terça-feira, 30 de março de 2010

As calorias da Santa Ceia

Um estudo sobre a obesidade realizado nos Estados Unidos descobriu que o tamanho e a quantidade das refeições nas diversas pinturas da "Última Ceia" aumentaram com o passar dos anos. Foram analisadas 52 pinturas famosas deste quadro bíblico criadas no último milênio, entre elas a obra de Leonardo Da Vinci, e a conclusão foi de que os alimentos colocados diante de Jesus e dos apóstolos carregam mais tinta em até dois terços. "Não há razões religiosas para as refeições ficarem maiores”, comentou um professor de estudos religiosos – conforme li numa matéria sobre o assunto. Mas, tenho lá minhas dúvidas...

Se os quadros da Santa Ceia “engordaram”, concluo que não seja por uma simples questão cultural destes tempos modernos, hábitos que aparecem na balança. Penso que é um aspecto religioso, e que interfere no colesterol espiritual entupindo as artérias da alma. Começando por aquilo que disse Jesus ao Diabo, que “o ser humano não vive só de pão” (Lucas 4.4), ou à multidão que pensava apenas na barriga: “Não trabalhem a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna” (João 6.27). Por outro lado, quando o alimento é motivo para divisões, Paulo sugere um ingrediente: “O Reino de Deus não é uma questão de comida ou de bebida, mas de viver corretamente, em paz e com alegria que o Espírito Santo dá” (Romanos 14.17). Julgo por aí que, ao exagerarem nas calorias da Santa Ceia, os artistas cozinharam, sim, religião. Agora, se ela é servida num prato proporcional ao das Escrituras, isto já pertence a outro livro de receitas.

O assunto deveria, no entanto, aguçar o nariz nas delícias da Santa Ceia – estas que foram oferecidas pelo Senhor Jesus na medida certa. Caso contrário, esta ceia até pode provocar indigestão. Ou como disse Paulo aos coríntios: “Quando vocês se reúnem, não é a Ceia do Senhor que vocês comem. Pois, na hora de comer, cada um trata de tomar a sua própria refeição. E assim, enquanto uns ficam com fome, outros chegam até a ficar bêbados”. É que os primeiros cristãos celebravam a Santa Ceia durante uma refeição completa, mas a falta de etiqueta, o egoísmo e a extravagância queimaram a panela da comunhão. Por isto o recado: “A pessoa que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer que se trata do corpo do Senhor, estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio castigo” (1 Coríntios 11.20,21,29).

Na verdade, quando a Bíblia diz que no cálice e no pão, o comungante toma parte no sangue e no corpo de Cristo (1 Coríntios 10.16), isto mostra que a Santa Ceia é muito mais que uma degustação simbólica. Junto, com e sob o pão e o vinho, está presente o próprio Cristo, que disse: - “Toma e come, isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”. Um alimento que vem direto da fonte – daquele que convidou: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome” (João 6.35). Portanto, uma pintura real da salvação que não precisa de acréscimos nas porções dos alimentos.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sexta-feira, 26 de março de 2010

In dubio pro reo

Na incerteza, decida-se em favor do réu. Todos estão acompanhando, estão torcendo, estão dando suas opiniões e fazendo julgamentos sobre o caso Isabella Nardoni. Esse é um ótimo momento para os olhos esquecerem um pouco daquele dinheiro nas meias, dos mensalões, dos panetones, dos superfaturamentos...

O julgamento de Jesus também foi um sucesso estrondoso da mídia de sua época. O povo se uniu na sua “vingança por procuração”. A “sociedade do espetáculo” deixou de lado a famosa “na dúvida, não ultrapasse” e aproveitou Pilatos e Herodes para crucificar um blasfemador que se dizia filho de Deus mesmo sem ter leis específicas e/ou provas concretas contra Jesus.

No julgamento que muitos estão acompanhando hoje, um Big Brother da vida real, a disputa não é entre a culpa e a inocência, mas entre a certeza e a dúvida. A defesa está tentando, a todo custo, convencer os jurados de que os indícios de culpa não são suficientes para arruinar a vida de dois “possíveis inocentes”. O princípio penal In dubio pro reo pode ser a única saída para que não seja cometido outro crime e que inocentes sejam culpados.

Não quero, aqui, opinar sobre a inocência ou culpa dos réus desse caso, até porque, eu nem teria como. Mas queria lembrar que a Páscoa se aproxima. Estamos em um período em que a justiça parece virar de cabeça para baixo: como pode alguém, mesmo cego pela incerteza, ser capaz de soltar Barrabás e crucificar o próprio Filho de Deus? Que justiça é essa?

Esta justiça parece estar de cabeça para baixo porque não é a justiça dos homens, não é a justiça como conhecemos, mas é a justiça divina. O apóstolo explica essa justiça assim: Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos seus pecados, pela fé nele. Deus quis mostrar com isso que é justo (Rm 3.25).

Isaías já profetizava esse veredicto quando falou do servo sofredor: Ele estava sofrendo por causa dos nossos pecados, estava sendo castigado por causa das nossas maldades (Is 53.5).

In dubio pro reo? Na certeza da ressurreição, Deus decidiu contra o réu e a favor de nós.

Otto Neitzel
Pastor Luterano
Comunidade Evangélica Luterana da Cruz
Porto Alegre - RS

quarta-feira, 24 de março de 2010

Julgamento Final

Aproveito toda a repercussão do Julgamento do caso da menina Isabella para escrever sobre o Juízo Final. A Bíblia descreve alguns julgamentos como o de Jesus diante de Pilatos. Ela também descreve um momento em que Jesus é o juiz, no caso da mulher adúltera, escrito em João capítulo 8.

Porém, as maiores referências da Escritura Sagrada são sobre o chamado Juízo Final.

Segundo a Bíblia o Juízo Final não terá advogados e promotores. A acusação e a defesa acontecem somente nesse mundo, onde o Diabo nos acusa, e Jesus nos defende, conforme (1 Jo 2.1).

No Juízo Final não haverá depoimentos e interrogatórios – consistirá apenas em uma declaração, pois, Deus não precisa que os fatos sejam elucidados. Ele os conhece!

Todo julgamento humano se baseia na lei, porém o Julgamento Final não terá como elemento decisivo a Lei de Deus. Caso assim o fosse, todos estaríamos condenados, pois ninguém é inocente diante do Senhor (Sl 130.3, 143.2).

Portanto, aqueles que morrerem apelando para a Lei, isso é, sendo egocêntricos e confiando nas suas ações, serão condenados, mas aquele que recorrer a Cristo, será salvo! Não porque seja inocente, mas porque Deus prometeu justificar, isto é, tornar justo a pessoa que está em Jesus: “Quem crê no Senhor Jesus será salvo, quem, porém não crer, será condenado” (Mc 16.16). Em João 3.18 ainda lemos: “Quem nele crê não é julgado, o que não crê, já está julgado porquanto não crê no nome do unigênito filho de Deus”.

Todo ser humano é culpado diante de Deus, mas, Jesus veio ao mundo para tomar sobre si a culpa da humanidade. Por essa razão, os que estão em Cristo, podem morrer e descansar em paz, na certeza da salvação. Nesse ponto de vista, o Juízo Final não possui a ansiedade da dúvida sobre os veredictos finais, que causa fascínio nos filmes e novelas e em casos reais como no julgamento do casal Nardoni, porém, para dar um charme especial e colocar uma pulga atrás da orelha dos arrogantes, que se acham merecedores da salvação, Jesus diz que aquele Julgamento trará suas surpresas, pois alguns que se julgavam salvos serão afastados de Deus, e justamente aqueles que humildemente olhavam para si com desdém, reconhecendo-se culpados, serão absolvidos quando recorrerem a Jesus! (Mt 7.21-23, Mt 25.37,44).

Para terminar afirmo que ninguém precisará ligar a tv para acompanhar o Juízo Final, pois estaremos todos lá! Alguns alegres e aliviados na Paz de Deus, outros atribulados e desconsolados para sempre.

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
Luterana Cristo Redentor
Pelotas - RS

terça-feira, 23 de março de 2010

A culpada é a televisão?

Um documentário exibido pela TV francesa dias atrás mostrou até onde vai o poder da televisão sobre as pessoas. Foi num jogo de perguntas e respostas, onde 80 voluntários foram instruídos a sabatinar um participante sentado numa cadeira elétrica. A cada resposta errada, o homem levava um choque disparado pelos voluntários. O equipamento elétrico, no entanto, era falso e o homem na cadeira era um ator contratado. Os voluntários e a platéia, convictos de que tudo era verdade, ficaram assustados com os gritos do homem que levava choques pelas respostas erradas, e que aumentavam na voltagem a cada rodada das perguntas. Mesmo assim, seguiram no jogo da morte até a descarga fatal de 460 volts que o matou diante de todos. Claro, de forma simulada. O documentário revelou que apenas 16 dos 80 participantes não quiseram “eletrocutar” o homem. A intenção do falso show de televisão era testar o poder da televisão. “A televisão tem poder que pode nos transformar em carrascos potenciais”, concluiu o produtor do programa.

Colocar a culpa na televisão é fazer igual ao Chaves, que disse para o Quico: "Não fui eu. Foi a bola que pegou a bola e me bateu com a bola!". É o coração humano que tem poder sobre as mentes humanas. Os meios de comunicação são meros instrumentos. As novelas, por exemplo, se fossem sadias e instrutivas, poderiam acabar com muitos problemas na família, na sociedade. Mas qual a mensagem que passam? E até onde os milhões de telespectadores conseguem separar a realidade da dramaturgia? E neste Big-Brother, se no lugar do telefone, os da poltrona em casa tivessem um botão para eletrocutar o desafeto? E agora, no retorno do espetáculo “Isabella Nardoni”? O que aconteceria com o casal em julgamento se os pensamentos do povo fossem armas engatilhadas?

No amanhecer daquela sexta-feira, há dois mil anos atrás, não tinha televisão nem cadeira elétrica, mas os componentes do jogo da morte estavam acionados. Porque “fizeram os seus planos para conseguir que Jesus fosse morto” narra o evangelista Mateus (27.1). Por isto a gritaria do povo: - “Crucifica-o, crucifica-o”. Pilatos lavou as mãos e a turba não enxergava mais nada: - “Que o castigo por esta morte caia sobre nós e sobre os nossos filhos”. No meio do povo tinha gente boa, honesta, de igreja, de família. Mas a “televisão” do Gólgota prendeu a atenção e as mentes deles. E pior que não era encenação, mas a realidade da Morte e do Inferno. Por incrível que pareça, era também o espetáculo da realidade da Vida e do Céu.

Não é por nada a recomendação: “Encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente” (Filipenses 4.8). Caso contrário, se não nos cuidarmos, qualquer dia poderemos nos surpreender com nós mesmos, apertando um botão e eletrocutando alguém. E a culpada não será a televisão...

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

sábado, 6 de março de 2010

Preparados para as tragédias

Os chilenos sabiam que este terremoto iria chegar a qualquer hora. Eles moram bem em cima de uma rachadura na Terra – uma placa tectônica – e por isto estavam preparados, tanto que o número de vítimas é pequeno em relação ao tamanho da destruição. Diferente no Haiti, onde a própria situação de caos social em que já se encontrava o país caribenho, junto com o descaso sobre possíveis terremotos, colaborou para os duzentos mil mortos.

No Brasil não precisamos nos preocupar com terremotos. Ao menos é o que dizem. Mas existe o perigo para outras catástrofes naturais. Enchentes, secas, tornados, e até tsunamis – estas terríveis ondas gigantes. Lembro-me do alerta divulgado tempos atrás sobre uma possível onda gigante provocada pelo vulcão Cumbre Vieja nas ilhas Canárias. Se o vulcão entrar em atividade, uma enorme montanha pode deslizar no mar, formando uma onda jamais vista que atingirá três continentes. Os cientistas responsáveis pela notícia recomendam acompanhar o vulcão e emitir sinais de alerta, para que as pessoas possam ser retiradas das áreas de risco e reduzir o número de vítimas. No Brasil a região norte seria atingida por este tsunami.

“Isto nunca vai acontecer”. Esta é uma frase perigosa. Precisamos, ao contrário, estar em prontidão para situações de risco. Pode ser que nunca aconteçam, mas se chegarem, temos uma “defesa civil”, que fará a diferença. Pois, se nesta vida terrena isto é importante, na espiritual é imprescindível. E aí busco um texto oportuno na Bíblia quando o assunto é o terremoto no Chile. Encontra-se no livro de Hebreus: “Naquele tempo a voz de Deus fez com que a terra estremecesse, mas agora ele prometeu isto: ‘Mais uma vez farei com que trema não somente a terra, mas também o céu’. As palavras ‘mais uma vez’ mostram bem que as coisas criadas serão abaladas e mudadas, para que as que não podem ser abaladas continuem como estão. Por isso sejamos agradecidos, pois já recebemos um Reino que não pode ser abalado” (12.26-28).

Pode parecer cruel, mas os terremotos nos dão este recado: o chão em que pisamos um dia vai ruir completa e definitivamente para dar lugar a uma terra onde não tem “terremotos”. Estamos preparados? Creio que o terremoto da Sexta-Feira Santa aponta para o plano de emergência. Narram os Evangelhos que a terra tremeu e as rochas se partiram no momento quando o Filho de Deus morreu no Calvário. Este abalo provocou um resultado parecido com o daquele que livrou Paulo e Silas da prisão. Conta o livro de Atos que “o chão tremeu tanto, que abalou os alicerces da cadeia” (16.26). Foi assim na cruz. Os pilares que sustentavam a prisão do pecado ruíram e Cristo resgatou a todos dos escombros espirituais.

Sem dúvida o terremoto no Chile aponta para este recado do Salvador: “O que eu lhes digo, digo a todos: fiquem vigiando” (Marcos 13.37).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS