terça-feira, 18 de agosto de 2009

QUE DEUS É ESSE?

Em nome de deus já fizeram coisas que “até Deus duvida!” E por incrível que pareça, continuam fazendo! Pergunto-me: que deus é esse? Sim; que deus é esse, que vende milagres sem dar recibo? Que recebe o dízimo e dá diploma de dizimista assinado por Jesus (acredite – até isso já apareceu). Que deus é esse, que deixou de receber ofertas sobre o altar como forma de gratidão e agora envia boletos bancários? Pague seu boleto no banco e receba a sua bênção em casa. É isso?

Que deus é esse, que parece estar sentado em sua cadeira real jogando com a miséria alheia? Que pede ao pobre que venda o que de mais valioso ele tem em sua casa e doe o dinheiro à determinada igreja? Que deus é esse, que tudo pode, mas nada faz sem troca de favores? Que deus é esse que “controla” a vida das pessoas como se fossem marionetes? Que se esconde atrás de desejos de homens que se auto-intitulam seus representantes legais e enriquecem a custas da ingenuidade alheia. Que promete que tudo vai dar certo, e se não deu, a culpa é sua que não teve fé.

Que deus é este? Francamente, se deus é assim o diabo já não me parece mais tão ruim.
Sou pastor – não por méritos, mas por misericórdia de Deus. E desde muito antes de ser pastor, sou cristão convicto; e como tal, acredito firmemente que tudo o que sou e tenho, serei e terei, devo ao meu Deus. Mas este deus descrito acima, e apregoado por muitos, definitivamente não é o meu Deus! Muito menos o Deus da Bíblia, embora homens usem o livro sagrado para proclamar este deus. Um deus cruel que age de acordo com interesses humanos e responde apenas aos anseios de uma pequena parcela privilegiada, que descobriu como agradar a este deus; ou, como engabelar o povo.
Não. Definitivamente este não é o meu Deus. Porque este deus de fato não existe. Foi inventado por homens para atender a interesses pessoais e infelizmente, tem levado um número enorme de pessoas a ignorar o verdadeiro Deus que é bem diferente.

Talvez seja por isso que, quando Moisés pediu a Deus como deveria apresentá-lo para as pessoas, Ele se limitou a dizer: EU SOU QUEM SOU (Êxodo 3.14). Sim, Ele é exatamente quem Ele é. Não quem dizem que Ele é; não quem pensam que Ele é. Diferente do deus inventado e apregoado pelos homens, o verdadeiro Deus ofereceu sua ajuda, amor e compaixão, quando ainda sequer tínhamos algo de bom a oferecer (1 João 4.10). E continua a fazê-lo de Graça!
Este é o Deus da Bíblia. Ele não se limitou a ficar sentado em seu trono celestial, aceitando barganhas em troca de favores. Ele se fez um ser humano; e em vez de sacrifícios, a única coisa que e Ele quer é um coração crente e agradecido (Gálatas 2.8,9). Enquanto o deus dos homens espera que eles cheguem até sua presença, o Deus verdadeiro vem aos homens e os ama a ponto de dar sua vida por eles (João 3.16). Por amor e de Graça!

Este é o Deus da Bíblia. O meu Deus. O nosso Deus. Um Deus que não se esconde atrás de regras tolas e poções milagrosas. Deus não quer pessoas alienadas, reféns de interesses de homens. Ele deseja sim que todos os homens (de todas as classes, raças e nações) conheçam a verdade e sejam livres e felizes (João 8.32).

Ernani Kufeld
Teólogo e pastor da Igreja Luterana de Aracaju
ekufeld@gmail.com

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cara do pai

Também existe o trauma de pai. O trauma de mãe é assunto complicado, resultado do cordão umbilical rompido, coisas de mulher. Mas o problema do pai é bem fácil de explicar: é a dor pelo fim do monopólio das atenções agora dirigidas ao rebento. Penso que o filho, sobretudo o primogênito, é um soldado que surge do cavalo de Tróia, presente de grego. Grande tragédia se não fosse outro sentimento inexplicável que surge em cena: o amor paternal – força instintiva que defende o filho com unhas e dentes. Porque no fim das contas este pequeno “inimigo” é ele mesmo, ou como lhe disseram: “É a tua cara”. E assim, enquanto a mulher é carne e ossos do marido (Gênesis 2.24), o filho é carne e ossos moldados na forma do pai. (Alguns não se curam deste trauma e se voltam contra os filhos, histórias que a gente conhece).
Mas este é só o primeiro trauma. Aquele pai, herói, grande, forte, não demora, fica pequeno, fraco, exposto à realidade. E se hoje os filhos estão maiores que os pais, não é somente no aspecto físico, mas pelo tamanho dos inimigos deles. É a voraz crueldade da sobrevivência, do mundo selvagem repleto de predadores. Desemprego, violência, drogas, trânsito – tubarões que tentam engolir os filhos, frágeis presas neste mar de pais procurando Nemo.

E se a luta fosse meramente física, se os filhos fossem apenas moldes de carne e osso, então bastaria o empenho por um bom colégio, plano de saúde, boa companhia, Tamiflu, coisas deste gênero. Mas eles carregam outro molde, uma cara espiritual dos genitores. Uma herança maldita. No princípio era a cara de Deus (Gênesis 1.27). Mas depois veio a imagem dos homens (Gênesis 5.3), isto é, o pecado. Por isto a constatação: “Não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal” (Efésios 6.12).

Um trauma incurável e eterno caso não existisse o Pai nosso que está nos céus. “Vocês são filhos queridos de Deus e por isso devem ser como ele. Que a vida de vocês seja dominada pelo amor” (Efésios 5.1,2). Amor que domina? Sim, mas um domínio para o bem. Amor que é fruto da união com aquele que deu a vida (Efésios 2.5). Poder para ser novamente parecido com o Criador. E assim seguir a recomendação: “Pais, não tratem os seus filhos de um jeito que faça com que eles fiquem irritados. Pelo contrário, vocês devem criá-los com a disciplina e os ensinamentos cristãos” (Efésios 6.4).

Sábado passado assisti pela televisão uma chocante cena vinda de São Paulo: um pai com uma arma apontada para a própria cabeça, e o filho de onze anos suplicando que desistisse da idéia. A cena durou 15 horas e com final feliz. Mas este filho carregará para sempre o pesadelo deste dia. Histórias deste tipo estão por toda a parte. Pais atormentados, desequilibrados, traumatizados... Saída existe, não com uma arma na cabeça ou outro escape egoísta e trágico. O caminho é parecido com aquilo que ajudou Felipe Massa: “Recebam a salvação como capacete” (Efésios 6.17). Pai com tal proteção está curado e pronto para dirigir a família.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mel, limão e atenção

O que é verdade e o que é mentira sobre esta gripe? Corre pela internet o texto “Pandemia do lucro” alertando que há um grande alarde com interesses comerciais para vender o Tamiflu. Fiz uma pesquisa sobre os lucros da referida empresa com este remédio, e as informações são intrigantes. Nos anos da gripe aviária, 2006 e 2007, foram aproximadamente 4 bilhões de dólares (esta gripe matou 250 pessoas em dez anos). Em 2008, as vendas caíram para 600 milhões de dólares. Mas agora, com a nova gripe, as vendas do Tamiflu aumentaram em 203%, ou seja, houve um lucro de 1 bilhão de dólares (uma caixa com dez comprimidos custa 170 reais aqui no Brasil). Enquanto isto, a Organização Mundial da Saúde confirmou nesta semana que a gripe suína continua semelhante a qualquer outro tipo de gripe. Até o momento há em torno de 135 mil casos desta gripe no mundo, e as mortes não passam de mil pessoas.

Por enquanto é mais fácil morrer atropelado do que por este vírus H1N1. Evidentemente que o vírus requer dobrada atenção, igual ao atravessar uma rua movimentada. Mas transformou-se em paranóia. E pelo jeito um medo interessante e lucrativo. O que não é novidade na medicina, e nem na própria religião – “meio de enriquecer” (1 Timóteo 6.5). E com uma fórmula parecida: semeando pânico. Quantas pessoas entregam seus bens materiais, se sacrificam, cumprem ritos, tudo por conta do pavor provocado pela propaganda de um Deus que castiga, de um Diabo que entra no corpo. Sim, quanta gente supersticiosa infectada pelo vírus da fobia. E olha que o mês do cachorro louco vem aí...

Há informações que a vacina contra o vírus que causa a gripe suína já pode ser fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan, mas a permissão está sendo negociada com os fabricantes. Qual o valor desta liberação – os royalties? Mas se é uma pandemia mundial porque não fazer de graça? Ora, de graça nem injeção na testa. Mas se viesse gratuitamente, com certeza algum cambista entraria no meio. É o que fazem com o remédio do Evangelho, que vem dos céus sem nenhum custo, pois “é um presente dado por Deus” (Efésios 2.8). Foi o que o apóstolo revelou para uma escrava que era obrigada a enganar as pessoas adivinhando o futuro. Mas “quando os donos da moça viram que não iam mais ganhar dinheiro com as adivinhações dela, agarraram Paulo e Silas...” (Atos 16.19). Que Deus nos proteja!
O médico Moacyr Scliar escreve sobre a gripe que é “melhor falar do que calar”. E lembra a meningite de 1974 que o governo brasileiro proibiu de divulgar e o resultado foi catastrófico. Na verdade, em tudo é preciso informação, e de boa qualidade. Afinal, quando Jesus falou sobre as “epidemias” como sinal dos tempos, antes alertou: “Tomem cuidado para que ninguém engane vocês”. E disse ainda: “Não tenham medo”(Lucas 21. 8-11). Penso que esta gripe é uma boa oportunidade para tomar um chazinho com mel e limão, e ficar atento com o surto das informações.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS