quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

UMA LISTA

O que você faria se o médico lhe dissesse que tem apenas uns seis meses de vida?

No filme “Antes de partir”, dois pacientes com câncer, após receberem a má notícia, decidem viver intensamente seus últimos dias. Internados no mesmo quarto, um arrogante bilionário interpretado por Jack Nicholson e um pacato mecânico vivido por Morgan Freeman, fazem amizade e saem do hospital dispostos a cumprir uma lista de coisas. Item por item a lista é seguida. Pulam de paraquedas, pilotam carros de corrida, fazem uma viagem pelo mundo. Mas, de volta para casa, descobrem que o melhor da vida é “o agora”, e na companhia de pessoas que tanto amam.

É meio perigoso este “viver o agora”. Pode gerar irresponsabilidade. Mas é a pura verdade quando a gente passa boa parte da vida estragando o que depois não tem conserto. Um dia a gente vai olhar para trás e se arrepender por coisas que fez ou deixou de fazer. Creio que este sentimento de contrição é comum, pois a gente aprende vivendo. Mas têm coisas que a gente pode aprender antes de “viver”. E a maneira fácil de conseguir isto é através da vida dos outros. Por isto a importância das biografias. Por exemplo, a história da cantora Maysa. É um tipo de vida que pode ser evitado, e quem diz isto é o próprio filho dela, Jayme Monjardim, na minissérie que ele dirigiu. Aliás, no meio de tanta coisa degradante – tipo este Big-Brother – a televisão as vezes coopera com a integridade dos tele-expectadores. Como esta história da qual somos testemunhas e que merece reflexão – a posse de Barack Obama. O homem mais poderoso tem nas mãos uma lista de coisas em que o mundo todo espera, e tem grandes chances de poder cumpri-la, pois recebe de graça exemplos do seu antecessor que não deram certo.

Creio que a maioria de nós não sabe quanto tempo tem de vida, mas todos têm noção de que ela é finita e passa correndo. Temos uma lista? Conhecer o mundo, ser presidente do Brasil, pular de paraquedas? Cada um projeta o que bem entende. Mas um dia precisaremos retornar para casa, a exemplo de Bush que voltou para a sua listinha pessoal. Em todo o caso, todos deveriam ter uma lista e enumerar nela coisas relevantes, começando com as prioritárias.

Nos rabiscos de uma listagem bíblica, Paulo confessa que jogou tudo fora como se fosse lixo para ganhar a Cristo. “Tudo o que eu quero é conhecer a Cristo” (Filipenses 3.10), sublinha o apóstolo. É um exemplo a ser seguido por aqueles que acreditam que a vida é Cristo e o morrer é lucro, e que, se continuarem vivendo, poderão ainda fazer algum trabalho útil (Filipenses 1.21,22). Uma prioridade que tem o aval do próprio Senhor da vida: “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que poderá pagar para ter de volta esta vida” (Marcos 8.36,37).

O que eu faria se soubesse que tenho pouco tempo de vida? Não preciso desta notícia para rabiscar uma lista com coisas interessantes.

Marcos Schmidt
pastor luterano
marsch@terra.com.br

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