sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tetzel está vivo!



A propósito dos 492 anos da reforma protestante, ocorrida em 31 de outubro de 1517, vale reflexão atualizada acerca daquele fato à luz do que ocorre hoje com as igrejas cristãs. O que Lutero enfrentou, considerada a contumaz obstinação do papa Leão X, foi sutil em vista do que por aí se faz com a mensagem de Cristo em razão de variados interesses.


A era das trevas agonizava, facilitando a exposição de confuso universo de problemas, às vezes tão políticos quanto religiosos, todos concorrentes para a ruptura definitiva da cômoda integridade católico-romana.

Bastou que viesse à tona o monstruoso déficit financeiro da obra da Basílica de São Pedro para que o papa Leão X decidisse fazer o que hoje é corriqueiro na grande maioria das denominações religiosas, sobretudo evangélicas, diante dos seus inomináveis custos.

Sem se advertir a respeito de erro teológico, político ou ético, Leão pôs à venda indulgências, títulos reversíveis em perdão, de excelente imagem e úteis aos que quisessem quitar “pinduras” com o Eterno. E as distribuiu no mercado europeu a troco de dinheiro, mas sem antes preparar bons vendedores.

Coube ao monge Johann Tetzel espalhar suas bancas pela Alemanha. Ele garantia que o benefício espiritual da compra delas seria instantâneo. Tão logo tilintassem moedas no fundo da bolsa, sofridas almas deixariam o Purgatório, lugar a meio caminho entre céu e inferno, fonte de água e fôlego.

Tudo ia de vento em popa, até que Lutero, monge formado em Teologia, Direito e Filosofia e professor da Universidade de Wittenberg, resolveu chutar o balde e botar areia nos negócios do papa. Redigiu 95 teses, em que condenava o comportamento da igreja e resgatava a verdadeira ética cristã, que se baseia unicamente na graça e na fé em Cristo.

Acendeu-se o estopim. A revolução protestante explodiu em vários recantos da Europa. Dela surgiram a Igreja Luterana, as demais denominações evangélicas históricas (Batista, Anglicana, Metodista, Presbiteriana) e centenas daí derivadas, pentecostais ou neopentecostais, seitas ou não, num turbilhão confuso de dogmas, de fé e de ritos que, com certeza, nem sempre estão de acordo com o que é teologicamente correto.

A liberdade religiosa que se seguiu à reforma, estimulada pelo poder temporal que se desvencilhava de Roma, deu origem à descontrolada sucessão de minirreformas baseadas em interpretações teológicas inobjetivas e que pariram o atual mosaico evangélico, triste labirinto sem saída.

Impressões históricas à parte, uma coisa é lamentável. O modelo Tetzel, que vendia títulos reversíveis em perdão, está mais vivo que nunca. Em que situações?

a) quando se exige que o ser humano promova esforços e obras e pague pela misericórdia redentora de Cristo, obtida na cruz em sacrifício, gratuitamente para todos, sem distinção;

b) no materialismo desmesurado, fortemente presente na maioria das igrejas tidas evangélicas, que falam mais em dinheiro do que em Deus, do seu amor, sua bondade, sua graça e sua misericórdia;

c) nas enganosas promessas de prosperidade, tidas às vezes imediatas, ou nas facilidades financeiras ou físicas, em resposta a ofertas rechonchudas;

d) na "magia simpática" que transita em muitas denominações evangélicas: Um sabonete, uma cruz, um lenço, um óleo ungido ou coisa qualquer que pode ser suficiente para manipular o sobrenatural;

e) no condenável silêncio das igrejas históricas que erram porque se omitem e não se pronunciam contra as heresias decorrentes do modelo Tetzel;

f) na vontade desmesurada de algumas igrejas cuja vontade seria a de tomar e controlar o poder secular. O Estado é laico e não há como “convertê-lo”, pondo-a serviço da religião.

Pena que hoje, como no tempo de Lutero, milhares a mais estejam pagando caro pelo excesso dessa heresia que, com certeza, não os contemplará jamais em seu gesto financeiro com um recibo assinado pelo próprio Jesus Cristo.

Orlando Eller


Jornalista

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A homossexualidade e a igreja


Semana passada saiu nos jornais a notícia: “Igreja Luterana da Suécia aprova casamento gay”. Em agosto a Igreja Evangélica Luterana dos Estados Unidos (ELCA) já tinha ido mais longe. Decidiu que homossexuais ativos podem ser sacerdotes desde que "vivam uma relação homossexual duradoura e monógama". No entanto, neste mesmo mês, na conferência do Conselho Luterano Internacional (ILC), 32 igrejas luteranas do mundo (incluindo a Igreja Evangélica Luterana do Brasil à qual faço parte) aproveitaram o encontro para emitir uma declaração. Que a união permanente de um homem e de uma mulher é o lugar onde Deus abençoa a sexualidade humana, e que a homossexualidade em qualquer situação é uma prática contrária a vontade de Deus.

O assunto é polêmico e racha ainda mais o cristianismo. Dias atrás os jornais destacavam o fato de clérigos anglicanos ingressarem na Igreja Católica, contrários a estas inovações em sua igreja. Penso que duas coisas aqui devem ser consideradas – e que estão neste manifesto do Conselho Luterano Internacional. Primeiro: “Declaramos nossa determinação de nos aproximarmos daqueles com inclinação homossexual, com o mais profundo amor cristão possível e cuidado pastoral, em qualquer situação em que eles estejam vivendo. Segundo: “Firmados no testemunho bíblico e mantendo o ensino cristão durante os últimos dois mil anos, continuamos crendo que a prática da homossexualidade – em toda e qualquer situação – viola a vontade do Deus Criador e deve ser reconhecida como pecado”.

Mas daí vem o pessoal da “anti-homofobia”, lei que tramita em Brasília e que tenta punir pessoa ou grupo que se manifestar contrário ao homossexualismo. Daí vêm de rolo compressor a mídia, as novelas, o Ministério da Saúde e do Ensino e toda esta conversa de “isto é preconceito”. E nestas horas igrejas e cristãos, na onda do politicamente correto e de “alianças com Judas”, são levados ao que o Senhor Jesus disse: quem comigo não ajunta espalha (Lucas 11.23). Pois este é o mal que também acontece na igreja, parecido com o que disse Lula: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”.

Longe de nós qualquer tipo de intolerância religiosa. Bem pelo contrário, pois ninguém é melhor do que ninguém. Infidelidade conjugal, desonestidade, mentira, ódio, ganância etc. são iguais em condenação à prática da homossexualidade. Infelizmente no ardor do debate surgem os santinhos da igreja com presunção, hipocrisia e até ódio, um caminho inverso daquele que disse: “Eu vim chamar os pecadores e não os bons”. Afinal, todos precisam ser chamados.

Mas nestas horas é preciso não confundir alhos com bugalhos.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um Tesouro desenterrado na Reforma


Em 31 de Outubro de 1517, um tesouro estava por ser desenterrado. O Monge Agostiniano Martinho Lutero, deu início a um movimento na Igreja de então, denominado “Reforma”. Com o intuito de resgatar a dignidade do ser humano como filho de Deus, na sociedade em que vivia e especialmente na igreja que amava, denunciou e derrubou os muros da exploração e comércio que mais afastavam as pessoas do centro da Igreja Cristã, do que lhes aliviava a consciência. Neste dia Lutero resolveu levar o assunto ao debate, por isso fixou as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, querendo com isso abrir os olhos das pessoas que ingenuamente eram ludibriadas com uma Teologia cheia de interesses e barata. Pressionou e desafiou a igreja a cumprir seu papel de apresentar o perdão como um presente de Deus, conquistado na cruz por nosso Senhor Jesus Cristo, e não baseada em obras, sacrifícios, indulgencias (Efésios 2.8,9) que cercavam a base do cristianismo (um problema que 5 séculos depois, volta a tona).


Ao traduzir a Bíblia para a língua do povo, uma revolução iniciava. Deus, que parecia aprisionado nos mosteiros e templos, passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, sendo acessível por todos, em qualquer lugar.

A Revista Veja - Edição Especial do Milênio publicou uma pesquisa da Revista americana Life, a respeito dos personagens que mercaram o milênio (1001-2000), Guttenberg e Lutero, ambos do século XVI, ficaram entre os mais influentes: Guttenberg (1º) que se destacou pela impressão da Bíblia e Lutero (3º) o principal mentor da Reforma, que revolucionaria vários conceitos no que diz respeito a Teologia, igreja, educação de boa qualidade, ênfase na família e vida em sociedade (luta por impostos justos e administração pública honesta e transparente). A base desta pesquisa se ateve a quantas pessoas um determinado acontecimento afetou, e sua influência na atualidade. Depois de montanhas de livros consultadas, especialistas em várias áreas do conhecimento elaboraram a lista dos cem nomes.

A descoberta deste homem não pertence apenas aos luteranos, mas a todos os que têm certeza do perdão dos pecados unicamente pela obra de Cristo Jesus, pois Ele é a chave para o céu. A Santa Igreja Cristã é aquela formada por pessoas que “são como um edifício e estão construídos sobre o alicerce que os apóstolos e os profetas colocaram. E a pedra fundamental desse edifício é o próprio Cristo Jesus” (Efésios 2.20).

Márlon Hüther Antunes


Teólogo e Pastor da Igreja Luterana

Maceió – AL

sábado, 24 de outubro de 2009

Fé em tempos de globalização

Parecemos tão livres e estamos tão encadeados...” (Robert Browning)

A liberdade de crença é uma das grandes conquistas da modernidade. Por longos mil anos, estivemos, no âmbito da cristandade, condenados a professar um único sistema de fé. Naquele 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses questionando alguns dogmas e práticas da Igreja de Roma. Seria o marco inicial da Reforma Protestante, graças à qual a cristandade do século 16 e seguintes se libertaria do jugo da crença única.

Desde então, têm-se multiplicado por todo o mundo as igrejas cristãs. Algo positivo. Mesmo preservados alguns dogmas fundamentais com os quais todas elas comungam, abriu-se o leque do pluralismo religioso, estimulando-se, teoricamente, a liberdade de pensamento. Mas, por históricas distorções sedimentadas na cristandade, fé, poder e dinheiro têm sido fatores difíceis de se dissociarem. Mesmo que, ao curso de toda a história das igrejas, espíritos de escol, fiéis à autêntica mensagem de Jesus de Nazaré, hajam combatido aquela espúria associação, o certo é que a proliferação das igrejas, notadamente nos últimos 50 anos, tem se orientado justamente por essa fórmula. É ela a própria garantia de seu êxito.

As bases a sustentar o modelo desse cristianismo de nosso século partem dos seguintes pressupostos: a fé é inquestionável, pois se funda na própria palavra de Deus; o poder emana diretamente da autoridade divina, a serviço da qual cada uma dessas igrejas afirma estar; o dinheiro empregado na “obra de Deus” retornará ao doador, multiplicado em bens de consumo, saúde, prosperidade e venturas no amor, benesses só concedidas aos crentes. Estes, por acréscimo, ainda obterão a salvação eterna.

O marketing empregado se afina com a economia de mercado, adotada por uma sociedade ainda movida por políticas excludentes, em que uns poucos são agraciados pelos bens da vida e muitos outros condenados à marginalidade. Enquanto esse modelo perdurar, as igrejas cultivadoras da teologia da prosperidade seguirão crescendo, à custa de vítimas incautas ou de espíritos atrasados, presos às malhas do egoísmo e da ignorância. A grande motivação para a adesão a esse sistema de fé é o apelo que se faz a um sonhado “upgrade” social e econômico.

Poderão se inscrever essas práticas nos modernos postulados da liberdade de crença? Com certeza não. Tampouco isso estaria nos planos do irrequieto monge que afixou suas teses na porta daquela igreja, há 492 anos. Trata-se, antes, de um verdadeiro estelionato da fé, astuciosamente engendrado, no seio da sociedade moderna e de suas garantias de liberdade de pensamento e crença. O modelo defrauda tanto os magnânimos projetos dos reformadores religiosos quanto os dos humanistas, livres-pensadores e laicos, que, no nascer da modernidade, ousaram contestar coisas como vendas de indulgências, autoritarismo e corrupção religiosa.

Milton R. Medran Moreira
Jornalista e advogado
ZERO HORA, 24 de outubro de 2009 N° 16134
Porto Alegre

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Raio-X que mostra tudo

Um aeroporto britânico testou na semana passada uma máquina que permite ver os passageiros sem roupa. É um raio-x de segurança para procurar armas ou explosivos escondidos no corpo de terroristas suicidas. O aparelho mostra qualquer material dentro ou fora do corpo, além do contorno em preto e branco das partes íntimas do passageiro. Mas os responsáveis explicam que as imagens serão vistas apenas por um funcionário, não podem ser arquivadas e serão destruídas logo após o exame.

Esta máquina, que vai deixar muita gente ruborizada, me fez lembrar um texto bíblico: “Pois a Palavra de Deus (...) vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do coração delas. Não há nada que se possa esconder de Deus.” (Hebreus 4.12,13). É a checagem da lei divina que nos deixa “pelados” não do corpo, mas da alma. E que revela as bombas explosivas que todos carregam, descritas por Jesus (Marcos 7.21-23) e pelo apóstolo Paulo (Gálatas 5.19-21).

E na hora da vistoria não sobra um. “Não há ninguém que faça o bem” (Romanos 3.12). Mas sempre aparece um esperto que tenta um jeitinho, tipo o pretensioso jovem milionário com o seu “desde criança eu tenho obedecido a todos os mandamentos” (Marcos 10.20). Jesus não engoliu a santidade do rapaz e fez o último teste: - Bom, se você é santo igual a mim, então pode seguir o meu exemplo, eu que abandonei toda a minha riqueza no reino celestial. Larga todos os seus bens e me siga.

Isto foi um balde d’água fria. O santo de pau oco não conseguia obedecer nem o primeiro mandamento. Foi embora. E Jesus então disse uma coisa que deixa muita gente rica apavorada: – É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha. O problema, na verdade, não é o dinheiro e sim esta idéia de querer subornar o guarda e tentar passar por fora, sem os olhos deste raio-x. O que é impossível.

– Então, quem é que pode se salvar? A pergunta foi feita pelos espantadíssimos discípulos a Jesus. – Para os seres humanos isso não é possível; mas para Deus é. Pois para Deus tudo é possível (Marcos 10.27), respondeu o Salvador. Pois esta é a fantástica notícia quando a Bíblia mostra o jeito de escapar: se vestir com as qualidades de Cristo (Gálatas 3.27). Jesus é a roupa que esconde as bombas explosivas da natureza humana e o meio para desativá-las. Foi ele mesmo quem disse: Eu sou o check-in do aeroporto para o céu (João 10.9).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dose letal

É possível vencer a morte? Romell Broom, acusado de estupro e assassinato nos Estados Unidos, virou notícia após vencer a morte 18 vezes. Condenado a morrer por injeção letal, ele sobreviveu após 18 tentativas.

O que se passa na cabeça de alguém como Broom, no corredor da morte? Como encarar a morte?
A morte assusta, porque não fomos criados por Deus para morrer. Mas inevitavelmente, ela está próxima de todos. Alguns têm tempo para se preparar, assim como Broom esperava, e deve ter tido suas horas mais longas, antes da tentativa de execução; outros certamente não terão nem tempo de pensar na sua hora, serão surpreendidos, seja por acidente, tiro, ataque cardíaco ou algo parecido. Por isso é assunto a ser pensado.

Mesmo alegando inocência, como Broom alegou, todos são culpados e têm uma dose letal que já corre em suas veias: o pecado. E de acordo com a palavra de Deus, uma única dose basta para matar qualquer ser humano, “Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos” - Tiago 2.10; “O salário do pecado é a morte” – Romanos 6.23. O Teólogo Martinho Lutero ilustrou da seguinte maneira: “O pecado está em nós como a barba. Barbeamo-nos hoje, parecemos apresentáveis e nosso rosto está limpo, amanhã nossa barba cresce de novo e não pára de crescer enquanto permanecermos na terra. De modo semelhante o pecado não pode ser extirpado de nós, ele brotará em nós enquanto vivermos”.
Por isso a tarefa da Igreja, é preparar as pessoas para o mais temível momento, não só para as crises da vida, pois “se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo”- 1 Coríntios 15.19.

Sim, há como escapar da morte e das conseqüências letais das doses de pecado. Há somente duas maneiras de morrer: com Cristo e sem Cristo. Jesus afirmou: — “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá.” - João 11.25,26. Você acredita nisso?

Assim como Broom recebeu “milagrosamente” uma nova oportunidade de viver, até sua nova sentença, nós a temos e precisamos nos preparar. Escutem o que Deus diz: “Quando chegou o tempo de mostrar a minha bondade, eu atendi o seu pedido e o socorri quando chegou o dia da salvação. Escutem! Este é o tempo em que Deus mostra a sua bondade. Hoje é o dia de ser salvo” – 2 Coríntios 6.2. É confortador saber que é possível vencer a morte, com um milagre: em Cristo.

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e Pastor da Igreja Luterana
Maceió – AL

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não esqueçam das crianças e dos professores

Há poucos anos quando se perguntava a uma criança o que gostaria de ser quando crescesse, a grande maioria diria: ser professora. Parece que o prestígio está cada vez mais em baixa. É cada vez mais raro encontrar quem almeje encarar os obstáculos da educação. Não é por menos, encontramos uma classe sobrecarregada, desmotivada, esquecida; isso quando não amedrontada ou coagida pelos próprios alunos ou pais. As consequências estão aí, transformamo-nos em reféns das crianças mal educadas e agora crescidas.

A pergunta “o que estamos esperando de nossas crianças” deveria ser refeita e levar a sociedade como um todo à reflexão e ação: “o que estamos deixando para as nossas crianças”.
A educação parte de um doar-se, da preocupação e necessidade de boa base na formação de pessoas cidadãs. Não é um assunto novo, no mês que se comemora a reforma protestante, que teve como o principal pensador, Martinho Lutero, segundo a Revista Escola, “o autor do conceito de educação útil” (edição 022, 2008), que vendo a realidade abusiva e de abandono do sistema educacional na Idade Média, sugere uma concepção de educação que visasse à formação de um ser humano integral.

Para o reformador a educação em primeiro plano, era tarefa dos pais, mas compromisso precípuo das autoridades em todos os níveis. Para ele, era necessário uma estrutura social que garantisse esse acesso indistintamente para todas elas, com gente especializada para essa tarefa, mantida comunitariamente, tarefa do Estado. Além do mais combateu a educação repressiva, introduziu o lúdico na aprendizagem. Amarrou o estudo das disciplinas a um aprendizado prático. Também lutou por boas bibliotecas. Dentro de sua ótica cristocêntrica, retransmitiu à sociedade de sua época a posição de Jesus: “Digno é o trabalhador do seu salário” (Lucas 10.7).

Hoje a situação é esta: da educação repressiva da época, temos uma libertinagem; aos professores recai a obrigação de preparar crianças e jovens para o vestibular, não ajudar na formação de cidadãos. E quanto à estrutura e salários, sem comentários.

A educação parte de um doar-se, da preocupação e necessidade. É neste sentido que o Mestre dos mestres vem como modelo às crianças, professores, pais, enfim a todos, na orientação do caminho à cidadania plena: “Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14.6). Por Ele, ninguém é esquecido!

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e pastor da Igreja Luterana
Maceió – AL

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Professor honrado e feliz

Um decreto federal de 1963 explica a razão para o feriado deste 15 de outubro: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino promoverão solenidades em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias". Isto é do tempo em que professor mandava no aluno e era respeitado. Havia educação na sala de aula porque ela vinha de casa. Hoje professor virou guarda de trânsito e as regras pouco resolvem. Mas então qual o jeito para enaltecer a função do professor quando a maior honra é o respeito na sala de aula?

Será que é seguindo o exemplo de um projeto de lei na Câmara de Vereadores de Porto Alegre? A lei permite que os guardas municipais fiquem escondidos com o radar móvel para multar os motoristas infratores. Mas um especialista em trânsito diz que “a função dos agentes de trânsito deve ser educativa e não punitiva”. Creio que o mesmo vale para o professor. Além do mais, “pardais” de tocaia, câmeras de vigilância resolvem apenas um problema localizado e momentâneo e deixam um rastro de desconfiança, desconforto e insatisfação.

Creio que o caminho para enaltecer o professor segue o mesmo princípio de uma recomendação bíblica que diz respeito àqueles que ensinam a Palavra de Deus. Lemos na carta aos Hebreus: “Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês porque sabem que vão prestar contas disso a Deus. Se vocês obedecerem, eles farão o trabalho com alegria; mas se vocês não obedecerem, eles trabalharão com tristeza, e isso não ajudará vocês em nada” (13.17). Não é por nada que os sacerdotes da escola estão desanimados, tristes. E quem perde é toda uma sociedade que depende de bons cidadãos. A conseqüência é esta falta de educação no trânsito e na sociedade em geral. Um problema que vem da escola, que vem de professores desanimados. Um problema que começa mesmo em casa, porque professor existe para ensinar e não para educar.

Por isto nada resolve encher as escolas com câmeras e transformar os professores em policiais se quisermos mestres que ensinem com alegria e entusiasmo, e filhos preparados para a vida profissional e social. Aliás, o próprio Mestre Jesus necessitou de discípulos que o amassem para que a lição do reino de Deus fosse aprendida. E depois de honrado, não teve receio de se rebaixar lavando os pés deles. “Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês”, então façam o mesmo, lembra o Salvador (João 13.14). No final, a melhor educação é a humildade em aprender.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Maximizar o cuidado

Após a consulta médica os familiares de João ficaram sabendo que ele estava com uma doença muito grave. A filha foi taxativa ao contar para sua vizinha. Ela disse: “A doença do pai não tem cura. Não há mais nada que possa ser feito!

Talvez o leitor já tenha ouvido ou dito essa frase em alto e bom tom. No entanto, sempre há o que fazer, talvez pouco que seja “curativo”, mas muito na área “paliativa”.
O dia 10 de outubro é o dia mundial dos Cuidados Paliativos. Os cuidadores paliativos são as pessoas que cuidam dos doentes sem possibilidades de cura. São aqueles que realizam uma série de ações, mesmo quando alguns dizem que já não há nada que possa ser feito.
Sempre é possível ouvir, tocar, cantar, apoiar, chorar, enfim cuidar de um doente terminal, dando-lhe todo calor humano possível, num momento em que a frieza da morte vem trazer seus calafrios.

O senhor João soube que estava com uma doença terminal, mas pouco a pouco, em meio a dor e as fúrias, compreendeu que de certa forma, tudo nessa vida é paliativo, tudo é passageiro, tudo é rápido, e que todas as nossas vaidades são como correr atrás do vento.
Num mundo onde a única certeza é a morte, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11.28).

Por isso, mesmo quando parece que não há nada mais a ser feito, lembremos que sempre é possível amar, pois mesmo terminando a fé, mesmo acabando a esperança, o amor ainda permanece, pois o amor é eterno (1 Coríntios 13).

Nesta vida onde tudo é paliativo e por vezes sofrido, choremos nos braços do Pai do Céu, permitindo que as lágrimas limpem os olhos da fé, para enxergarmos o que realmente vale a pena.

Que o amor de Deus seja a força de todos os doentes terminais, dos familiares que os acompanham e dos profissionais que os cuidam. Que nossas limitações físicas não limitem nossa solidariedade. Se já não podemos minimizar a dor, lembremos de maximizar o cuidado, na perspectiva de Jesus, que fez o máximo – deu sua vida por nós.

A morte já não tem poder! Ela já não pode fazer nada contra nós. Por isso, em fé, podemos dizer que o “nosso viver é Cristo e o morrer é lucro!” (Filipenses 1.21)

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
ismarpinz@yahoo.com.br
Comunidade Luterana Cristo Redentor – Pelotas, RS