terça-feira, 13 de julho de 2010

Deu no que deu

Esperar o quê de alguém que foi abandonado por uma mãe drogada e por um pai fichado na polícia 7 vezes? Criado pela avó, não teve uma família. O infortúnio deste goleiro está na mídia porque é a vida de gente famosa. Mas é uma história comum, banal – fruto de uma sociedade que não sabe mais onde enfiar tanta gente nos presídios, que se prende a si mesma em segurança atrás de muros, e que sofre a violência no próprio lar.

Foi o ministro Gilmar Mendes que declarou num encontro sobre drogas, semana passada: “Só a Justiça não conseguirá vencer a guerra. Cada família, cada cidadão – somos todos responsáveis”. Agora então a solução para salvar a sociedade está na família? E a solução para salvar a família? O psicanalista francês Charles Melman já alertou: “A instituição familiar está desaparecendo e as conseqüências são imprevisíveis”. Isto todos percebem. O que se desconhece é a causa da falência do lar, ou seja, a ausência paterna. Segundo Melman, devido o declínio do referencial masculino na família, os jovens têm dificuldades para estabelecer um ideal de vida. Situação que evoca um desabafo do especialista: “Impressiona que antropólogos e sociólogos não se interessem por isso".

O desinteresse também é abordado pelo psicanalista brasileiro Rubens de Aguiar Maciel, ao afirmar que há descaso e desconhecimento científico sobre o tema “paternidade”. Sustenta que o pai é figura fundamental na estruturação da personalidade da criança e de seu papel. "É função do pai, estabelecer limites à criança, passar a noção de ela não é o centro do Universo (...) O papel de pai é mais normativo, tem a ver com as obrigações morais que ele deve ter diante de sua família. Já a função dele é algo mais profundo, diz respeito ao mundo interno da criança, à sua personalidade, seu lado emocional."

Por isto então o único mandamento do Decálogo que contém uma promessa, este que trata da família “pai, mãe, filho”. E por isto o recado do apóstolo: “Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer ao seu pai e à sua mãe (...) Faça isso a fim de que tudo corra bem para você, e você viva muito tempo na terra” (Efésios 6.1,3). Bruno, tragicamente, não teve pai nem mãe para obedecer e se dar bem na vida. Deu no que deu.

Marcos Schmidt
pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

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