quinta-feira, 23 de abril de 2009

No fundo do poço

Novo Hamburgo está nas manchetes e o assunto não é o calçado. É a sola da violência. A última notícia diz que ela é a cidade gaúcha campeã em roubos de carro. Mas esta miséria de vida (ou de morte) vem de todos os cantos. Das ruas, do lar, da escola... Não existe lugar onde a gente pode respirar tranquilo. E quando a própria casa perde a paz, então a paranóia é geral. O que está acontecendo? Para quem acompanha os debates e as análises de gente especializada no assunto, ouve dizer que o principal problema é o colapso da família.

E havia violência por toda parte”, diz a Bíblia em Gênesis (6.11). O fato que assusta é o lar. Este local que deveria ser o esconderijo virou campo de batalha. E apavora quando acontece pertinho de nós. Mas o que dizer desta violência que vive disfarçada e por isto não sai nos jornais? Que é emocional, moral, espiritual, e com consequências terríveis?

Qual a saída? Creio que a primeira coisa já está acontecendo: estamos nos dando conta. Porque enquanto vive-se na doce ilusão de que tudo vai bem, que existe salvação na tecnologia, na prosperidade, na segurança material – nestas coisas que já mostraram que não resolvem – nunca haverá qualquer chance de resgate.

Na verdade, é preciso chegar no fundo do poço para poder olhar para cima e ver a luz. E daí encontrar ajuda onde de fato existe. “O que pode fazer uma pessoa honesta quando as leis e os bons costumes são desprezados?” (Salmo 11.3), pergunta alguém em situação parecida. “Não adianta me dizerem: fuja como um pássaro para as montanhas” – foi a constatação. Lá nas montanhas o problema acompanharia. Porque a violência está dentro de cada um. “Porque de dentro, do coração, é que vêm os maus pensamentos, que levam às coisas imorais: os roubos, os crimes, o adultério, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho, a falta de juízo” (Marcos 7.21,22), responde Jesus.

Eu lhes darei um coração novo e uma nova mente” (Ezequiel 11.19). Uma solução do Criador que se fez criatura e prometeu enxugar dos olhos todas as lágrimas (Apocalipse 21.4). Mas antes é preciso chorar. Por isto o mesmo salmista que não foge para as montanhas, declara: “Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava (...) Então eu te confessei (...) e tu perdoaste todos os meus pecados” (Salmo 32.3,5). Davi olhou para o Cristo, conforme a promessa divina.

A única saída sempre virá daquele que está fora e ao mesmo tempo dentro de toda esta miserável situação. Por isto o Salmo 11: “Ele vê todas as pessoas e sabe o que elas fazem. O Senhor examina os que lhe obedecem e também aqueles que são maus; com todo o coração ele detesta os que gostam de praticar violências" (Salmo 11.4,5). E antes que eu olhe para os lados e me considere “bom” e os outros “maus”, devo ouvir Jesus na explicação do “não mate”: “Quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno” (Mateus 5.22). Só mesmo o resgate dos céus para sair deste buraco.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

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