terça-feira, 31 de agosto de 2010

GPS do céu

Uma pesquisa na Inglaterra confirma o que já sei por mim: os homens dirigem cerca de 440 km a mais por ano que as mulheres porque não pedem informações. A pesquisa foi realizada com mil motoristas, e mostrou que 74% das mulheres param a fim de pedir informações, enquanto que 37% dos homens não. Preciso admitir que sou um desses que não se dobra quando está perdido. A minha mulher fica braba comigo. Só depois de alguns litros de combustível em vão é que obedeço aos insistentes pedidos dela.

Por que a gente é assim, tão teimoso? Acho que é por isso que tem mais mulher na igreja do que homem. Igreja é lugar onde a gente estaciona e pede ajuda. Para fazer isto, é preciso reconhecer que se meteu em lugar desconhecido, e sozinho não vai encontrar o caminho certo. Este foi o problema do rei Davi. Só depois de gastar todo o tanque, confessou: “Ó Senhor, eu já não sou orgulhoso (...) Não vou mais atrás de coisas grandes e extraordinárias, que estão fora do meu alcance” (Salmo 131). A triste história deste motorista na Bíblia nos serve de lição (2 Samuel 11 e 12). Por isso também as suas palavras no Salmo 32 (8,9): “O Senhor Deus me disse: Eu lhe ensinarei o caminho por onde você deve ir; eu vou guiá-lo e orientá-lo. Não seja uma pessoa sem juízo como o cavalo ou a mula, que precisam ser guiados com cabresto e rédeas para que obedeçam”.

Jesus insistiu muito com os arrogantes fariseus para que estacionassem o carro e pedissem orientação. A palavra “fariseu” vem do hebraico e significa “santo”, alguém separado dos outros. Eles se achavam os tais. Um dia Jesus lhes disse: “Ai de vocês, mestres da Lei! Pois guardam a chave que abre a porta da casa da Sabedoria. E nem vocês mesmos entram, nem deixam os outros entrarem” (Lucas 11.52). Hoje Jesus diria: Vocês têm a chave do carro, mas nem vocês nem os caroneiros chegam ao destino certo.

Tomé era homem e cabeça-dura, mesmo assim humilhou-se e perguntou: Como podemos saber o caminho? Jesus respondeu prontamente: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (João 14.6). E ele atendeu a sugestão!

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pavio curto

*Márlon Hüther Antunes


A cada dia se corre mais! Exemplo disso são os carros potentes e cada vez mais confortáveis, com seus vidros escuros e fechados, que impressionam qualquer um. Enquanto se voa baixo com o desejo de chegar logo, o grande número de veículos congestiona a paciência de muitos. Especialmente nas capitais o trânsito tem se tornado o grande vilão. A facilidade, conforto e tecnologia que deveriam trazer uma melhor qualidade de vida, tem tornado as pessoas mais apressadas, agitadas, estressadas e com o pavio curto.

Vive-se a geração “Fast food”, não se sabe esperar, não se suporta contrariedade, deseja-se tudo para ontem; o culpado sempre é o outro. Um fato que aponta para esta realidade é o número de crimes violentos e sem motivos que tem aumentado. Casos como os relatados há poucos dias do jovem de 16 anos que esbarrou em uma mulher dentro do ônibus em Nova Iguaçu-RJ e acabou assassinado a mando de um homem dentro do próprio ônibus que tomou a dores da mulher; como o igualmente triste caso do pai, que no dia dos pais retornava com a família para casa, quando foi assassinado por causa de uma pequena batida num outro carro em São Paulo.

Quando Jesus em Mateus 24 sentou-se para instruir seus discípulos, sobre o futuro , falou de dias piores, de fatos que parecem cada vez mais atuais: enganação, guerras, fome, terremotos, ódio, escândalos e por fim a frieza no coração das pessoas.

Estas primeiras dores antes do parto, conforme ditas por Cristo, apontam para uma realidade e sociedade cada vez mais prestes a explodir, beirando a morte, sob pressão. Hoje mais do que nunca, é preciso correr menos e recuperar alguns valores humanos, “afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas?” (Mateus 6.24).

Não perca sua paciência, não deixe seu fardo se acumular e congestionar sua vida. Exerça o que há muito se perdeu: respeito, tolerância, reconhecimento do erro. “Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mateus 11.28). Isso envolve sair da zona de conforto, mas traz ótimos benefícios ao coração, à família, enfim, a todos.

Para não perder a paciência, quem sabe seja necessário sair um pouco mais cedo, sair na frente. Jesus saiu na frente deixando uma receita bem simples e duradoura: “Eu digo isso para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo” (João 16.33). A coragem aqui não é para banalização da violência, resultado de uma pressão psicológica da vida, mas é o ponto de partida, para não se queimar com pavio curto.

*Teólogo e Pastor da Igreja Luterana em Maceió – AL.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O socorro vem de cima

Os mineiros soterrados numa mina no Chile serão resgatados no Natal. Eles não podem fazer nada, a não ser confiar no plano de ajuda das pessoas de fora, e aguardar. Neste tempo de espera, há um meio de contato entre o céu e o fundo da terra – um cano por onde enviam água, alimento, oxigênio, remédios, e mensagens de esperança. É a salvação que vem de cima. Enquanto isto, os mineiros têm um enorme desafio nesse advento. Precisam alimentar a esperança, conservar o ritmo de sono e manter o grupo unido. A boa notícia é que, juntos, as chances são maiores. Se um fraquejar, os outros ajudam. A pessoa sozinha acaba ficando desesperada.

Qualquer semelhança com outra história é pura coincidência. Ou não? Em vários detalhes, o resgate desses homens lembra o maior de todos. A própria euforia da descoberta que estão vivos, estampada no rosto dos parentes, na comemoração do país inteiro, lembra a alegria nos céus. Nesta hora vem à memória as parábolas dos “perdidos” em Lucas 15 – da ovelha, da moeda e do filho – onde o evangelista destaca as palavras de Jesus sobre a reação da mulher ao encontrar a moeda: “Pois eu digo a vocês que assim também os anjos de Deus se alegrarão”.

Mas fico imaginando a situação desses mineiros, enterrados vivos a 700 metros, num minúsculo ambiente úmido, quente e sem luz. Eles ainda não foram notificados sobre os quatro meses que terão de aguardar. Por isto, além das condições físicas, o equilíbrio psicológico é fundamental. Um controle que dependerá da esperança em sair do buraco. Eles precisam olhar para cima. E conversar, cantar, animar-se mutuamente. Li numa reportagem a respeito, que em situações extremas desse tipo, os desentendimentos e confusão são comuns. É necessário manter o grupo unido e coeso num só objetivo: esperar o resgate de cima.

Um dos mineiros soterrados é Franklin Lobos, que foi jogador pela seleção chilena de futebol. A filha dele preparou uma longa carta, afirmando que o pai terá todo o tempo do mundo para lê-la. É outro detalhe parecido quando o salmista escreve: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (119.105). Em todo o caso, quando os mineiros forem resgatados, então será Natal e eles terão dois grandes motivos para festejar.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Jesus e o apedrejamento

- O que o senhor diz sobre isto? A pergunta dos fariseus era para “pegar” Jesus, quando o arrastaram até a presença dele uma mulher flagrada em adultério. Conforme a lei, ela deveria ser apedrejada até a morte. “Mas ele se abaixou e começou a escrever no chão com o dedo” (João 8.6). Eles insistiram na pergunta. Jesus se levantou e disse a eles: - Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher! Depois, abaixou-se outra vez e continuou a escrever no chão. É o único relato nos Evangelhos de que Jesus escreveu algo. Aliás, de toda a Bíblia, a única parte que Deus redigiu de próprio punho são os Dez Mandamentos, entregues a Moisés. O restante foi ditado por Deus e escrito pelas mãos dos profetas e evangelistas – a doutrina da inspiração divina. Intrigante este fato de Deus não permitir que a santa lei fosse originalmente escrita por um ser mortal. E as palavras de Jesus no chão? Quais foram? O evangelista não diz. Penso que Jesus, o Deus encarnado, escreveu algo que o homem também não poderia redigir por si mesmo. Creio que ele desenhou um coração e no meio uma cruz. Sobre isto, alguém disse: “Jesus escreveu os seus pensamentos divinos no pó, mas os homens desejam que os seus pensamentos fiquem gravados no mármore”.

Diz o Evangelho que “quando ouviram isto, todos foram embora, um por um, começando pelos mais velhos”. Os comentaristas explicam: “Os mais idosos, naturalmente, lembraram-se do maior número de pecados”. No final, só sobrou o Santo e a pecadora. Então Jesus se levantou e disse: - Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? – Ninguém, senhor, respondeu ela. Jesus disse: - Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais.

O atual apedrejamento de adúlteros em alguns países islâmicos recomenda até mesmo o tamanho das pedras: “Não devem ser tão grandes para não provocar morte imediata, mas também não devem ser tão pequenas”. Qual o tamanho das pedras do nosso juízo religioso e moralista? Que tenha a medida certa, perfeita, santa. Ou então, que elas permaneçam junto ao pó de nossa própria miséria. Só assim ouviremos a resposta do “o que o Senhor diz sobre isto?”: Eu vim para salvar o mundo, não para julgá-lo (João 3.17).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Na garganta do diabo

Tinha lá meus 10 anos, e está bem gravado na memória. Levei um puxão de orelhas bem forte do meu pai ao chegar em casa, feliz da vida, por ter encontrado um maço de dinheiro na rua. Parte dele já tinha gasto com balas e chicletes. Outra vez fiquei de castigo no recreio escolar, e tive que escrever cem vezes no quadro negro “não devo roubar as bergamotas (tangerina) do vizinho”. “Eduque a criança no caminho em que deve andar e até o fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 22.6), avisa o texto sagrado. Será que esses vereadores aprenderam a lição “não roubar” quando crianças? Se lhes foi ensinado, os pais e professores deles devem agora estar extremamente envergonhados.

Lutero, no Catecismo Maior (1529), ao sugerir que o roubo, além de imoral, é um problema cultural, aconselha “inculcar o mandamento divino à gente moça, para que se acautelem e não sigam a velha e desenfreada multidão”. Falando à igreja, diz que a “nossa responsabilidade apenas é instruir e repreender com a palavra de Deus”. Mas reconhece que para isto “requerem-se príncipes e magistrados que tenham olhos e ânimo para estabelecer e manter ordem”. Um baita problema quando aquele que faz e executa as leis, que cuida dos bens públicos, é o próprio larápio. Uma praga em nossos municípios, estados, país.

Sem dúvida, honestidade é um princípio moral que precisa ser incutido na infância. Depois só mesmo a polícia. Mas outro empecilho quando “os juízes desonestos se vendem por dinheiro e por isso são injustos nas suas sentenças” (Provérbios 17.23). No entanto, para uma árvore que nasce torta e cresce torta ainda resta o corte profundo na raiz. À exemplo do desonesto Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos, visitado por Jesus (Lucas 19.1-10). Esse publicano parou de “fazer turismo com dinheiro público” após um cursinho presencial com Jesus. O resultado foi a decisão de entregar metade dos bens aos pobres e devolver quatro vezes mais do que havia roubado.

Nesta terça, no Jornal do Almoço, o flagrado presidente da Câmara de Triunfo fez o sinal da cruz antes de iniciar a sessão. Milagre de Zaqueu ou outra fachada? Pois ainda é tempo dessa turma mudar de vida, e no lugar de admirar a Garganta do Diabo nas Cataratas, atender a voz de Deus que ordena “não furtarás”.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pai meu que está na terra

Está virando rotina histórias como a desse pai que assassinou o filho por causa de um prêmio da Mega-Sena em Cuiabá, da mãe francesa que matou 8 filhos recém-nascidos. Isto não choca mais. Nem a matéria no Fantástico, domingo passado, onde revelou que uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já fez aborto no Brasil, ou seja, 5 milhões e 300 mil mulheres. Aliás, qual a diferença em matar uma criança pré-nascida de uma criança recém-nascida?

Apesar de tudo, o normal ainda é uma mãe e um pai proteger o filho, no ventre ou fora dele. Uma tarefa que sempre foi mais do pai, o provedor da família, aquele com o braço mais forte, que vai à frente e defende dos predadores. Mas também uma realidade que já não é tão comum – ou pela ausência física do pai (o censo do IBGE mostrará os números exatos), ou pela presença agressora e nociva do pai (o pai está entre o principal agressor contra crianças segundo constatação dos Conselhos Tutelares).

Por isto, como fica a pergunta de Jesus: “Por acaso algum de vocês, que é pai, será capaz de dar uma pedra ao seu filho, quando ele pede pão?” (Mateus 7.9) Diz isto, para tranquilizar sobre os cuidados paternais de Deus: “Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará coisas boas aos que lhe pedirem” (7.11). Um pouco antes Jesus já tinha ensinado a oração do “Pai Nosso” – que segundo explicação de Lutero, “Deus quer atrair-nos carinhosamente com essas palavras, para cremos que ele é o nosso verdadeiro Pai e nós, os seus verdadeiros filhos”. Mas, como fica esta imagem de Deus, nesse referencial “pai”? Obviamente, prejudicada. Por isto o primeiro pedido nessa oração: “Santificado seja o teu nome”. Isto é: “Ó Deus, me ajude a ser um bom pai para que os meus filhos possam crer que tu és um bom Pai”.

E sendo sincero, nem precisa ser um agressor ou assassino para ser um mau pai. Basta ser um “pai que está na terra”, com a imagem de Adão. Eis a razão do quinto pedido: “E perdoa as nossas ofensas”. Felizmente aquele que ensinou essa oração, também mostrou o caminho para ser pai: “Quem ouve e pratica os meus ensinos é como um homem sábio que construiu a sua casa na rocha” (Mateus 7.24).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Omissão Paterna

No Domingo passado programas de televisão falaram sobre o aborto. Dias antes veículos de comunicação do mundo inteiro anunciavam a bárbara notícia de uma mulher que havia assassinado oito filhos recém nascidos e enterrado nos fundos de casa.

Ao comemorarmos mais um dia dos pais pergunto sobre onde estão os pais das crianças abortadas? E perguntei-me sobre o posicionamento do pai daquelas crianças assassinadas na França. Porém a própria reportagem que assisti trouxe a resposta – a repórter anunciou: “O marido da francesa alega que não sabia dos assassinatos.

É ironia demais! O marido não sabia das oito vezes em que a mulher esteve grávida? Não sabia onde haviam parado as crianças após o nascimento? Algumas mulheres que estavam ao redor observando e ouvindo a mesma notícia logo disseram: “Ah! É sempre assim! O Pai nunca sabe de nada!”

Ali estava um desabafo não apenas de “algumas” mulheres, mas, creio eu, de uma sociedade inteira que sofre de omissão paterna e clama: “O pai nunca sabe de nada!”

Sei que as grandes vítimas dessa omissão são os filhos, mas também entendo que os pais omissos igualmente acabam perdendo. Afinal, perdem de presenciar muitos milagres, perdem de participar e acompanhar uma vidinha crescendo, sorrindo, nos abraçando! Perdem muita coisa!

Nesse mundo todos somos culpados e ao mesmo tempo todos somos vítimas, porém de uma coisa todos podem ter certeza – há uma Pai perfeito que sabe de tudo, que nos conhece por inteiro (Sl 139) e nos ama de maneira integral. Esse alguém é nosso Deus! Jesus nos ensinou a chamá-lo de Pai Nosso. A pessoa que conhece esse Deus pode repetir as palavras bíblicas que dizem: “Ainda que o meu pai e a minha mãe me abandonem, o Senhor cuidará de mim. (Sl 27.10).”

Somente esse amor poderá cobrir e vencer as atrocidades desse mundo. Como diz a Escritura: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro." (1 Jo 4.19).

O conselho para pais e filhos é que conheçam um pouco mais desse amor celeste. Pois é apenas nesse amor que deixaremos a “Omissão” e assumiremos nossa verdadeira “Missão”, como pais responsáveis ou como filhos obedientes. Que Deus nos abençoe!

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
Comunidade Cristo Redentor.
Pelotas - RS.