segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A REFORMA NOSSA DE CADA DIA


No próximo dia 31 comemoramos o dia da Reforma, quando o Dr. Martinho Lutero afixou, na porta da Igreja de Wittenberg, as 95 teses. Essa história todos nós já conhecemos muito bem. Louvamos sempre ao nosso Deus por ter usado esse seu servo para que nós pudéssemos ter, ainda hoje, entre nós a sua Palavra sendo pregada de forma clara e pura.
Nessa época de reforma gostaria de falar de uma reforma pessoal. Aquela que Deus operou em nossas vidas e que continua operando ainda hoje.
Há algum tempo atrás andei dando uma olhada em notebook´s (aqueles pequenos computadores portáteis) nos sites de vendas pela Internet. Foi quando me deparei com uma expressão nova para mim: “factory refurbished” (recondicionado de fábrica). Para quem não tem muita intimidade com a linguagem mais técnica da informática, assim como eu não tinha, explicarei o que isso significa: durante a montagem desses computadores, que é totalmente automatizada, podem surgir alguns problemas que, mais tarde, são detectados nos testes. Quando há esse tipo de problema o computador é arrumado dentro da fábrica mesmo, contudo não pode ser vendido como sendo um computador “perfeito” por causa das exigências do controle de qualidade. Dessa forma esses computadores acabam sendo vendidos com um preço bem abaixo da tabela, mesmo tendo todas as garantias que os demais.
Quando saímos da “linha de montagem”, isto é, quando nascemos, também viemos com defeito. Mesmo sendo Deus um fabricante perfeito, nós somos defeituosos espiritualmente, por causa do nosso pecado. Daí Deus vem até nós, no Batismo, e nos reforma, nos torna perfeitos aos seus olhos por causa da obra redentora realizada por Cristo na cruz.
Contudo, assim como os computadores, com o passar do tempo necessitam de reparos, assim nós também precisamos de reparos diários, pois a cada novo dia o velho homem em nós nos leva a pecar novamente, contra o nosso próximo e contra Deus.
Essa reforma que se dá a cada novo dia nós chamamos de “batismo na vida diária”, e as ferramentas que Deus nos dispõe para tal reforma são sua Palavra e Sacramentos. Lutero descreve essa dinâmica da seguinte forma: “... o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os seus pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente”. (Catecismo Menor, Batismo, “O que significa esse batizar com água?”)
Amados irmãos e irmãs no Senhor Jesus. Busquemos a cada novo dia o perdão do nosso Deus, reconhecendo que somos defeituosos e que necessitamos da ação amorosa do nosso Deus para nos reformar a cada dia. Amém.
Pastor Marcio Loose

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

NA JANELA DO CIÚME


Diz a Bíblia que "o verdadeiro amor não arde em ciúmes" (1 Coríntios 13.4). Tragicamente, deste amor a humanidade está distante, e por isto tanta gente sequestrada e morrendo. O caso da Eloá – outro circo armado – encobre um mundo de vítimas que nunca aparecerá na janela do grande público. Em todo caso, ciúme é distúrbio antigo, fonte do primeiro homicídio. E se tudo é conseqüência do ciúme de Satanás, tem explicação o fratricídio de Caim quando o Criador lhe advertiu: “O pecado está na porta, à sua espera. Ele quer dominá-lo, mas você precisa vencê-lo” (Gênesis 4.7). Dizem que o ex-namorado de Eloá não saía da janela dela. Não deu outra! O que a gente bisbilhota pela janela dos outros é o que entra pela porta dos nossos desejos. E isto vira obsessão perigosa quando a inveja, a cobiça, ou o ciúme já são hospedes do coração.
Os entendidos da mente explicam que o ciúme patológico tem relação com o Transtorno Obsessivo Compulsivo – doença em que a pessoa repete gestos e pensamentos sabendo que não têm sentido, mas que não consegue evitar. Foi o caso deste filho raivoso de Adão. Depois que Deus rejeitou a simulada adoração, os pensamentos dele começaram a fervilhar como nunca. Na verdade, tudo começa lá, nas mesquinhas e insistentes conversas da mente. E por isto o alerta bíblico: Encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente (Filipenses 4.8).
Ciúme até os cachorros têm, e dependendo da raça deles, a tragédia está feita. Ciúmes todos temos, e, dependendo de nossa índole, do tamanho dos nossos caninos, da força de nossas mandíbulas, e das circunstâncias, “seqüestramos e matamos”. Tem muita esposa, marido, filho, aluno, seguidor de religião, empregado, colega, que já levou tanto tiro na cabeça, e a gente nem desconfia. A explicação da epístola apostólica para este mundo de cão dentro de cada um é assustadoramente contextual: “Essa espécie de sabedoria não vem do céu; ela é deste mundo, é da nossa natureza humana e é diabólica. Pois onde há inveja e egoísmo, há também confusão e todo tipo de coisas más (...) Vocês querem muitas coisas; mas, como não podem tê-las, estão prontos até para matar a fim de consegui-las. Vocês as desejam ardentemente; mas, como não conseguem possuí-las, brigam e lutam” (Tiago 3.15, 16 e 4.2,3).
Na verdade, sentimos ciúme porque nos apossamos de pessoas e de coisas. Fazemos isto com o Criador e fazemos isto com a criação. E se por janelas acontece tanta coisa, a solução está naquele que disse: Eu sou a Porta. E daí a diferença: “Por estarem unidos com Cristo (...) vocês são bondosos e misericordiosos uns com os outros (...) não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios (...) tenham o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha” (Filipenses 2). Por isto que "o verdadeiro amor não arde em ciúmes".
Marcos Schmidt
Pastor luterano

sábado, 18 de outubro de 2008

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR


Certa feita estava Jesus com seus discípulos em meio a uma multidão, ensinando, educando, mostrando uma nova forma de ver o mundo.
Nessas ocasiões os líderes religiosos e políticos da época sempre estavam por perto, ouvindo, procurando pegar Jesus em algum deslize para colocar o povo contra ele. Em dado momento um desses líderes teve uma grande idéia – pegou uma moeda e, diante de Jesus fez a seguinte pergunta: é certo pagar impostos? Que pergunta mais sem nexo, completamente fora do contexto e aparentemente sem grandes objetivos.
Para entender onde esse líder queria chegar é importante entendermos a situação política da época. O povo judeu vivia sob o domínio de Roma e devia pagar 25% de imposto sobre suas atividades comerciais, de produção, etc. Se Jesus concordasse com a legitimidade do pagamento de impostos estaria indo contra o povo que penava para poder pagá-los a um povo estrangeiro. Por outro lado, se Jesus iniciasse um discurso contra o pagamento de tais impostos, poderia ser acusado de rebeldia.
Em sua enorme sabedoria Jesus toma a moeda em suas mãos e pergunta de quem é aquela figura nela desenhada. – “César” – respondeu seu interlocutor. – “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” – completou Jesus. É tudo uma questão de cumprir-se a lei. As leis eram justas na época? Não sabemos. As leis são justas hoje? Esperamos que sim.
Na verdade o termo usado por Jesus foi mal traduzido. O vocábulo usado por Jesus quer dizer: “devolva”. Isso muda todo o sentido dessa expressão tão conhecida e tão usada entre nós.
Devolver...
Nós, cidadãos brasileiros, somos aqueles que mais pagam impostos no mundo. Somos o povo que temos os políticos mais caros do mundo (nossos políticos ganham mais do que políticos dos Estados Unidos e Europa). Porém o que nos é devolvido de tudo isso?
Esses impostos deveriam voltar para o povo em forma de condições básicas de vida (saúde, moradia, segurança, educação, etc), mas onde está tudo isso? Nossos políticos, que recebem tão bem e sempre em dia, que deveriam devolver para o povo bons serviços, engajamento fiel nas lutas por uma sociedade melhor e mais honesta, só nos dão desgosto e nos causam vergonha.
Como entender tudo isso? Impossível.
Deus nos deu uma vida maravilhosa, saúde, família, trabalho, etc. O quanto temos devolvido de nós mesmos ao próprio Deus, à nossa família e à sociedade onde vivemos?
Quanto do nosso tempo e dos nossos talentos e habilidades temos colocado a serviço do nosso companheiro (esposo ou esposa), dos nossos filhos. O quanto temos dedicado do tempo e talentos para fazer do nosso mundo um lugar mais agradável de se viver? O quanto temos dedicado do nosso tempo para buscarmos em Deus forças para cumprir com nossos deveres e coragem para cobrar e buscar nossos direitos?
Que a paz de Deus devolva aos nossos corações a alegria de viver, mesmo em meio a tantas decepções.

Pastor Marcio Loose

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

INSÔNIA


A preocupação com a atual crise na economia está roubando o sono de muita gente. Conforme pesquisa realizada na Inglaterra, 20% dos entrevistados têm dormido menos do que cinco horas por noite, enquanto 25% chegam a levantar três vezes da cama. Mas a insônia não vem de agora, é um problema comum no mundo ocidental dos últimos tempos. No Brasil, mais de 35 milhões de pessoas sofrem deste distúrbio. A agitação do dia-a-dia, as inúmeras obrigações, e as dificuldades financeiras são as principais causas, dizem os especialistas, e as conseqüências estão aí, na cara de gente mal humorada.
Não consigo dormir” (Salmo 102.7) já reclamava Davi. Ele tinha motivos, era o rei de Israel com inimigos dentro e fora dos muros de Jerusalém. “A minha vida é como as sombras do anoitecer”, lamenta este homem aflito, que inicia com uma súplica: “Ó Senhor, ouve a minha oração e escuta o meu grito pedindo socorro”. Confesso que já busquei orientação nestas palavras num momento de tristeza e insônia. E tive resposta ao meditar nos versos seguintes: “A terra e o céu se gastarão como roupas. Tu os trocarás como se troca de roupa, e eles serão jogados fora. Mas tu és sempre o mesmo e a tua vida não tem fim”. Tais palavras são lembradas no Novo Testamento (Hebreus 1.11,12), onde o autor explica que elas falam de Jesus: “Ele sustenta o Universo com a sua palavra poderosa. E, depois de ter purificado os seres humanos dos seus pecados, sentou-se no céu, do lado direito de Deus, o Todo-Poderoso” (Hebreus 1.3).
Ora, se dizem que o mal da insônia são as preocupações, este Jesus à direita de Deus – que pede ao Pai em nosso favor (Romanos 8.34), ele mesmo sugere: “Não fiquem preocupados com o dia de manhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades” (Mateus 6.34). E por que tamanha confiança? Paulo explica: “Se Deus nos deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas?” (Romanos 8.32) Foi esta certeza devolvida ao angustiado coração, que fez o rei Davi confessar: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Salmo 4.8).
O rei Salomão, filho de Davi, já calejado na vida questiona: “O que a pessoa ganha com todo o trabalho?” Pois neste mundo onde as pessoas vivem para trabalhar em vez de trabalhar para viver, ele descobre no desfrute do poder e da riqueza que “tudo é ilusão” (Eclesiastes 4.4). E conclui: “O trabalhador pode ter pouco ou muito para comer, mas pelo menos dorme bem à noite. Porém o rico se preocupa tanto com as coisas que possui, que nem consegue dormir” (Eclesiastes 5.12).
Na verdade, o problema do sono não é o tamanho da conta bancária nem das dificuldades, mas o tamanho da fé. Por isto a recomendação: “Confie no Senhor de todo o coração (...) Quando se deitar, não terá medo, e o seu sono será tranqüilo a noite inteira” (Provérbios 3.5,24).
Marcos Schmidt
Pastor luterano
marsch@terra.com.br

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CRIANÇAS


Além da Reforma, neste mês também comemoramos o Dia das Crianças.
As crianças têm um lugar muito especial no coração de Deus. Podemos notar isso nas palavras e atitudes de Jesus com relação a elas: “Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como essas crianças” (Mc 10.14). “Aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará também me recebendo” (Mc 9.37). “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele” (Lc 18.17).
Os pais (ou seus representantes) são responsáveis por levar as crianças a Cristo, através do Batismo, e instruí-las na sua Palavra. Mas, infelizmente, ainda hoje existem denominações que pregam que só se deve levar ao Batismo as crianças maiores de 12 anos, por dois motivos principais: por elas ainda não terem pecados (ou consciência dos mesmos) e por não poderem crer.
Contra esses argumentos a Bíblia está cheia de passagens: no Salmo 51.5, o Rei Davi deixa bem claro que “de fato, tenho sido mau desde que nasci; tenho sido pecador desde o dia em que fui concebido”. Não há como negar que todos nós já nascemos pecadores, mesmo que não cometamos atos pecaminosos, o pecado está dentro de nós.
Em Mateus 18.6, nosso Senhor Jesus afirma que “ quanto a estes pequeninos que crêem em mim, se alguém for culpado de um deles me abandonar, seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no lugar mais fundo do mar, com uma pedra grande amarrada no pescoço”. Esse texto deixa bem claro a capacidade que as crianças têm de crer. Por outro lado, quando negamos essa capacidade, na verdade estamos duvidando do poder de Deus de criar a fé nos seus corações.
Meus caros, que maravilha termos tido pais ou outros responsáveis que nos guiaram até Jesus! E que tamanha responsabilidade Deus coloca sobre nós! Pois, em nossas congregações, todos somos responsáveis pela vida espiritual de nossas crianças.
Com certeza Deus nos dá força e sabedoria para cuidarmos da melhor maneira desses seus pequenos cordeirinhos. Amém.
Pastor Marcio Loose

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"COM QUE ROUPA EU VOU?!"


Como é bom ser convidado para uma festa ou um jantar especial! Todos nós gostamos de nos reunir com amigos ou parentes em situações especiais. Pode ser uma comemoração, uma confraternização ou simplesmente para dividir bons momentos da vida com as pessoas que amamos.
Quando estamos diante de um convite especial ou nos preparando para uma dessas grandes festas ou banquetes, logo nos preocupamos, e nos fazemos a famosa pergunta: “com que roupa eu vou...” Isso é natural pois faz parte do bom asseio pessoal estar bem vestido, bem arrumado ou, no mínimo, apresentável. Então corremos pro guarda-roupas e não encontramos nada à altura de tal evento. Mas não desistimos, vamos às compras.
No evangelho de Mateus (22.1-14), Jesus compara o Reino de Deus a um Rei que prepara uma grande festa para o casamento do seu filho. Manda seus mensageiros anunciarem aos convidados que tudo estava pronto, mas eles não deram muita bola, voltaram aos seus afazeres, alguns até maltrataram os mensageiros do Rei. Então o Rei mandou que seus mensageiros saíssem pelas ruas e esquinas convidando a todos que encontrassem.
Quando o Rei chega ao salão de festa fica muito feliz, pois vê muitas pessoas, todas felizes. Contudo uma pessoa chama sua atenção. É um homem que não está usando as vestes apropriadas para tal ocasião. Isso faz com que o Rei se dirija até aquele homem e o questione sobre como ele havia entrado sem roupas de festa. Diante de tal indagação o homem se cala. Então o Rei manda que seus empregados amarrem o homem e o joguem para fora, onde haveria um grande sofrimento.
Caros amigos. A grande festa, o grande banquete que Deus tem preparado para nós é a vida eterna nos céus. Essa vida eterna não é exclusiva de algum grupo de pessoas ou de certa denominação religiosa. Ninguém detém o poder ou exclusividade nesse assunto. Quem convida é o próprio dono de tudo, o próprio Deus. E Ele quer convidar a todos para que tomem parte dessa maravilha. Contudo existem muitos que não se importam com tal convite e continuam preocupados com seus afazeres, com sua diversão, etc.
Por outro lado Deus tem abençoado tanto a proclamação da sua Palavra, desse seu convite tão maravilhoso, que podemos ver muitas igrejas lotadas, senão diariamente, pelo menos uma vez por semana. São as pessoas que responderam afirmativamente ao convite do grande Rei.
Porém há um detalhe importante. Para entrar definitivamente na grande festa (no céu), é preciso estar muito bem vestido, com vestes de gala. Mas não adianta procurar essa roupa em nenhuma loja chique dos shoppings mais badalados; não adianta ir a Paris ou buscar os mais famosos e renomados costureiros do mundo.
A única e perfeita roupa que podemos usar para entrar na festa é concedida pelo próprio Rei. É a roupa de fé em Jesus Cristo. Uma roupa perfeita que serve para todos os manequins, não fica apertada nem folgada, não fica curta nem longa demais. Ela cobre tudo aquilo que nos torna feios diante de Deus, os nossos pecados.
Mas, aqueles que acham que essa roupa de Deus não está à sua altura, que não é bela o suficiente, e procuram entrar na festa com sua própria roupa (seus méritos pessoais, boas obras) esses serão lançados fora.Meus queridos. Peçamos a Deus muita humildade para reconhecermos que somos pecadores e incapazes de cobrir ou encobrir nossos pecados. Peçamos a Deus para que nunca nos falte a sua Palavra na qual Ele nos fortalece nessa fé, a roupa perfeita para a vida eterna. Amém.
Pastor Marcio Loose

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

NA RUA DA AMARGURA


Calcula-se que dois milhões de casas já foram desapropriadas nos Estados Unidos nos últimos dois anos. Situação que pode piorar, pois outros 9 milhões de americanos devem além do valor de suas casas. No meio deste furacão hipotecário, chamou-me atenção histórias sobre “estacionamento-dormitório” contadas por uma repórter da BBC Brasil numa cidade da Califórnia. Como o caso da mulher que ironicamente vendia imóveis e que hoje mora no seu carro. "Meu Deus, o coração da América está sangrando", chora esta ex-corretora que perdeu os clientes, a moradia, e a própria dignidade. Segundo a reportagem, os banheiros públicos são fechados à noite no estacionamento, o que leva alguns a não beber nenhum líquido depois que chegam ao local porque não têm onde urinar. "Acho que ainda não vimos nem metade do que vai acontecer com este país", lamenta outra mulher que também transformou o carro em moradia.
Histórias como estas espantam porque vêm dos Estados Unidos. Se viessem da África, da China, ou mesmo daqui do Brasil, seriam apenas mais algumas entre tantas. Mas é isto que nos faz pensar e até sentir pavor. Porque ninguém está blindado a este tipo de situação – de gente que tinha tudo e agora encontra-se largado nas ruas. Deve ser a pior coisa do mundo não ter um lugar onde morar. Lembro de Jesus que reclamou: As raposas têm as suas covas, e os pássaros os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Mateus 8.20). Interessante que até nisto o Salvador se identifica, ele que veio para socorrer as pessoas da dívida dos pecados, e que prometeu: Não fiquem aflitos, na casa do meu Pai há muitos quartos, e eu vou preparar um lugar para vocês (João 14.1,2). A diferença é que Jesus privou-se do conforto da casa celestial sem ter nenhuma culpa, enquanto que nós aqui sofremos por irresponsabilidade própria, por querer dar o passo maior que a perna.
E se o assunto é ganância e suas conseqüências, vem à mente a advertência divina ao povo de Israel no tempo do profeta Amós: Por isso, vocês não vão morar nas casas luxuosas que construíram (Amós 5.11). O texto bíblico explica: vocês exploram os pobres, cobram impostos injustos, maltratam as pessoas honestas, aceitam dinheiro para torcer a justiça e não respeitam os direitos dos pobres. Chama atenção a contemporaneidade das palavras: “as ruas ficarão cheias de gente chorando” (5.16). Não quero dizer com isto que todos os que perdem as suas casas são gente má. Como nos terríveis furacões, maus e bons são afetados. No entanto, os motivos do quebra-quebra nos Estados Unidos estão evidentes.
São exemplos nesta bolha terrena onde tudo é instável. Mas são oportunidades para buscar o significado das palavras proféticas: Taparei as rachaduras das paredes e levantarei a casa que estava em ruínas, e ela ficará como era antes (Amós 9.11).

Marcos Schmidt

Pastor luterano