quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dunga e Jesus

Nesta quinta-feira a igreja lembra a Ascensão de Jesus. Mas as atenções estão mesmo em Dunga e nos 23 convocados que foram levados às alturas. Sem misturar nuvens com fumaça, dá para dizer que Jesus teve uma missão parecida – reuniu e preparou um grupo de pessoas e colocou-os em campo. A própria Bíblia diz que o cristão é um atleta que deve se esforçar nos treinos para conquistar a taça (1 Coríntios 9.25). E se alguns acham que futebol é “coisa do mundo”, ainda não entenderam o recado: “Por que vocês estão aí olhando para o céu?” (Atos 1.11). Se tudo fosse falta com cartão vermelho, Jesus levaria todo o time consigo para a concentração. Mas deixou a sua equipe com a bola rolando porque a copa da salvação é mundial e qualquer um pode ser escalado. E o campo não precisa ter o aval da Fifa. Gramado perfeito só lá em cima onde não nasce roseta nem capim. Assim, o gol do Evangelho pode acontecer também na várzea.

E se o Dunga não convocou aqueles que estavam na nossa lista, Jesus também tem critérios: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi” (João 15.16). Onde Jesus estava com a cabeça quando chamou os doze? Pois é, nesta hora todos são técnicos – querem ser Jesus. Eu mesmo já pensei que Deus foi incoerente em me convocar. Nunca me achei com cara de pastor. Mas, o cristão tem cara de cristão? Qual é o uniforme que ele usa? Qual a marca que carrega? Penso que nestes dois tempos antes do apito final, há muito simulação para enganar o juiz. Coisa que a torcida logo percebe e vaia, porque jogo limpo é o que interessa.

E quando o técnico brasileiro é criticado por montar um time sem estrelas, outro fato para dizer que cristianismo não é espetáculo, mas resultado. Pode não agradar na hora, mas no final aparece a diferença. Aqui a comparação é duvidosa, mas o texto sagrado lembra que no jogo da fé em Cristo a vitória é certa (1 João 5.4). Algo que precisa ser dito quando o nome “Jesus” virou sinônimo de glória terrena e instantânea. Por isto o apóstolo passa a bola e avisa: “Nós não prestamos atenção nas coisas que se vêem” (2 Coríntios 4.18). Até porque aquele que desapareceu do estádio, prometeu: Eu estou com vocês todos os dias até o fim dos 90 minutos (Mateus 28.20).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 11 de maio de 2010

Chamados e escolhidos

*Márlon Hüther Antunes


Nesta semana os holofotes estiveram voltados ao técnico da Seleção Brasileira, na convocação daqueles que vestirão a camisa canarinho na próxima Copa do Mundo. Desde 2006 quando o técnico Dunga assumiu a Seleção, 88 atletas tiveram a oportunidade e o privilégio de vesti-la. Passadas as fases de testes e provas, hoje podemos dizer que muitos foram chamados e poucos escolhidos, apenas 23 atletas farão história, podendo levantar a Taça do Mundial.

Palpites à parte sobre nossos preferidos, o objetivo final é um só: vitória. Mas para que esta meta seja alcançada, além das qualidades de um bom atleta – dar o melhor de si, é necessário saber andar em espírito de equipe, tempo em que cada um deixa seu clube, família e até individualismo de lado e joga em prol de uma nação verde-amarela. Apesar de que no futebol (e na vida) aqueles que hoje são aclamados, amanhã podem ser vaiados e duramente criticados. O sucesso é passageiro!

Realmente vivemos num constante chamado à vitória! Afinal, nascemos para vencer, casamos para ser felizes, estudamos para ter sucesso, somos chamados em muitos momentos para os testes finais, antes da última convocação. Mas na vida nem sempre estamos no topo!

Tem um texto da escritora Lia Luft, intitulado “quando o homem é uma ilha”, que me vem à mente quando penso em espírito de equipe e contribuição comunitária. Enquanto se busca apenas interesses egoístas e esquece-se ou ignora-se viver em grupo, seja família, sociedade ou num time, certamente nem a primeira fase ou objetivo é superado. Quando pessoas se tornam rótulos, apenas números, a mesquinhez, a corrupção, a mentira, formam este caos chamado “perda de valores” na família, na política, na sociedade e até de “falta de ética” inclusive no esporte.

Numa realidade onde um dia se é herói e no outro é vilão, o plano de Deus aponta para um chamado em geral, através daquele que rege a maior seleção: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1.15). Esta convocação visa “que todos venham a conhecer a verdade e sejam salvos” (1 Timóteo 2.4), não é um chamado passageiro e mesmo que os convocados sejam vaiados pelos rótulos daqueles que vivem em suas próprias ilhas, “importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos” Hebreus 2.1.

Quando há espírito de equipe, todos saem vencedores, por isso Jesus não deixou de chamar ninguém para a seleção celestial. Quer todos fiéis, a fim de receberem a coroa final da vitoria, a tão sonhada taça, já conquistada (Apocalipse 2.10).

*Teólogo e Pastor da Igreja Luterana, Maceió

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãe com outras letras “m”

Quando os bebês em qualquer lugarzinho neste planeta choram, é o “mamamã” que balbuciam. Fiquei pensando nesta letra “m” de mãe, e nasceu uma filharada de palavras que vislumbram esta maravilha da criação divina. Começando pelo “m” de metade, a outra que Deus criou: - Vou fazer para o homem uma auxiliadora (Gênesis 2.18). Aqui o termo hebraico “ézer” é o mesmo que o Antigo Testamento usa ao mencionar que Deus é o nosso “auxiliador”. Com o pecado, no entanto, apareceu o “m” do machismo e das malditas brigas.

O tempo passou, e hoje a mãe virou a mulher-elástico, com incríveis poderes para a trinca maternidade-matrimônio-mercado. Por isto a infelicidade desta mulher que cuida da casa, do trabalho fora de casa, dos filhos, e das manhas do marido. Situação que propicia os conflitos conjugais. E aí surge o “m” de madrasta – do tipo que matou Isabella. E com tantos casamentos desfeitos, nasce o “m” do medo dentro do próprio lar, onde reina a violência, abusos e até assassinatos de filhos e enteados. Por isto o “m” da maldade – aquela que segundo palavras de Jesus (Mateus 24.12), vai se espalhar de tal maneira, que o amor de muitos esfriará. O que gera um mundo com o “m” de monstruoso.

Seria a vitória do “m” da morte se o “m” da misericórdia divina não surgisse. Porque, igual ao amor da mãe que consola o filho, Deus promete consolar aqueles que choram (Isaías 66.13). Um Deus-mãe que mandou o seu filho para salvar o mundo (João 3.17). E se neste mês de maio também aparece o “m” da mensagem de Pentecostes (23 de maio) – semente do Espírito Santo que concebe no coração humano amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio (Gálatas 5.22), então o mundo ainda tem jeito.

Um jeito parecido com aquilo que vimos pela televisão nesta última segunda-feira, quando mães destrocaram os seus filhos. Sob muita comoção e choro, as duas mulheres de Goiânia tiveram que devolver entre si os bebês trocados na maternidade. Pensei aqui no “m” do amor que não depende de um exame de DNA. Pois neste mundo com tantas trocas e destrocas, só mesmo o “m” de milagre. Milagre que nasceu daquela que se chama Maria...

Marcos Schmidt
pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mães Trocadas

Sei que não deve estar sendo fácil para as duas mães de Goiânia que tiveram seus filhos trocados na maternidade, ainda mais agora, onde depois de um ano a troca foi desfeita.

Tenho dois filhos e sei o quanto nos apegamos aos “jeitinhos” de cada um, seus sorrisos e trejeitos. Por isso, sei que não deve estar sendo nada fácil! Também sei que as crianças estranham, devem procurar o cheiro daquela que os amamentou até o presente momento, mas não encontram.

No entanto, por meio de uma comparação quase descabida, quero mostrar outra verdade, a verdade das crianças que “não tem ninguém”, a verdade das crianças abandonadas, desmerecidas.

O que me veio à mente ao condoer-me com a situação das mães e filhos de Goiás é que esses dois meninos ainda possuem a honra, a glória de terem duas mães, cada uma os desejando mais que a outra. Reafirmo que a confusão deve causar dor e desconforto, porém não é uma dor maior do que as crianças rejeitadas, não é uma dor maior do que crianças renegadas, abandonadas!

Há relatos de crianças sendo vendidas para pedófilos, sendo comercializadas para prostituição!

Não sei o que é mais dolorido, se a desgraça para a qual são entregues ou se é o fato de não ter ninguém que as proteja.

No capítulo 5 do Evangelho de João, Jesus ajuda um paralítico, que tristemente confessou: “Senhor, eu não tenho ninguém para me ajudar!” Essa frase é dolorida: “eu não tenho ninguém!” Sua solidão incomodava tanto quanto a paralisia.

Num mundo globalizado, parece que cresce o número de pessoas que por força dos novos tempos são de todo mundo, mas que no fundo no fundo, não são de ninguém e “não tem ninguém!”

Nesse mundo de troca-troca, valores essenciais como o contato e o cuidado são deixados de lado, seja por interesses egoístas, ou por necessidade. Assim, cresce o número de babás eletrônicas, porém o sobressalto do amor maternal continua sendo semeado pelo Criador, para que cada um tenha alguém que os olhe, que os cuide, que os acompanhe!

E ainda que todos nos abandonem, e ainda que fiquemos como o paralítico, “sem ter ninguém”, ainda que sejamos trocados, tal qual mercadoria, ainda que sejamos esquecidos, temos o Senhor Jesus que se aproxima, que preenche a ausência de uma mãe, que nos renova com amor paternal. A promessa está escrita! A Palavra de Deus nos diz em Isaias 49.15: “Será que uma mãe pode esquecer o seu bebê? Será que pode deixar de amar o seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, eu nunca esqueceria vocês.”

Que todas as mamães sejam abastecidas pelo amor de Deus para que o troca-troca da correria diária não afete tanto suas mentes e corações, a fim de que continuem sóbrias para embalar e despertar nos pequenos a esperança de um futuro melhor, na confiança de que “tem alguém” que os ama!

Pastor Ismar Pinz
Comunidade Luterana Cristo Redentor
Três Vendas, Pelotas, RS.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Uma mancha de destruição

*Márlon Hüther Antunes


O petróleo que vaza desde o último dia 22, depois da explosão da plataforma da British Petroleum (BP), e que afundou no Golfo do México, vem provocando um dos maiores desastres ecológicos da história. A mancha que parece não ter fim é muito maior que anteriormente estimada, lançando 800 mil litros diários do espesso e escuro óleo no mar, ameaça todo ecossistema da costa americana.

A perigosa mancha sobre as águas do Oceano Atlântico é mortífera, pois impede que a luz passe pela água, sem luz não há vida! A luz é fator decisivo para que aconteça a fotossíntese, sem ela as plantas morrem, afetando a teia trófica (cadeia alimentar), consequentemente os animais e peixes morrem por falta de alimento. O desequilíbrio contamina água e solo, o óleo impregnado impede que aves voem e peixes respirem, pois tem suas brânquias afetadas.

O presidente Barack Obama ordenou o uso de "todos os recursos disponíveis" para combater o desastre. Enquanto se vê o estrago do problema superficial, a fonte está bem mais profunda, a mais de 1500 metros de profundidade, ali sem controle jorra e traz a morte.

A relação Luz e trevas sempre lembram vida e morte. A Palavra de Deus fala de trevas com referencia ao pecado e suas consequencias, que igualmente trazem desgraças e mortes em todos os tempos; assim como o vazamento de petróleo, precisa ser contido em sua fonte, na causa inicial – no coração das pessoas. É nele que brotam tantas manchas e resultam nesta sociedade marcada pela imoralidade, roubos, crimes, mentira, avareza e orgulho humano (Marcos 7.21-23), que quando se dá conta, é como patinho cheio de óleo pegajoso, impedido de qualquer voo. Sem luz, morta. Para este problemão, para estancar a maldade que corre nas veias de todos e que resultam na espessa mancha – amor excessivo ao dinheiro, raiz de todos os males e responsável pelas maiores tragédias (1ª Timóteo 6.10) Deus oferece luz, enviando o único recurso, para combater este desastre. Conforme anunciado pelo Profeta Isaías: “O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz” (9.2).

Enquanto nos atemos no que os olhos podem ver, ou só no que queremos ver e acreditar, a mancha de destruição do pecado provoca muitos vazamentos, entre eles o de lágrimas. Só em Cristo este pode ser controlado. O rei Davi depois da escuridão valorizou como nunca a luz: “Tu, Senhor, és a minha lâmpada; o Senhor derrama luz nas minhas trevas” 2º Samuel 22.29. Que através de Jesus, o céu se abra para ti também, trazendo-lhe nova vida!

*É Teólogo e Pastor da Igreja Luterana, Maceió-AL