sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sonho de ficar rico

Um matemático disse o seguinte sobre a Mega Sena: “Pegue uma moeda e escolha cara ou coroa. Depois, jogue-a para o alto 25 vezes. A chance de ela cair as 25 vezes do mesmo lado é semelhante à de acertar neste jogo de loteria”. Cálculos precisos afirmam que a probabilidade de alguém acertar a Mega Sena é de um em 50 milhões. É mais fácil, portanto, encontrar uma panela com moedas de ouro cavando buracos nos fundos de casa. Evidentemente que sempre tem o cara de sorte, aquele um que ganha, e que desta vez foi em Novo Hamburgo. Só que o “bolão deu bolo”, deu azar.

Não acredito em sorte nem em azar. E penso que este caso da aposta vencedora que não foi registrada pela lotérica, pode ajudar na reflexão sobre os efeitos da jogatina na vida de uma pessoa. Porque a frustração destes apostadores que viveram a riqueza por algumas horas – sentimento que deve estragar o humor deles por um bom tempo – serve de alerta para os milhões de apostadores que sonham, sonham e sonham, e nunca chegam lá. Alguém pode dizer que sonhar é preciso. Mas qual é o sentido da vida quando no final, tudo ficou apenas no sonho? Quando a realidade dos detalhes da vida, do dia a dia, foi desprezada e anulada? Pois este é o “azar” dos jogos de azar: eles matam as coisas boas do presente.

Seguidamente me perguntam: o que a igreja pensa sobre isto? Bem, depende da igreja, porque tem “casas de Deus” que são concorrentes com as casas lotéricas. Na verdade, dinheiro é assunto sério na Bíblia, pois foram trinta moedas de prata que levaram o Filho de Deus até à cruz. Por isto a recomendação: “Se temos comida e bebida, fiquemos contentes com isso. Porém, os que querem ficar ricos caem em pecado ao serem tentados, e ficam presos na armadilha de muitos desejos tolos, que fazem mal e levam as pessoas a se afundarem na desgraça e na destruição” (1 Timóteo 6.8,9). Querer ficar rico não é nenhum pecado. O problema é o “como”, o “por que” e o “para que”.

E quando a propaganda do consumismo não nos permite ficar contentes com a comida e a bebida que temos, então não é nenhuma surpresa o crescimento da cobiça, dos roubos, da corrupção, da desonestidade – de tudo isto que vem acontecendo na sociedade, na política, nos negócios. E se a Bíblia diz que “sem dinheiro não se pode ter nem uma coisa nem outra”, por outro lado sugere: “Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a ambição de ficar rico nunca terá o que quer. Isto também é ilusão” (Eclesiastes 10.19 e 5.10). Foi por isto que Jesus, ao falar das riquezas, recomendou: “Ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas essas coisas” (Mateus 6.33). Ao menos, esta é uma aposta que está registrada e que todos ganham pela fé (não pela fezinha). É o que promete o texto cristão: “Se ele nos deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas?” (Romanos 8.32).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Carteira de motorista

Quando percebi, estava com a carteira de motorista vencida e tinha ainda uns dez dias com prazo de validade para dirigir. Isto foi agora, em janeiro. Corri logo atrás da renovação optando pela prova. Lá fui eu, sem me preparar. Das trinta questões respondi corretamente vinte e duas. Precisava acertar vinte e uma. Foram perguntas “pega ratão”, como tinham me avisado. Fiquei surpreso pelo grau de dificuldade nas questões. Depois soube que oitenta e cinco por cento das pessoas que não se preparam, rodam na prova. Passei por um triz.

A gente passa por um triz todos os dias neste trânsito louco e assassino. Já estou com a nova carteira de motorista no bolso, mas recomendo não seguirem o meu exemplo. É preciso ficar de olho no vencimento da habilitação e preparar-se devidamente para a prova. Ou então fazer o curso de direção defensiva e primeiros socorros – que por informações que obtive, oferece dicas importantes e essenciais. O problema é que a gente se acha. Pensa que sabe tudo, e esquece que o volante é uma arma engatilhada. Uma estimativa diz que a cada ano os acidentes de trânsito no Brasil matam 40 mil pessoas, custam 30 bilhões de reais, deixam 100 mil vítimas com deficiências temporárias ou permanentes e 400 mil feridas. É um terremoto cruel e devastador. Precisamos nos dar conta disto, sobretudo quando a vida da nossa família está literalmente em nossas mãos.

Comparo a carteira de motorista com a fé cristã. Por isto as recomendações bíblicas: “Viva uma vida correta, de dedicação a Deus, de fé, de amor, de perseverança e de respeito pelos outros. Corra a boa corrida da fé e ganhe a vida eterna” (1 Timóteo 6.11,12). Jesus também disse que ele é o Caminho e que ninguém pode chegar ao Pai senão por ele (João 14.6). Seria um caminho tranquilo se não fossem as nossas falhas, desatenção, desobediência. Segundo uma pesquisa, noventa por cento dos acidentes nas rodovias são por falha humana. Na estrada espiritual é cem por cento. Pela justa lei divina, ninguém teria habilitação e direito de seguir rumo à cidade celestial. Existe, no entanto, uma boa notícia: “Por graça e sem exigir nada, Deus aceita a todos por meio de Cristo Jesus, que os salva” (Romanos 3.24). O que não permite desatenção, já que ainda estamos num trânsito repleto de perigos. Por isto a oportuna sinalização: “Prestem atenção na sua maneira de viver (...) Não ajam como pessoas sem juízo (...) Não se embriaguem (...) mas encham-se do Espírito de Deus” (Efésios 5.15-18).

Sem dúvida, dirigir um carro e viver a fé cristã tem muita coisa parecida. E, se não adianta apenas ter a carteira de motorista, mas é preciso também carregá-la junto, isto lembra que não basta ter a fé. Ao menos é isto que diz a Bíblia: “Que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações?" (Tiago 2.14).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Prepare-se: o Carnaval está chegando


No último domingo, zapeei algum tempo com o controle remoto da TV. É impossível não saber: o carnaval novamente está “chegando” novamente ao Brasil. A tragédia do Haiti ainda ocupa os holofotes, mas de maneira crescente os meios de comunicação voltam suas pautas para considerada “maior festa popular do Planeta”. Cada vez mais, tamborins, cuícas, fantasias, passistas, blocos aos poucos anunciam a sua chegada, convocando o povo para dias de “muita festa”.

Mas que festa? O Dicionário Etimológico Nova Fronteira explica que o carnaval é o "período anual das festas profanas, os três dias imediatamente anteriores à quarta-feira de cinzas, dedicados a folias, folguedos... do italiano carnevale". Ou, literalmente, festa da carne, carnal; relativa aos “prazeres” conectados com o lado físico do ser humano.

Boa parte das denominações religiosas cristãs tem procurado ficar a uma boa distância do carnaval. Não que exista algo errado no fato do cristão festejar, pular, cantar, alegrar-se. Também não existe problema no carnaval como uma manifestação cultural de grande mobilização e intenso apelo estético. O problema está no que o carnaval simboliza, provoca e, em muitos casos, pressupõe em diversos círculos sociais: o culto à “carne” (em detrimento de “espírito”), libertinagem, drogas, bebedeiras, sexo desvairado, desprotegido e, na maioria das vezes, descompromissado. Quem "pula" carnaval expõe-se ao risco de ser afetado negativamente por um ou mais destes excessos.

Diversas denominações religiosas têm olhado o feriadão de carnaval como uma época propícia para fazer uma espécie de contraponto à “festa da carne”: a “festa do espírito”. Grupos maiores ou menores se reúnem para celebrar a “festa” da fé. Uma “festa” que procura a edificação e a responsabilidade, e não a exposição ao dano físico e emocional e o descompromisso com valores necessários para bem-estar individual e social.

O cristão procura ter como norma para a sua vida individual e social o que a Palavra de Deus recomenda: “posso fazer todas as coisas, mas nem todas me convêm” (1 Coríntios 6.12). Dentro da sua liberdade cristã, ele questiona: Deus está presente? Isso vai trazer algum dano físico (e espiritual) para mim e para outras pessoas? Existe maneira de aproveitar melhor minhas capacidades, meu dinheiro e meu tempo?

Diz-se que, no Brasil, o ano somente começa depois do carnaval. Isso é grave. O início das folias tantas semanas antes permite uma reflexão oportuna sobre os nossos valores e o que queremos para a nossa própria vida e para o nosso país.

Dieter Joel Jagnow
Teólogo e Jornalista