temas cristãos. Foi o que aconteceu no seu ultimo artigo, Armagedon. Irônico e perspicaz como sempre (e insistindo que é um ateu não praticante), Verissimo faz uma interpretação coerente com aquilo que eu já escrevi aqui sobre a guerra de Israel. “Israel precisa ouvir os seus sensatos. Precisa, principalmente, saber quem são os seus amigos”, conclui, depois de criticar o fundamentalismo cristão e judaico que encara um Armagedon de carne e osso, isto é, uma batalha física e geográfica entre o Ocidente e o Oriente, entre o bem e o mal.
Por interpretações equivocadas e pela incoerência entre palavras e atitudes, isto pode explicar, em parte, a “bíblia” – no minúsculo. O crescente ateísmo, o descrédito com as instituições – sobretudo com as religiosas, a degradação familiar, a insuportável corrupção política e social, a proliferação da violência, enfim, todo este cenário caótico no “mundo cristão” diretamente nos acusa: - Onde está a Bíblia de vocês.
Assim, dá para entender que Bíblia no minúsculo nem é um erro de redação. Pode ser um problema de ação. “Não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas a ponham em prática” (Tiago 1.22). O que não invalida o poder que ela tem, nem diminui as suas letras. E por um único fato: “Antes de ser criado o mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus (...) A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade” (João 1.1,14).
No fim das contas, antes de reprovar o redator, preciso mesmo analisar se a minha vida começa com um “v” maiúsculo.

Marcos Schmidt
pastor luterano
marsch@terra.com.br

quarta-feira, 18 de março de 2009

NÃO PODEMOS NOS ACOSTUMAR

O mais grave é que estamos aceitando tudo isto. Dias atrás um homem foi violentamente agredido com paus e pedras sob os olhares curiosos de dezenas de pessoas e sob as lentes de uma câmera. Foi no Arroio Dilúvio, numa avenida movimentada de Porto Alegre. Três moradores de rua tentavam matar um companheiro. Sobreviveu graças a intervenção de um soldado da Brigada Militar que, fora de serviço e a paisana, entrou de roupa e tudo nas águas poluídas contra a selvageria. Mais tarde o policial confessou sua perplexidade diante da omissão de gente que não fez nada para salvar a vítima.

Esta cena do Dilúvio tem explicações. O voyerismo sádico da violência é uma delas. Um mal que se espalha nas escolas, estádios de futebol, baladas, trânsito, na sociedade em geral. A vontade de ver sangue – alimentada pelos jogos eletrônicos, filmes, internet – virou praga. É o prazer pelo espetáculo da barbárie – tipo de vídeo mais assistido pela internet. Que Deus nos livre deste sadismo.

Outra resposta vem da indiferença com os miseráveis. “Era um morador de rua, e este tipo só atrapalha a nossa vida”. A gente pensa isto. Pelo jeito o bom samaritano é coisa rara, e sobram sacerdotes e levitas que passam pelo outro lado da estrada (Lucas 10.25-37). Que nenhum de nós fique maltrapilho e jogado na calçada – ninguém vai nos enxergar.

Também tem explicação no ditado “cada um por si e Deus por todos”. A solidariedade há muito foi para o espaço. “A maldade vai se espalhar tanto, que o amor de muitos esfriará” (Mateus 24.12). Será que o Salvador refere-se aos tempos atuais? Que este amor caridoso ainda esteja ardendo em nosso coração.

Outra coisa é o hedonismo – palavra que expressa este jeito bem explícito pela busca egoísta e adoidada do prazer. Isto também explica o sexo sem compromisso, a pedofilia, o aborto, as drogas, a obsessão pelo sucesso que passa por cima dos outros. Nem é preciso dizer que esta filosofia do prazer está viva e ativa na política, nos governos, nos órgãos públicos, na economia, e pior, na família. Se a maioria quer “ser feliz” de qualquer jeito, que eu siga pelo caminho estreito do desprendimento.

Mas a explicação está mesmo no “Dilúvio”. Diz a Bíblia que “quando o Senhor viu que as pessoas eram muito más e que sempre estavam pensando em fazer coisas erradas, ficou muito triste por haver feito os seres humanos” (Gênesis 6.5). Depois vem o Dilúvio. A razão para toda esta ruindade é comentada por Jesus: É de dentro do coração que vem tudo isto (Marcos 7.21-23). É o arroio sujo que transborda da natureza humana com todos os dejetos do pecado.

Mas a solução existe, e vem do próprio Filho de Deus, ele que disse: “Mas entre vocês não pode ser assim” (Marcos 10.43). Paulo recomenda: "Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês” (Romanos 12.2). O mundo tem salvação e não podemos nos acostumar com a podridão dele.

Marcos Schmidt
Pastor luterano

marsch@terra.com.br

quarta-feira, 11 de março de 2009

ESTUPRO, GRAVIDEZ E UM DILEMA

Que caso difícil este que envolveu o estupro de uma menina de nove anos, a gravidez de gêmeos e o aborto provocado pela equipe médica para preservar a vida da menina.

Diante desse caso, sentimo-nos pequenos, fracos e por demais imperfeitos. Notamos o quanto à justiça foge das mãos humanas. Tais casos ganham o nome de dilema, um dilema onde optando pelo aborto, duas vidas foram sacrificadas. Um dilema onde se optassem pela continuação da gravidez, a vida da menina correria riscos e igualmente os gêmeos facilmente iriam a óbito. Qual fosse a decisão incorreria em erros.

Sou contra o aborto, pois é um assassinato! No entanto, sinto-me pequeno demais para colocar-me como juiz nesta situação. Creio que os profissionais da medicina, que lutam pela vida, tiveram suas razões para tomar tal decisão. No entanto, toda sociedade deve lamentar a morte destes gêmeos. Não no sentido de condenar ou de excomungar este ou aquele, mas de compreender que se tratavam de vidas, e compreender que devemos buscar e lutar contra o verdadeiro causador desta catástrofe.

O indivíduo que verdadeiramente causou todos estes malefícios foi o estuprador. Incrivelmente, a mídia perdeu este foco – ficamos a debater a postura do bispo católico e dos médicos e nos esquecemos do pedófilo, nos esquecemos do estuprador! E digo mais, nos esquecemos de toda uma rede que alimenta estes casos. Por que será que o número de crianças molestadas tem aumentado tanto?

Vivemos numa sociedade excessivamente erotizada! Vivemos numa sociedade que alimenta e enobrece a pornografia, que escancara tudo isso aos nossos olhos e aos olhos das crianças. Queimamos etapas e semeamos o caos. Toda esta acumulada erotização alimenta a mente insana de alguns. A sexualidade é corrompida de tal forma que muitos se acham no direito de abusar, de estuprar! Este abuso já é condenável com um adulto, imaginem com uma criança.
A mídia, de olho no ibope e no lucro, alimenta essa rede. A sociedade como um todo participa do processo e depois sofre as conseqüências.

Mais importante do que dissecar o caso da menina de nove anos e da morte dos gêmeos, julgando a atitude do arcebispo ou julgando a atitude dos médicos, mais importante do que tal julgamento é dar a mão à palmatória e assumir que tornando a sexualidade algo descartável, tornamos a própria vida descartável. Assim pensa-se que podemos usar o outro para o prazer próprio e depois descartá-lo. Assim a vida perde o valor. O aborto então passa a ser algo natural, o estupro e os abusos tornam-se freqüentes.

Que Deus nos livre deste caos e que nos reensine a valorizar a vida a partir do seu amor e dos seus ensinamentos.

Ismar L. Pinz
Pastor luterano

A FÉ NOS MIOLOS

Agora os cientistas descobriram a maneira como o cérebro ativa a fé religiosa. Isto quer dizer que a fé tem lugar específico nos miolos. Mas, o que me interessou na notícia foi uma frase que li: “Apesar de não ser possível comprovar a existência ou a ausência de Deus, o grupo de cientistas descobriu que se pode analisar a atividade cerebral desencadeada pelas crenças religiosas”. Só mesmo uma pessoa sem o uso completo do cérebro para dizer tal insensatez, de que não é possível comprovar a existência ou ausência de Deus.

Nas férias li o livro “Um ateu garante: Deus existe”. A obra, de famoso filósofo inglês, traz interessantes argumentos sobre a impossibilidade de não existir um supremo criador. Considerado o principal filósofo dos últimos cem anos, Antony Flew defendeu o ateísmo por mais de meio século - uma convicção que abraçou aos 15 anos, mesmo sendo filho de pastor. Por isto a surpresa quando em 2004 a mídia divulgou que ele havia mudado de idéia. No livro, o ex-ateu argumenta: “Minha jornada para a descoberta do Divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão. Segui o argumento até onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um Ser auto-existente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente”.

A Bíblia diz que fé é uma obra divina e não humana (Efésios 2.8). Mas, o que dizer então desta experiência na massa cinzenta do filósofo, e agora desta pesquisa? Na verdade, não é fé, mas conclusões lógicas. E é neste ponto que o livro interessa na discussão com o ateísmo que se agarra nas saias da Ciência e sob o manto do darwinismo, para proclamar: Deus não existe e tudo surgiu do nada. Delírio, loucura, insensatez? Quem sofre deste mal? Davi dispara que irracionais são aqueles que dizem em seu coração: “Não há Deus” (Salmo 53.1). Paulo adverte que tais céticos não têm desculpa nenhuma, pois “desde que Deus criou o mundo, as qualidades invisíveis dele, isto é, o seu poder eterno e a sua natureza divina, têm sido vistas claramente” (Romanos 1.20). Ou, nas conclusões de Flew: “Minha descoberta do Divino tem sido uma peregrinação da razão e não da fé”.

Creio que os sofisticados telescópios e microscópios não estão aí por acaso – igual ao surgimento do mundo na concepção evolucionista. É uma chance do Criador. Mas, até aqui – esta fé cerebral de que existe um ser superior – isto os próprios demônios têm, e por isto tremem as canelinhas (Tiago 2.19).

E se fé é uma coisa que se vive, Jesus tem uma palavrinhas aos crentes: "Se nesta época de incredulidade e maldade um cristão tiver vergonha dos meus ensinamentos, eu terei vergonha desta pessoa quando vier na glória de meu Pai" – para exigir os direitos autorais (Marcos 8.38). Penso que nem é preciso de fé para dizer: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da Terra” – porque isto a Ciência confirma. Agora, afirmar: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho...”, isto não vem dos miolos, vem de cima e mora no coração.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br