sexta-feira, 26 de junho de 2009

Secreto e público


Dias atrás o Jornal Nacional apresentou uma série de reportagens sobre obras sociais de igrejas evangélicas presentes no Brasil. A surpresa foi grande, muitos afirmando que havia interesse por trás. Em todo o caso, lá estavam as notícias internas de igrejas no horário mais nobre da televisão brasileira. Algo estranho quando geralmente assunto de igreja é manchete só em casos de escândalos. Mas isto não acontece só com instituições religiosas. Em qualquer seguimento são os fatos ruins que chamam a atenção. Na minha igreja, por exemplo, a identificação “luterana” hoje está em destaque com os problemas da Ulbra. E mesmo quando esta Universidade confessional tem muita coisa boa para mostrar, o interesse jornalístico e público fica por conta dos “pecados”. Se não dá para tirar a razão mercadológica da mídia nem lutar contra o poder que ela tem, o jeito é transformar o “bom” em notícia. Mas como fazer isto?

E o que dizer da recomendação de Jesus: “Tenham cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de não serem vistos pelos outros” (Mateus 6.1). Na verdade, esta é a tentação que um cristão ou uma igreja sempre enfrenta. Se a primordial tarefa cristã é pregar e viver o Evangelho, existe grande diferença na visibilidade do pregar e do viver. O pregar precisa do público enquanto o viver do secreto. Por isto as palavras do Senhor: “Você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isto de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo” (Mateus 6.3,4).

Nossa tendência, no entanto, é fazer o contrário. O ruim colocamos debaixo do tapete e o bom no pedestal. Igual ao Senado brasileiro, onde as coisas boas aparecem na TV Senado e os “atos secretos” e inescrupulosos entre quatro paredes do gabinete. E se agora o secreto virou público e o público virou secreto, isto serve de lição para todos nós – porque todos têm um senador mau caráter dentro de si. “Não há ninguém que faça o bem, todos mentem e enganam sem parar” (Romanos 3.12,13), confirma a Bíblia. Por isto o melhor caminho é ouvir a voz do profeta: “Em sinal de arrependimento, não rasguem as roupas mas sim o coração” (Joel 2.13).

Mas como se rasga o coração? “Vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa” (Mateus 6.6). É a dica de Jesus para a recompensa, ou seja, o presente da nova vida que o Salvador oferece sem nenhum tipo de exigência. Aliás, a caridade e as obras de amor são frutos espontâneos do perdão. Por isto a surpresa: – Senhor, quando foi que ajudamos o Senhor? Quando vocês ajudaram o próximo, respondeu o Rei da parábola (Mateus 26.34-40).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS

terça-feira, 23 de junho de 2009

CORNETAS

Chegando ao final da Copa das Confederações, admite-se que o maior sucesso foi as vuvuzelas (CORNETAS) da torcida sul-africana.

Os jogadores de todas as seleções reclamaram! Também pudera. O barulho é irritante mesmo para quem está na frente da TV. A vantagem é que podemos diminuir o volume ou colocar no mudo.

Aqui no nosso estado sempre tem uma “corneta” tocando. Em alguns momentos é uma corneta colorada. Por outros é uma corneta gremista. Mas a irritação é a mesma!
Ter uma corneta nos nossos ouvidos é chato, mas existem algumas que devem e merecem ser ouvidas! Refiro-me aquela corneta que é tocada como um alarme contra os perigos que nos rondam.

Nos tempos bíblicos colocava-se um soldado como atalaia, como vigia (leia Ezequiel 33). Esse homem ficava no alto de uma torre e tinha o compromisso de vigiar os arredores da cidade. Quando um exército inimigo se aproximava, seu dever era tocar “corneta”. Aqueles que estavam atentos se escondiam e se salvavam – graças ao som estridente. Naquele contexto Deus colocou o Ezequiel como “corneteiro espiritual” do povo de Israel. Deus lhe ordenou tocar a corneta contra algumas coisas erradas, sendo um profeta. O Senhor disse a Ezequiel: “se tu tocares a corneta e o povo não quiser ouvir – então a culpa será deles. Mas, se tu não tocares, então colocarei a culpa sobre ti.”

Assim, ainda hoje, Deus nos coloca como corneteiros, a fim de que alertemos os “nossos” para os perigos espirituais. Igualmente ele institui vigiais sobre nós. Pessoas que nos chamem atenção quando caímos em pecado, a fim de que nos arrependamos dos nossos maus caminhos.
É necessário admitir que nunca é agradável ouvir uma corneta. Mas ouvi-la com atenção pode ser questão de vida ou morte. Portanto, esteja atento aos sinais. Reflita na Palavra de Deus e examine a tua vida. Por outro lado, não fique apenas ouvindo, emita sons de alerta para todos os que estão longe de Jesus.

Que o som de nossas cornetas não seja uma simples provocação, mas uma melodia de amor e de consideração, a fim de que todos estejam prontos quando a Copa da Vida terminar e a Última Trombeta for tocada (Mt 24.31).

Pastor Ismar Pinz
ismarpinz@yahoo.com.br
Comunidade Cristo Redentor – Três Vendas – Pelotas, RS.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sofrimento é castigo?

– Por que Deus permite que isto aconteça comigo? O que eu fiz de errado? É castigo?

Perguntas deste tipo são colocadas diante de mim em muitas situações do aconselhamento pastoral. E nestas horas o grande perigo é dizer bobagens. “Sofrimento” é tema das passagens bíblicas na liturgia do culto cristão para este fim de semana. São histórias de tragédias com perguntas e com respostas, como a de Jó que perdeu os dez filhos, toda a riqueza e a saúde (Jó 38.1-11). Dos discípulos aterrorizados dentro de um barco no meio de uma terrível tempestade (Marcos 4.35-41). Do apóstolo Paulo e suas aflições (2 Coríntios 6.1-13). E do testemunho que o “socorro vem do Senhor Deus, que fez o céu e a terra” (Salmo 124).

Mas se as perguntas são normais e compreensíveis, as respostas são estranhas. Jó perdeu tudo e Deus chega para ele e questiona: “Quem é você para pôr em dúvida a minha sabedoria?”. Quanto aos discípulos, alguns eram pescadores e por isto, cientes das poucas chances de escaparem com vida – mesmo assim recebem de Jesus um puxão de orelhas: – “Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” Sobre Paulo, que parece um masoquista – ele já tinha dito em outra ocasião que se alegrava nos sofrimentos (Romanos 5.3). No entanto, é preciso ir mais fundo nos textos antes que se diga: “Isto é injusto”.

Boa parte das heresias nasce e cresce no ninho do sofrimento. Por exemplo, a conversa de que a tragédia é castigo de Deus. Se fosse verdade, a vida da gente seria um medo sem fim. Por causa desta invenção do inferno muita gente vive com o coração na mão, sempre com medo de passar debaixo de uma escada, carregando amuletos, fazendo o sinal da cruz para qualquer situação de perigo, enfim, sob os terríveis efeitos da superstição. Nunca me esqueço da história de um amigo meu que perdeu o dedo da mão na serra elétrica numa Sexta-Feira Santa. Ele achava que era castigo pelo fato de trabalhar naquele dia. Consegui arrancar do coração dele o dedo acusador com a verdadeira mensagem deste dia cristão. Como fez o próprio Salvador quando os discípulos lhe perguntaram: “Mestre, por que este homem nasceu cego? Foi porque ele pecou ou porque os pais dele pecaram?” Jesus respondeu: “Ele não é cego por causa dos pecados dele nem por causa dos pecados dos seus pais. É cego para que o poder de Deus se mostre nele” (João 9.2,3).

Creio que assim como é impossível explicar a origem do Universo e da própria vida, é racionalmente incompreensível os motivos do sofrimento humano quando existe um Deus todo-poderoso e ao mesmo tempo cheio de amor. “Onde é que você estava quando criei o mundo?” pergunta Deus para Jó – alguém que já tinha se flagrado: “Não podemos compreender o Todo-Poderoso, o Deus de grande poder. A sua justiça é infinita, e ele não persegue ninguém” (Jó 37.23). Mas se a gente quer mesmo uma resposta, é só olhar para o imensurável sofrimento do Pai celeste que entrega o seu único e amado Filho na cruz – uma loucura para os que estão se perdendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, o poder de Deus (1 Coríntios 1.18).

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

terça-feira, 16 de junho de 2009

Turbulência na alma

O pastor luterano Genivaldo Agner que trabalha em Portugal, após ler meu artigo da semana passada, mandou um e-mail: “Marcos, quinze dias atrás, eu, minha esposa e o nosso filho de cinco meses fizemos o mesmo trajeto do avião que caiu, no mesmo horário. As nossas idas e vindas para o Brasil não serão mais as mesmas. E querendo ou não, quando passarmos por aquela zona de grande turbulência (elas sempre acontecem por ali), lembraremos do voo 447. Um dos comissários de bordo deste voo, brasileiro, conversou conosco e cuidou para que nosso filho pudesse ter o seu berço bem colocado. Coisas que agora nos emocionam”.

– Sempre tive medo de avião e não consigo dormir quando viajo, confessou o presidente Lula nesta semana. Pensando bem, a poltrona do avião é um lugarzinho incômodo que revira coisas que estão lá no bagageiro de nossa vida. Quanta coisa passa pela cabeça nestas horas quando se está lá nas alturas:
– “Será que chego ao destino são e salvo? E se morrer, sentirão a minha falta? E as coisas erradas que fiz? Para onde vou depois da morte?

Aliás, foi assim que no ano passado um pastor confessou ter assassinado a esposa. Apavorado com os balanços do jatinho, o homem começou a chorar e contou tudo aos policiais que o conduziam ao tribunal. Isto aconteceu num voo de Santos à Brasília, e foi a prova para a condenação dele. Não é preciso ser um criminoso, mas são nestes momentos que a consciência de qualquer um de nós acende a luz vermelha e toca o alarme. É a chance de confessar...

No entanto, será que este tipo de turbulência não deveria nos sacudir também na poltrona da nossa casa? Afinal, morre mais gente dentro de casa que dentro de avião. “Ninguém pode evitar a morte, nem deixá-la para outro dia. Nós temos de enfrentar esta batalha, e não há jeito de escapar”, avisa a Bíblia em Eclesiastes (8.8). Enfrentar a batalha da morte? Mas de que jeito? Com seguro de vida, testamento, cemitério? Aliás, algumas vítimas do avião francês nem precisarão de túmulos. O que aumenta ainda mais a agonia dos familiares. Li que a localização dos corpos e a confirmação da morte podem ajudar os parentes a superar a perda. É o inevitável enfrentamento dos que permanecem no vale da sombra e da morte. Mas o “dia D” desta batalha é pessoal – igual a uma carteira de identidade. E dependendo das armas, ou a morte morre e a vida vive, ou a morte vive e a vida morre.

O maestro Silvio Barbato, uma das vítimas do vôo 447, só voava com um crucifixo, conforme disse a mãe dele numa homenagem em Porto Alegre. Quando atravessava uma zona de turbulência, apertava-o com tanta força que ficava com marca nas mãos. Creio que para afastar o pavor de qualquer coisa nesta vida turbulenta, melhor mesmo é apertar a própria consciência com a cruz. E só existe um jeito: “Nada pode nos separar do amor de Deus, nem a morte, nem a vida (...) nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor” (Romanos 8.38, 39).

Marcos Schmidt
Pastor luterano

marsch@terra.com.br

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mega-Sena Celeste

O título acima chega a ser um sacrilégio, no entanto apropriado para uma comparação.

O fato virou notícia. Um apostador de Taubaté acertou na Mega-Sena passando a ter direito a mais de 5 milhões. Outros ganhadores viraram manchete, mas esse entraria para a história das apostas no Brasil como o maior prêmio não retirado, esquecido, abandonado!

Já havia passado 3 meses e nada do apostador retirar o seu prêmio! O prazo era o dia 09 de junho. Caso o apostador não aparecesse o dinheiro seria destinado a estudantes. Porém no último momento, o apostador apareceu! Por acaso ele viu os noticiários no dia anterior e resolveu conferir seus bilhetes de aposta.

Caso ele não tivesse visto as notícias, teria sido em vão! Fico imaginando esse sujeito se tivesse descoberto que era vencedor no dia seguinte!

A Bíblia nos expõe que um prêmio foi conquistado para todos. Não foi fruto de sorte. Antes, deu muito trabalho! O trabalho foi do Senhor Jesus e o prêmio conquistado é a vida eterna por todos e para todos! O curioso é que, assim como no caso da Mega-Sena, o vencedor precisa tomar posse do prêmio, caso contrário, ele não o recebe. Assim, Jesus morreu para o perdão dos pecados de toda humanidade. Porém, é somente mediante a fé que tomamos posse deste perdão e da conseqüente salvação.

No caso do milionário de Taubaté, ele tinha o prazo das 16h do dia 09 de junho. Felizmente ele chegou a tempo. Hoje está rindo à toa!

A Bíblia conta à história do malfeitor que morreu ao lado de Jesus, como alguém que tomou posse do seu prêmio no último instante! (Lucas 23. 39-42)

As boas notícias proclamadas pela Palavra do Livro Santo anunciam que em Jesus somos vencedores. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça, que creia e se aproprie desta graça!

A Bíblia não é um bilhete de apostas, mas quando fica esquecida, prêmios e bênçãos de Deus são deixados de lado. Mas ainda há tempo. Confira as promessas de Deus! Confie nelas! Acredite! Você foi contemplado com milhares de bênçãos e com a própria vida eterna.

Pastor Ismar Lambrecht Pinz
ismarpinz@yahoo.com.br
Comunidade Cristo Redentor, Pelotas, RS.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Se as águas do mar da vida...

O avião que caiu em alto mar era um dos mais sofisticados do mundo. Por incrível que pareça, a moderna tecnologia pode ter sido a causa do acidente. Estes aviões da Air France têm um sistema para impedir que falhas humanas coloquem em risco a segurança do vôo. Mas o computador pode errar. E nestes casos, a máquina tem o comando e os pilotos não conseguem desligar o sistema e corrigir as manobras equivocadas. Isto já tinha acontecido em duas situações com este tipo de aeronave, mas os pilotos conseguiram evitar um desastre.

Até parece aqueles filmes de ficção dos robôs contra os humanos. Se a gente pensar mais a fundo, a coisa é real pois a máquina tem o domínio. E se alguns acreditam que a salvação está na tecnologia, o contrário pode ser a verdade. Afinal, existe a possibilidade de nosso planeta ser destruído em segundos pela bomba atômica, ou em alguns anos pela fumaça das indústrias e dos carros que provoca o efeito estufa. Mas fazer o quê? Não viajar de avião? Jogar fora o computador? Voltar aos tempos de nossos avós? Ou fugir como fez Santos Dumont, que em profunda depressão suicidou-se ao ver seu invento nos céus da Primeira Guerra Mundial?

Estamos sempre em perigo de morte” (2 Coríntios 4.11), escreveu o apóstolo numa época quando as máquinas eram de paus e pedras. Creio que a penosa lição nestas inevitáveis tragédias, e que tentamos deletar dos pensamentos, é bem direta: a vida passa logo. Se para as 228 pessoas deste vôo trágico a vida desintegrou-se em um minuto, qual a diferença para uma pessoa que caminha naturalmente para o fim desta jornada terrena? É só perguntar para alguém enrugado e de cabelos brancos, e ele vai responder que tudo passou rapidamente. Moisés já tinha experimentado: “Mil anos são como um dia, como o dia de ontem, que já passou; são como uma hora noturna que passa depressa (...) A vida passa logo e nós desaparecemos” (Salmo 90.4,10).

No entanto, é nesta hora de perplexidade em meio aos destroços da vida em alto mar que aparece no horizonte o Sol da esperança. Pois neste mundo onde uma “falha elétrica” mudou a trajetória da vida, o Criador resolveu assumir o comando do vôo. O próprio Salvador testifica: “Ninguém subiu ao céu a não ser o Filho do Homem que desceu do céu (...) Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo” (João 3.13,17).

São várias causas possíveis para este acidente com o vôo 447 da Air France, inclusive um atentado terrorista. E difíceis as chances para localizar a caixa preta e ter as respostas. Mas a ausência destas questões e de tantas outras não tem o poder de encobrir o que já foi revelado. Como diz a Bíblia: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o presente gratuito de Deus é a vida eterna, que temos em união com Cristo Jesus, o nosso Salvador”. Por isto os cristãos entoam: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai (...) Não temas, segue adiante e não olhes para trás. Segura na mão de Deus e vai”.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br