terça-feira, 30 de novembro de 2010

Polícia pacificadora e o Natal

O comandante-geral da PM do Rio garantiu que a população da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão terá um Natal de paz. É uma promessa das armas para o advento do sossego. Lamentavelmente, não existe outro jeito nesta sociedade de Caim. A tranquilidade social sempre dependerá da polícia. Não existe lugarzinho neste mundo cheio de gente, nos morros ou vales, nas favelas ou bairros de luxo, que não dependa das armas para manter a ordem. O polonês Leonard Kaczmarkiewicz, conhecido como “Alemão”, até buscou uma vida sem guerras no Brasil, fugindo dos nazistas na Europa. Comprou terras cariocas, que depois vendeu em lotes para gente que também queria uma vida melhor na cidade maravilhosa. No entanto, a paz neste morro – que leva o apelido do imigrante – agora depende da “polícia pacificadora”. É assim em nosso Estado, cidade, rua. Sem os soldados do bem, os agentes do mal tomam conta.

No entanto, a polícia apenas pode garantir um Natal de paz até onde vai o poder de seu exército. Existe outro Natal e outra paz, que segundo Jesus, o mundo não pode dar (João 14.27). Porque existe outra guerra (Efésios 6.12). Por isto o ponto de interrogação: “Olho para os morros e pergunto: De onde virá o meu socorro?”. O salmista já tinha a resposta: “O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra” (Salmo 121.1). Tal certeza existia porque “se o Senhor não proteger a cidade, não adianta nada os guardas ficarem vigiando” (Salmo 127.1). Uma proteção que foi planejada em mínimos detalhes – conforme registrados no Velho Testamento. Cinco séculos antes de sua execução, a profecia prometeu: “As botas barulhentas dos soldados e todas as suas roupas sujas de sangue serão completamente destruídas pelo fogo. Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou um menino que será nosso rei. Ele será chamado de Conselheiro Maravilhoso, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Isaías 9.5,6).

Não tenho dúvidas disto, de que a vitória do bem sobre o mal nos morros do Rio de Janeiro neste primeiro Domingo de Advento, simboliza a chegada da definitiva e permanente paz do Deus que um dia nasceu numa favela.

Marcos Schmidt

Pastor luterano

marsch@terra.com.br

Igreja Evangélica Luterana do Brasil

Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sábado, 27 de novembro de 2010

Tumulto de Natal

Não consigo deixar de associar a tragédia no festival das águas no Camboja com o tumulto das festas de Natal e Fim de Ano. O que era para celebrar pelo fim da temporada de chuvas, transformou-se num “dilúvio” de gente espremida numa ponte, com centenas de vítimas esmagadas, pisoteadas, afogadas no rio. As imagens são chocantes. Mas porque as pessoas se metem nestes lugares? Eram 2 milhões de gente aglomerada? Tragédias deste tipo já estão anunciadas. Só nos últimos 20 anos aconteceram 16 grandes tumultos parecidos, com um total de 5 mil mortos. Melhor mesmo é ficar em casa, longe destas festas.

Bem melhor se pudéssemos ficar longe deste Natal tumultuado. Longe das correrias, dos engarrafamentos, das filas, da corrida pelos presentes, do estresse... Afastados do perigo de sermos pisoteados pela multidão de compras em várias prestações. Nada contra o comércio. Apenas um alerta do velho Simeão, de que o menino de Belém seria a destruição e a salvação para muita gente (Lucas 2.34). Não é isto que acontece? A festa da Água da Vida (João 4.10) em afogamento e morte? Nem penso na loucura do trânsito, nas bebedeiras e outras inconsequências. Falo do significado desta festividade do Deus encarnado. Coisa que a gente está cansada de ouvir, mas, quando chega este tempo de atravessar a ponte de Belém para um ano abençoado, fica preso e espremido na multidão insana, sem conseguir sair. Por isto, “vida de gado, povo marcado, povo feliz” – canta Zé Ramalho. Ou então, escreve o teólogo: “O Senhor Jesus veio a uma humanidade tão acostumada com a miséria e a desgraça, e feliz numa situação na qual ninguém pode ser feliz – a menos que não esteja certo da cabeça”.

Mas então é Advento, tempo para escapar deste caminho que parece certo, mas que pode acabar levando para a morte (Provérbios 14.12). Tempo de ouvir João Batista: “Preparem o caminho para o Senhor passar” (Mateus 3.3). Pode ser caminho espremido, mas ainda é o período na liturgia da igreja que arruma o Natal através da reflexão bíblica sobre os três “nascimentos” de Jesus: pela mãe Maria, pelas Escrituras Sagradas, e na segunda vinda dele pelo Juízo Final. Por isto não consigo deixar de ver na tragédia do Camboja o tumulto de Natal. Dá vontade de chorar...

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia Nacional de Ação de Graças

Diz o apóstolo Paulo em Colossenses 3.15b: “Sede agradecidos.” Hoje é o Dia Nacional de Ação de Graças. Na verdade, essa é uma data, um motivo festejado em muitas partes do mundo. Começou nos Estados Unidos depois de uma boa colheita, no final do outono. Hoje é uma data muito lembrada e comemorada, especialmente nos Estados Unidos e Canadá. Nessa ocasião é dada uma atenção bem especial para a família e para a religiosidade. No Brasil, em 17/08/1949 o presidente Gaspar Dutra instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças, pela Lei nº 781. Em 1966, pela Lei nº 5.110 estabeleceu-se a quarta quinta-feira do mês de novembro para festejar essa data.

Agradecer é um gesto de humildade. Agradecer é um ato de grandeza, digno e honrado. Lamentavelmente o ser humano, em geral, é tardio em agradecer. Rápido para pedir, mas tão esquecido e lerdo para voltar, reconhecer e dizer: Muito obrigado!. E isso vale no campo terreno, como também na sua relação com Deus. A Bíblia nos dá exemplos disso. Numa situação dez leprosos foram pedir ajuda de Jesus, e apenas um voltou para agradecer. No SL 50.15 diz: “Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei”, e aí termina o texto dizendo “e tu me glorificarás.” Muitos fazem o ponto final depois das palavras “eu te livrarei.”

Irmãos em Cristo! Nós temos muitos motivos para agradecer. Na verdade, temos todos os motivos para agradecer. Cada novo dia é uma benção de Deus. Cada passo, cada refeição, o ar que respiramos, a água que tomamos, tudo é graça e misericórdia de Deus. Mas além de todas estas bênçãos terrenas e materiais, temos um presente, uma graça, um gesto de amor que supera a tudo: Deus mandou seu Filho ao mundo para nos salvar. Jesus que deu a sua vida por nós, para que fóssemos reconciliados com o Pai, para que tivéssemos perdão, vida e salvação. Poderia ter presente maior? Poderíamos deixar de agradecer, reconhecer e responder a tamanho amor?

Por isso: “Sede agradecidos!”, não só hoje, não só num dia durante o ano, mas em todos os dias, da manhã até a noite, dia após dia, em todos os momentos, vivamos a gratidão e a alegria de termos um Deus tão maravilhoso e gracioso como o nosso.

Um bom dia de Ação de Graças.

Rev. Egon Kopereck
Presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A profecia de Silvio Santos


Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar. Do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar. Sílvio Santos vem aí... Quem não conhece esta marchinha? No entanto, o apresentador mais popular do Brasil está vivendo na carne a profecia que “do mundo não se leva nada”. Em dezembro ele completa 80 anos, e recebe um presente de grego – ele que é de origem grega. Um dos negócios dele, o Panamericano, está falido. Este banco usou dinheiro que não tinha como garantia de empréstimo, uma fraude de R$ 2,5 bilhões. Nesta semana Silvio Santos anunciou que vai demitir 40 parentes envolvidos no esquema. Até parece Ali Babá e os 40 ladrões. A lenda conta que Ali Babá, um pobre lenhador árabe, encontrou um tesouro numa caverna, que se abre com as palavras "Abre-te Sésamo". Na história real, as palavras mágicas estavam nos baús de presentes de Natal para crianças, vendidas em prestações, que se transformaram no famoso Baú da Felicidade.
  
Histórias assim ouvimos todos os dias: gente “rica” que é pobre mas vive com aparência de riqueza, fortunas que desaparecem, fraudes, parentes que enganam parentes, empresas familiares que quebram na segunda ou terceira geração, e tantas outras parecidas. São as surpresas dos “baús” deste mundo onde tudo passa. “Nú saí do ventre de minha mãe, e nú voltarei”, queixou-se o sofrido Jó. O rico rei Salomão também sabia que “como entramos neste mundo, assim também saímos, isto é, sem nada” (Eclesiastes 5.15). Por isto, nenhuma surpresa a desventura do Silvio Santos. Bancos e empresas quebram todo o santo dia. Aliás, desconfia-se que outros bancos onde nosso dinheiro está guardado também escondem o jogo num baú repleto de fraudes. 

Por isto a história do Natal, o baú da felicidade sem surpresas desagradáveis. Natal é o inverso do Panamericano, que se fez de rico mas era pobre. No baú da manjedoura, Jesus Cristo que era rico, se tornou pobre para que nós ficássemos ricos por meio da pobreza dele (2 Coríntios 8.9). Ele, num domingo, entrou em Jerusalém e as pessoas cantavam Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar. Do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar. Jesus Cristo vem aí... Melhor mesmo as palavras do evangelista: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Marcos 11.9).

Marcos Schmidt
Pastor luterano   
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Livra-nos da idiotice

Eleição e Finados se juntaram num feriadão, e por uma boa causa. É que o presidente da nação tem a sublime tarefa de retardar o dia dos mortos de cada cidadão. Mesmo que o cemitério seja o destino certo, tanto para um ilustre presidente como para um simples cidadão, todos desejam viver por muito tempo, e viver bem. Por isto, penso que esta famosa foto do afago de Lula em Dilma após a vitória, representa o carinho que os brasileiros desejam, gestos que tragam qualidade de vida para todos.

Mas para isto, o país precisa de bons políticos. Refiro-me aqui ao povo em geral. Ainda não li o livro “Política para não ser idiota” do filósofo Mário Sérgio Cortella, mas assisti a entrevista dele no programa da Maria Braga nesta segunda-feira, quando ele comentou sobre a obra. Achei interessante quando explicou que a palavra idiota vem do grego idiótes, expressão usada na Grécia antiga para designar quem não participava da vida política, considerada atividade nobre. Aliás, foi isto que o apóstolo Paulo – que viveu naquele tempo e lugar – lembrou aos cristãos, conforme Filipenses 1.27, para que não fossem omissos, mas vivessem uma vida política de acordo com o evangelho de Cristo (ele usa o termo grego politeuste).

Certamente, se não quisermos terminar os dias terrenos numa urna mortuária como idiotas, precisamos ser bons e ativos cidadãos não apenas na hora de ir à urna eletrônica. A mesma coisa na igreja. Não basta cumprir os votos no altar e depois esquecer os deveres religiosos na comunidade cristã e na sociedade civil. “Sejam filhos de Deus”, ressalta o apóstolo, “vivendo sem nenhuma culpa no meio de pessoas más” (Filipenses 2.15). E se na política a única forma para ser um bom filho do Brasil é através de uma educação eficaz, na vida cristã só existe um caminho: “Encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente” (Filipenses 4.8).

A presidenta Dilma, na primeira entrevista, disse que deseja honrar o cargo que recebeu. Na verdade, isto deve ser uma meta de cada cidadão, especialmente daquele que reconhece que a vida humana é um voto divino.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS