quarta-feira, 27 de maio de 2009

O CAMINHO ENTRE O CÉU E A TERRA

Até hoje trago em minhas lembranças a imagem de um rapaz deitado com sua cabeça sobre uma pedra, e ao seu lado uma grande escada que chegava até o céu pela qual subiam e desciam anjos. O rapaz era Jacó que, enquanto fugia da ira de seu irmão Esaú, teve esse sonho no qual Deus apareceu a ele e prometeu abençoar a sua descendência e todas as famílias sobre a terra (Gênesis 28.10-17). Essa imagem de anjos subindo e descendo pela escada sempre me deu a sensação de que existe um caminho entre o céu e a terra. Realmente ele existe e é muito usado.

Passados quarenta dias após sua ressurreição, Jesus, diante dos olhos contemplativos e surpresos de seus discípulos, é elevado aos céus. Contudo o caminho entre o céu e a terra não foi fechado. A promessa de enviar o Consolador (João 16.7) haveria de ser cumprida.

Dez dias após a ascensão de Jesus era dia de Pentecostes, a Festa da Colheita, quando todo o povo se dirigia ao templo em Jerusalém. Os discípulos estavam reunidos no lugar de costume quando se ouviu um barulho muito forte, como de um vendaval que encheu toda a casa. O Espírito Santo pousou sobre cada um deles em forma de línguas de fogo. Pronto, estava cumprida a promessa do envio do Consolador. E o caminho entre o céu e a terra se fechou?

Não, o caminho não se fechou, ele continua aberto. É por esse caminho que Deus continua enviando o Espírito Santo quando sua Palavra é pregada clara e puramente, e quando os Sacramentos são administrados conforme sua ordem. É por esse caminho que Deus continua derramando bênçãos sobre seus filhos e enviando seus santos anjos para acamparem ao nosso redor, para que o inimigo maligno não tenha poder algum sobre nós.

O caminho continua aberto e é por ele que Cristo voltará para julgar os vivos e os mortos. Essa será a última vez que o caminho entre o céu e a terra será usado. Para muitos essa notícia traz medo e desespero pela provável sentença: “Afastem-se de mim, vocês que estão debaixo da maldição de Deus! Vão para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos!” (Mateus 25.41). Mas para os filhos de Deus, aqueles a quem Ele ama em suas particularidades e singularidades, para os verdadeiros cristãos, a sentença será: “Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo.”(Mateus 25.34). A notícia do fechamento do caminho entre o céu e a terra na segunda vinda de Cristo é motivo de grande alegria para os filhos de Deus.

Que possamos sempre, e de forma especial nesse tempo em que lembramos a subida de Jesus aos céus e a descida do Espírito Santo sobre sua igreja, termos essa maravilhosa visão dos céus abertos para nós e a certeza de um dia também passarmos, de uma vez por todas, por esse caminho rumo à glória celestial.

Pastor Marcio Loose

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Inesquecível Calote!

“Não aceitamos”, “prejuízo”, “voltou”, “sem fundo”. O assunto tornou a ser manchete, em meios de comunicação, na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Novamente pesquisas mostram que a inadimplência tem aumentado consideravelmente, os cheques sem fundo, símbolo de credibilidade no passado, tem sido cada vez mais rejeitados. A reputação do cidadão, frente às suas dívidas e compromissos, tem sido cada vez mais vergonhosa (fonte SERASA).

É triste constatar, a que pontos chegamos: Voltou à Plenária o projeto que cria o “Cadastro Positivo” de consumidores (PL 836/03) - porque estão escassos. É mais fácil listar os bons, do que os maus. Aliás, ser honesto hoje é ser diferente, é manchete! Entre tantos casos já noticiados, um chamou-me a atenção há algum tempo, a do faxineiro que devolveu o dinheiro ao turista suíço distraído, e que foi recebido pelo presidente da República, digno de elogio e alguns minutos de fama.

Honrar a reputação, a promessa, a dívida, a família, o cônjuge, tornou-se raridade, digno de uma “boa matéria”. A desonestidade, a corrupção, o “puxar o tapete do outro”, não importa onde seja, mostram os prejuízos que estamos trazendo para nós mesmos, pois todos saímos perdendo: “Porém os que querem ficar ricos caem em pecado, ao serem tentados, e ficam presos na armadilha de muitos desejos tolos, que fazem mal e levam as pessoas a se afundarem na desgraça e na destruição. Pois o amor ao dinheiro é uma fonte de todos os tipos de males. E algumas pessoas, por quererem tanto ter dinheiro, se desviaram da fé e encheram a sua vida de sofrimentos” (1 Timóteo 6.9,10).

Em minha infância, aproximadamente aos 5 anos, no meio da pobreza que vivi, tive a oportunidade de “conseguir” algumas moedinhas – que não eram minhas, mas dos meus primos, que misteriosamente sumiram depois que dormi na casa deles. No outro dia, minha tia, comunicou o fato a minha mãe. Apanhei, devolvi, pedi desculpas e nunca mais esqueci: o que não é meu, não é meu – é do meu próximo. “Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 22.6). Não fiz mais do que minha obrigação, assim como aquele faxineiro. Se eu tivesse passado desapercebido, ficado a vontade, não sido educado, quem sabe minhas escolhas para a vida adulta, seriam bem outras (Romanos 8.7).

Ganância, querer ter e ser o que não se pode e é, levam as pessoas se afundarem em dívidas, não honrarem compromissos, optarem pela desonestidade e corrupção. Temos muito que aprender ainda, porque a mudança começa em cada um de nós, parte de nós, está no nosso coração.

Tem coisas que se tornam inesquecíveis e que não tem preço. Por isso somos lembrados de alguém que honrou com seus compromissos, pagou o que devíamos, conforme assumido, Ele é nosso fiador: “Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente” (Mateus 20.28). “(CRISTO JESUS) deu a sua vida para que todos fiquem livres dos seus pecados. Esta foi a prova, dada no tempo certo, de que Deus quer que todos sejam salvos” (1 Timóteo 2.6).

Márlon Hüther Antunes
Teólogo e Pastor Luterano
Maceió - AL

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vergonha na cara

O caso do deputado que disse estar “se lixando” para a opinião pública faz a gente pensar na imagem de cada um, isto é, aquilo que os outros pensam da gente. Acredito que, se a maioria deixar de ter vergonha na cara, o mundo estará perdido. Porque quando a gente não ligar mais para o que dizem e pensam da gente, não fará diferença entre trabalhar e roubar, viver sóbrio e encher a cara, dizer a verdade e mentir, ser fiel e adulterar, respeitar e desrespeitar. Pior que este “se lixar”, este “nem estar aí”, é uma bactéria que vem contaminando.

É o “estar aí” com os outros que ainda faz a sociedade humana existir. Se a bússola para nortear o certo do errado é a consciência, o freio para a desordem é a vergonha na cara. É o que sobrou da imagem divina. Em Gênesis é dito que o ser humano foi criado parecido com Deus, isto é, santo, perfeito. Com a queda no pecado esta imagem ficou no céu. Mas o Criador deixou a vergonha na Terra. Tanto que logo após a queda, o primeiro casal se escondeu atrás dos arbustos porque percebeu que estava pelado. Este rubor diante da aparência dos órgãos sexuais estava dizendo: vocês agora são maus e por isto o limite da maldade de vocês estará no que os outros pensam.

Mas existe outro limite para o mal: o que Deus pensa. E aí entra uma história diferente da vergonha: o amor. E se nesta quinta-feira é festejado o dia da Ascensão do Senhor, então isto lembra que Deus se tornou semelhante ao ser humano para que o ser humano voltasse a ser semelhante ao Criador. E deixou uma tarefa antes de voltar aos céus: “Vocês serão minhas testemunhas” (Atos 1.8). Ser testemunha de Jesus é sentir vergonha do pecado e ter orgulho de fazer o que ele pede: “A natureza gloriosa do meu Pai se revela quando vocês produzem muitos frutos e assim mostram que são meus discípulos (...) O que eu mando a vocês é isto: amem uns aos outros” (João 15.8,17).

Por outro lado, penso que nestes dois mil anos o “se lixar” dos seguidores de Jesus se transformou num lixão a céu aberto. Um pecado contra o mandamento: “Não tomarás em vão o nome do Senhor, teu Deus”. Uma desatenção no pedido do Pai Nosso: “Santificado seja o teu nome” (Lutero explicou que santificamos o nome de Deus quando ensinamos corretamente a palavra de Deus e quando vivemos de acordo com esta palavra). Seria muito cômodo falar aqui dos outros – dos escândalos na história do cristianismo, e de tanta coisa que desmerece o nome “cristão”. Mas então olho para o deputado e vejo a própria cara. A minha imagem, e não a de Cristo que devo refletir.

Procurem descobrir quais as coisas que agradam o Senhor”, recomendam as Escrituras. “Não participem das coisas sem valor que os outros fazem, coisas que pertencem a escuridão. Pelo contrário, tragam todas estas coisas para a luz. Pois é vergonhoso até falar o que essas pessoas fazem em segredo... Prestem atenção na maneira de viver” (Efésios 5. 10-12,15). Se lixar para aquilo que agrada Deus – creio que esta é não a saída.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

terça-feira, 19 de maio de 2009

Por que comemorar a Ascensão?

É uma pena que uma data tão importante quanto à Ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo passe muitas vezes despercebida no calendário cristão e na nossa vida em geral. Inclusive, por causa do calendário civil carregado de feriados religiosos, ela é obscurecida por outras datas, como Corpus Christi, uma celebração que tem um significado secundário, para não dizer pagão.

Deveríamos prestar mais atenção à Ascensão, pois ela tem um significado muito grande e importante. Ela é, por assim dizer, a prova de que Jesus realizou a sua missão, de que ele fez um bom trabalho. O Pai enviou o seu Filho ao mundo para morrer e ressuscitar por nós seres humanos pecadores e perdidos (Jo 10. 17-18). A Ascensão é a certificação pública e triunfante de Jesus como o Salvador do mundo.

Além disso, a Ascensão de Cristo traz dois benefícios, duas certezas muito grandes para nós cristãos, que nos levam a comemorar esta data:
a) a presença do Espírito Santo conosco, que nos ensina todas as coisas e nos lembra de tudo o que Jesus disse (Jo 14.25). Ele prometeu enviar o seu Espírito e, logo antes de subir aos céus, renovou esta certeza aos 11 discípulos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (At 1.8) Esta promessa se confirmou no dia de Pentecostes para os discípulos de Jesus e se confirmou para nós no dia do nosso Batismo.
b) A certeza de que seguiremos após Cristo para os céus. Ele mesmo disse: “E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também.” (Jo 14. 3) e também, ao orar ao Pai: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste” (Jo 17.24).

A Ascensão pode e precisa ser lembrada e comemorada por nós: Cristo fez um bom trabalho que nos garante a presença do Espírito Santo sempre conosco e a certeza da vida eterna com ele, Cristo, no céu!


Pastor Paulo Albhecht
Rio de Janeiro, RJ.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Lugares Sagrados

Por que o Muro das Lamentações, visitado pelo papa nessa semana, é mais sagrado do que a Muralha da China? Por que a Esplanada das Mesquitas, também visitada por Bento XVI , é considerada apenas o 3º lugar mais sagrado pelos palestinos?

Por que um templo é mais sagrado que uma casa, mesmo quando ambos são construídos com tijolos da mesma olaria?

São perguntas que nos fazem pensar. Outra reflexão: como um lugar como a Palestina, repleto do “Sagrado”, está sempre coberto de guerras e conseqüentemente de sangue?

Talvez a resposta esteja no fato de que a linha que dividi o sagrado do profano é muito tênue.
Os confrontos por motivos religiosos profanam o sagrado, pois revelam preocupações com muros, com construções e se esquecem das pessoas. Em nome do divino, mata-se sem receios! Por honra a pedras, derrama-se sangue inocente! Defende-se uma cidade e não os seus moradores.

No campo da política diz-se que o “voto é sagrado”, mas há poucos dias um deputado afirmou estar se lixando para a opinião pública. Também nessa área o sagrado confunde-se com o profano, pois cargos e instituições são defendidos ao invés dos cidadãos e suas necessidades.
O que faz um lugar ser mais sagrado do que outro?

No livro: “O Pequeno Príncipe”, o personagem cuidava de uma rosa que lhe era especial. Porém, descobre que há muitas outras rosas, iguais ou superior em beleza – mas, sente que nenhuma lhe é tão preciosa. Por quê? Porque o tempo concedido a sua rosa foi que a tornou tão especial. Foi à atenção dispensada ao regar, ao arrancar as ervas daninhas que tornou aquela rosa tão cara e tão ligada ao seu coração, ou, poderíamos assim dizer, tornou-a “sagrada”!

Assim como a rosa é para o Pequeno Príncipe, assim a Vida é para Deus e conseqüentemente para suas criaturas. Deus ama a Vida Humana não porque ela é valiosa, mas ela é valiosa porque Deus a ama. É o amor de Deus que santifica, que torna sagrado e não discursos de papas ou presidentes, nem poderes bélicos ou econômicos.

Por isso, ainda que eu honre e dignifique muros, cidades e templos, se isto estiver desvinculado do Amor, de nada isso valerá. Não me surpreende, portanto, que a Palestina, região cercada de lugares sagrados, honre a guerra e se esqueça da Paz.

Resta-me desejar que as muralhas de ódio sejam derrubadas. E que as construções humanas sejam respeitadas não pelo valor ou idade das pedras, mas sim pelos princípios e sentimentos que levaram a sua construção, e que estes princípios defendam a Vida e a sua dignidade, como Jesus fez e ainda faz.

Pastor Ismar Pinz – ismarpinz@yahoo.com.br
Comunidade Cristo Redentor, PELOTAS, RS.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Jesus e a lâmpada de Aladim

Um cristão pode usar o nome de Jesus da mesma forma como o Aladim usa a lâmpada mágica? A teologia da prosperidade diz que sim. Acredita ser igual a um cheque em branco assinado por Deus: é só colocar a quantia e emitir. Que frases do tipo “por amor de Jesus” não devem ser usadas, mas “eu determino”. Que as causas da pobreza, da doença e de outros males são: falta de fé, desconhecimento dos direitos cristãos, porque não se pede a Deus, pecado não confessado, e porque Satanás não foi expulso. Que a Bíblia ensina tudo isto, a exemplo da promessa de Jesus: “Vocês receberão tudo o que me pedirem” (João 15.7).

Seria um cheque em branco sem limites se a promessa não tivesse uma condição: “Se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês, vocês receberão tudo o que pedirem”. Falo do assunto, pois a Parábola da Videira (João 15.1-7) é a leitura do Evangelho neste 5º Domingo de Páscoa que muitos cristãos vão ouvir nos bancos da igreja. E porque a gente liga a televisão e lá estão eles dizendo que “o nome de Jesus tem poder e os meus problemas acabaram”. No entanto, o cheque é sem fundos.

Também gostaria que todos os meus problemas fossem resolvidos e sonhos realizados. Ter uma casa com carrões na garagem, bastante dinheiro na conta, viajar e conhecer o mundo. Mas nunca me atrevi em pedir tudo isto. Nada contra aqueles que têm ou que almejam ter estas coisas, desde que não transformem isto em “deuses”. Mas até agora não encontrei em nenhum lugar da Bíblia tais promessas ao “filho fiel” – se é que existe este tipo de “filho fiel”.

Não quero desmotivar ninguém na oração, pelo contrário. Até porque o próprio Salvador é quem encoraja: “Peçam e vocês receberão”. Mais adiante o Senhor pergunta: “Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho quando ele pede um peixe?... Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu” (Lucas 11.9-13). No entanto, existe um “se”: “Se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês...”. Esta é a chave para a oração. Ou como Cristo disse: “Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada” (João 15.5).

Pois neste mundo com tanto ramo sem a “videira verdadeira” (João 15.1), tanto filho sem a mãe verdadeira, tanta gente sem a vida verdadeira, ainda existe esta epidemia consumista propagandeada por ladrões de ovelhas (João 10.1). A quadrilha que fraudou o INSS na região do Vale dos Sinos e outras por aí ao menos roubam apenas os bens materiais.

É preciso compreender o coração maternal de Deus para saber que a oração do toma-lá-dá-cá não é fé, mas negócio. “Se Deus nos deu o seu Filho”, escreve Paulo, “será que não nos dará também todas as coisas?” (Romanos 8.32). Por isto, “que a tua vontade seja feita” (Mateus 6.10) e nunca “eu determino em nome de Jesus”.

Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br